Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 25 Setembro 2018
A violência contra a oposição segue constante na Nicarágua. No domingo, 23-09-2018, uma manifestação pela liberdade dos presos políticos terminou com dezenas de presos e desaparecidos e a morte de Matt Andrés Romero, um adolescente de 16 anos. De acordo com o governo foram os próprios manifestantes que causaram o tumulto. O adolescente foi morto por tiros de AK-47, arma relacionada aos grupos paramilitares.
A marcha “Somos a voz dos presos políticos” foi organizada para denunciar as prisões arbitrárias promovidas pelo governo nicaraguense. Os organismos de direitos humanos contabilizam pelo menos 500 presos políticos no país. Na sexta-feira, 21-09, as mães de presos organizaram outra manifestação, que também acabou com agressões.
Ambas as manifestações foram autoconvocadas e pacíficas. A família de Matt Romero contou que o adolescente saiu de casa apenas com uma bandeira azul e branca e uma garrafa de água. A manifestação que iniciou pela manhã de domingo foi confrontada com pedras, tiros e rojões. O conflito entre os manifestantes e os paramilitares orteguistas foi dispersado pela Polícia Nacional com bombas de gás. A polícia publicou uma nota oficial acusando os manifestantes de provocarem as famílias locais, que reagiram à manifestação “chamada pacífica”, mas que atacaram moradores e famílias com armas de fogo.
Do lado paramilitar não houveram feridos, nem mortos, nem presos. Os conflitos que iniciaram em abril de 2018, já somam 512 mortos, conforme dados da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos – ANPDH. Além disso, o informe do organismo apresenta mais de 4 mil feridos, desses 103 com lesões permanentes e 1428 sequestrados por grupos paramilitares. A ANPDH desde agosto está exilada na Costa Rica, depois de perseguições do governo ao trabalho da associação.
Nos protestos de domingo, uma igreja acolheu os manifestantes. Os ataques ocorreram ao mesmo tempo que se celebrava uma missa na paróquia Nossa Senhora das Américas. O pároco interrompeu a missa e tocou os sinos para chamar a população da rua para se refugiar na paróquia.
O cardeal Leopoldo Brenes se manifestou insistindo que o governo de Ortega-Murillo voltem ao diálogo. “Peçamos a nosso bom Deus que ilumine nossos corações para que em um momento determinado possamos sentar e conversar, mas que não seja quando estejamos no precipício”, afirmou em entrevista ao jornal El Nuevo Diario, da Nicarágua.
O cardeal Brenes também manifestou sua preocupação às sanções aprovadas pelo senado dos Estados Unidos. A medida que congelaria fundos enviados para o país, segundo Brenes, “atacariam aos mais pobres”.
No twitter, dom Silvio Báez, presidente da Conferência Episcopal Nicaraguense, manifestou seu repúdio aos seguidos ataques de Ortega. “Se engana quem pensa que semeando repressão hoje poderá colher paz amanhã. Isso nunca termina bem. Basta de agredir e matar os nicaraguenses!”, afirmou Báez.
Se engaña quien piensa que sembrando represión hoy podrá cosechar paz mañana. Esto nunca sale bien. ¡Basta ya de agredir y matar a los nicaragüenses!
— Silvio José Báez (@silviojbaez) 23 septembre 2018
A Organização dos Estados Americanos também voltou a se manifestar contra o regime de Ortega. Luis Almagro, secretário geral da OEA, escreveu nas redes sociais exigindo “justiça e liberdade a todos os presos políticos”.
Nos EUA, onde ocorrerá a 73ª Assembleia Geral da ONU, com a participação de Daniel Ortega, depois de 10 anos de ausência, protestos estão sendo marcados em todo o país. Em Nova Iorque, onde ocorre a Assembleia Geral, com a abertura nesta terça-feira, 25-09, o Comitê SOS por Nicarágua prepara uma manifestação que atraia os olhares do mundo inteiro. “Aproveitaremos a presença dos meios de comunicação internacionais para denunciar ao mundo o massacre contra o povo da Nicarágua por esse criminoso [Daniel Ortega]”, afirmou Juan Sanchez, membro da organização nos EUA.
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Nicarágua. Adolescente é morto em marcha pela liberação de presos políticos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU