11 Novembro 2018
"O severo discurso do medo leva a metade dos estados comunitários a erguer barreiras físicas e virtuais", escreve Víctor Vargas Llamas, em artigo publicado por El Periódico, 09-11-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.
Muros de arame farpado. Muros de pedra e concreto. Muros por terra, mar e ar. Muros de medo, que nem sequer se veem, mas se fazem notar. A obsessão da Europa em se fortalecer e evitar a chegada massiva de imigrantes se materializa na construção de cerca de 1.000 quilômetros de barreiras, físicas e virtuais. Quase três décadas depois da queda do Muro de Berlim e do crescimento das esperanças de um mundo que não voltasse a sofrer as sequelas da segregação, o Velho continente parece mais decidido do que nunca a blindar seu território soberano.
Paralelo a uma política internacional dominada pela desconfiança e pelo temor diante de uma ameaça exterior em forma de pessoas, fomentam-se as bases dessa "Europa fortaleza", descrita no estudo Levantando muros, realizado por Ainhoa Ruiz Benedicto e Pere Brunet e impulsionado pelo Centre Delàs d’Estudis per la Pau, o Transnational Institute e Stop Wapenhandel. "Os refugiados são comparados a criminosos para justificar a adoção de medidas de controle e vigilância com os que protegem o movimento de pessoas", destaca Ruiz Benedicto.
A análise destaca que a Europa passou da posse de dois muros na década de 90 para uma quinzena deles, registrada no ano passado. E destaca o ano de 2015 no calendário como um período chave para entender esta escalada na estratégia de blindagem do continente. Só nesse ano foram erguidas sete novas barreiras. Quase a metade dos 28 estados membros da União Europeia reforçaram suas delimitações territoriais: Espanha, Grécia, Hungria, Bulgária, Áustria, Eslovênia, Reino Unido, Letônia, Estônia e Lituânia. A essa lista se soma a Noruega, fora da organização comunitária, mas membro do espaço Schengen. Nessa bancada, destacam-se a Espanha e a Hungria, que levantaram muros para controlar migrações, assim como a Áustria e o Reino Unido, que delimitaram o espaço em suas fronteiras compartilhadas com países do espaço Schengen. A Eslováquia também optou por esta medida, no seu caso com fins de segregação racial.
No contexto dessa exuberância defensiva devem ser contabilizadas também as barreiras marítimas, especialmente no Mediterrâneo. O relatório põe o foco no sistema comunitário em alto mar para evidenciar que a maioria dessas operações têm tido como objetivo principal o impedimento e a luta contra a criminalidade, "mas não o resgate de pessoas". "Só uma das sete operações marítimas da União Europeia, a do Mare Nostrum, coordenada pelo Governo italiano, incluiu as organizações humanitárias em sua frota, mas acabou substituída pela operação Triton, com um orçamento menor", especifica Ruiz Benedicto.
E para culminar a contagem dessa logística ultra-protetora, temos os muros mentais, aqueles que não podem ser apreciados, mas vão silenciando o imaginário coletivo nas costas da narrativa do medo difundidas pelos partidos de extrema direita. Formações políticas em ascensão, que apontam os imigrantes como ameaças potenciais para o equilíbrio e o bem-estar futuro das sociedades nativas. Já são 10 os estados da União Europeia que têm partidos xenófobos com presença representativa no panorama político local, o que lhes garantiu no mínimo meio milhão de votos em pleitos eleitorais nos últimos oito anos.
Na sequência desta tendência, justifica-se a aparição de programas de restrição da circulação de pessoas e daqueles que se centram no recolhimento de dados biométricos. Informação que engrossa as bases de dados do EURODAC (o centro europeu de controle de impressões digitais para identificar os solicitantes de abrigo e os imigrantes irregulares), e que é utilizada no estabelecimento de "pautas e padrões dos movimentos de pessoas". Aumentam as suspeitas sobre o recém-chegado, o desconhecido, que neste cenário passa a se converter em uma ameaça. O relatório põe o foco em como se fomenta a sensação de insegurança, a irrupção do "medo".
A situação ideal para legitimar uma série de obstáculos "sociais, políticos e físicos" acoplados a uma engrenagem de políticas xenófobas, que se forem garantia de algo é de consolidar "problemas estruturais de violência global e desigualdade econômica". "A extrema direita manipula a opinião pública para criar temor e receios irracionais em relação às pessoas refugiadas – revelam Brunet e Ruiz Benedicto. Se estabelecem, assim, muros mentais nas pessoas que, mais adiante, exigirão a construção de muros físicos”.
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Europa já levantou 1.000 km de muros contra a imigração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU