07 Dezembro 2018
"O pacote que chamamos corrupção inclui práticas ilegais e também alegais, que são aproveitamentos dos vazios da lei para conseguir benefícios que a lei talvez quisesse evitar. Encontram-se aí todas as práticas de comprar espaços nos meios de comunicação com o qual anulam certos debates”, destacou o especialista uruguaio, que apresentou no Chile a sua nova pesquisa.
A reportagem é publicada por El Ciudadano, 03-12-2018. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em conversa com a Radio y Diario Universidad de Chile, o acadêmico uruguaio Eduardo Gudynas comentou os principais conteúdos do seu novo livro “Extrativismos e corrupção: anatomia de uma íntima relação” no qual se aborda a relação entre o extrativismo e a corrupção na América do Sul.
Gudynas destacou que seu texto não é uma investigação policial na qual dá conta dos personagens envolvidos, ou os montantes de dinheiro transacionados nas principais operações de corrupção da região, mas remete a uma investigação dos pontos em comum que foram identificados nos diferentes casos.
“O que analisa são esses vínculos de qual é o papel da corrupção na nossa relação com alguns estilos de desenvolvimento que estão assentados sobre uma exploração muito intensiva da natureza”, explicou.
Nessa linha, Gudynas disse que “a mensagem do livro é que muitas das práticas que hoje conhecemos na mineração, petróleo ou agroindústria de exportação, ou no setor florestal ou pesca, a corrupção está presente por várias razões”.
O secretário executivo do Centro Latino-americano de Ecologia Social indicou que tal relação se gera porque com o dano ambiental que provocam os grandes projetos extrativistas, eles necessitam de negócios ilegais para serem apoiados, pois não fosse a influência do dinheiro, dificilmente seriam aprovadas iniciativas tão nocivas para o meio ambiente.
Ademais, comentou que também pode se gerar a corrupção para conseguir uma concessão de mineração ou petrolífera, e em outas situações é “para conseguir excedentes de dinheiro que alimentam redes de partidos políticos e práticas, sobretudo, eleitorais”.
Por outro lado, Eduardo Gudynas destacou que os meios de comunicação têm um papel importante nesses casos, pois somente serão aproveitados pelas grandes empresas para limpar sua imagem, e tendem a ocultar o real dano que ocorre nas comunidades e zonas naturais.
“O livro adverte que o pacote que chamamos corrupção inclui práticas ilegais e também alegais, que são aproveitamentos dos vazios da lei para conseguir benefícios que a lei talvez quisesse evitar. Encontram-se aí todas as práticas de comprar espaços nos meios de comunicação com o qual anulam certos debates”, comentou.
Frente a esse exercício de poder nos meios, Gudynas advertiu que os cidadãos têm um papel chave, pois pelas novas plataformas são eles que têm a possibilidade de transparecer os danos ambientais que ocorrem nos lugares mais distantes e que os meios tradicionais ocultam.
Adicionou que os meios somente segmentam os casos de corrupção dando conta somente do que ocorre em determinados partidos políticos, “passando pano”, no entanto, é uma prática da qual todos os setores participam.
Ademais, o secretário-executivo do Centro Latino-americano de Ecologia Social comentou que, embora os casos que ocorreram no Chile pareçam distantes dos casos de Brasil ou Argentina, isso não é bem assim, já que tem várias características comuns.
“No caso chileno o que aconteceu com o pagamento aos legisladores, depois o que aconteceu com o caso que a imprensa chamou de milicogate, e o outro que me impacta é o caso da reforma da Lei de Pesca, onde participou um legislador que, ademais, vinha do movimento sindical, esses casos também estão dentro do mais importante de todo o continente”, assertou.
Eduardo Gudynas indicou que essa relação entre extrativismo e poder se dá facilitada e potencializada pela grande quantidade de dinheiro que gera o trabalho de setores naturais, que ao serem tão rentáveis são muito atrativos para os empresários que não têm problemas em usar seus grandes lucros para assegurar o futuro de seus projetos, ainda quando isso se relacione com ilegalidades.
“O extrativismo é como o mel, porque se move tão grande quantidade de dinheiro que é um dos setores para onde vão aqueles que desejam se aproveitar dessas práticas. O ‘doce’ é muito grande, porque os níveis de excedentes são enormes, e por que é enorme? Porque, por exemplo, não se incorporam os custos econômicos do dano social ou ambiental, então, sobrando tanto dinheiro, é muito atrativo”, advertiu o especialista.
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A corrupção está “totalmente presente” no extrativismo latino-americano, afirma Eduardo Gudynas em novo livro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU