16 Novembro 2017
Na manhã de sexta-feira, o jornal alemão Der Tagesspiegel publicou os nomes e detalhes de cerca de 33.293 pessoas que morreram tentando chegar à Europa em busca de refúgio.
A informação foi publicada na imprensa: 48 páginas com letras minúsculas, com o título marcado de "A Lista".

Imigrantes sírios tentando atravessar barreiras colocadas para impedir a entrada de refugiados. Foto: Jmersina
A reportagem é de Colleen Dulle, publicada por América, 13-11-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
A primeira entrada data de 1993, quando Kimpua Nsimba, um homem de 24 anos, do Zaire (agora República Democrática do Congo), foi encontrado enforcado no banheiro de um centro de detenção na Grã-Bretanha. Nsimba havia sido detido ao pedir asilo, mas ninguém falou com ele durante os quatro dias em que esteve preso, porque o centro não tinha nenhum intérprete de Lingala. Sua morte foi considerada suicídio.
Muitos dos identificados eram jovens, de 20 a 25 anos, vindo de vários lugares. Lendo a lista, consegue-se traçar a erupção dos conflitos ao longo dos anos em picos em certos países de origem. Em 1999, por exemplo, 108 pessoas morreram ao fugir de Kosovo durante a guerra.
A lista também revelou crises menos conhecidas. Por exemplo, 160 pessoas do Senegal afogaram-se em março de 2007. Eles fugiam de uma região onde uma em cada 12 pessoas tinha febre suína e onde foi travado um conflito sangrento entre o governo e um grupo separatista por 25 anos.
Meus colegas de trabalho germanófonos (eu não falo alemão) sentaram-se juntos, traduzindo entradas da lista em voz alta, enquanto eu escutava. Eles mencionaram um cego de 30 anos, do Mali, que foi atingido por um raio enquanto andava em cima de um trem para a França. Disseram que 13 mulheres e sete crianças anônimas morreram quando 200 pessoas que estavam em um navio transportando 500 refugiados caíram no mar.
Há também Veronique, do Congo, que se afogou entre Mali e a Espanha; o corpo de seu filho Samuel, de 5 anos de idade, foi encontrado duas semanas depois.
E também Talat Abdulhamid, de 36 anos, e Hardi Ghafour, de 29, que fugiram do Iraque e morreram de frio depois de caminhar por 48 horas nas montanhas entre a Turquia e a Bulgária.
Neste ano, um homem — de nome, idade e país de origem desconhecidos — foi filmado a bordo de um barco de refugiados e, mais tarde, resgatado. Ele estava viajando da Líbia para a Itália. É possível que tenha sido morto por uma das milícias antirrefugiados que monitoram a rota.
Num primeiro momento, meus colegas e eu tentamos entender as histórias: este devia estar fugindo da guerra; esta devia estar escapando dessa epidemia. Depois percebemos que algumas linhas de fonte de tamanho seis indicavam centenas de mortes em 2017.
Em uma forte declaração editorial, o Der Tagesspiegel descreveu as pessoas da lista como "requerentes de asilo registrados, refugiados e imigrantes que morreram por causa das políticas restritivas da Fortaleza Europa".
A "Fortaleza Europa" foi um nome usado na época da guerra mundial para designar o território ocupado pelos nazistas. Hoje, tem sido reafirmado como um termo positivo por aqueles que favorecem políticas restritivas de imigração na Europa e como um termo pejorativo pelos que se opõem a tais políticas.
A lista foi publicada no dia que marca o aniversário da queda do muro de Berlim, um aceno aos muros que excluem os imigrantes e refugiados que muitas vezes o Papa Francisco diz que precisam ser derrubados.
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Depois de 33.000 mortes de imigrantes em 24 anos, será que a "Fortaleza Europa" continuará construindo muros? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU