24 Setembro 2018
"A sobrevivência das faculdades e universidades dependerá de sua capacidade de se adaptar às mudanças das condições de maneira oportuna. Sua sobrevivência como instituição jesuíta dependerá do quão estão comprometidas com uma missão muito distinta. Dependerão da abertura de novos, diferentes e provavelmente menores grupos de estudantes e de suas famílias para investir em tal visão", escreve Michael C. McCarthy, S.J., vice-presidente para integração e planejamento, e professor associado de teologia na Fordham University, em artigo publicado por America, 21-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
A literatura distópica nunca esteve no topo da minha lista de leitura. Recentemente tenho assistido a uma popular série da Netflix adaptada de um romance distópico de ficção científica, Altered Carbon. Gosto de pensar que representa a próxima etapa da minha formação de 35 anos como jesuíta.
Fui treinado para ler Homero em Oxford e Augustine em Notre Dame. Ensinei clássicos e teologia em duas universidades jesuítas, no Vale do Silício e em Nova York. No meu atual emprego como gestor, tenho visto pessoas muito mais preocupadas com o futuro do que interessadas no passado. A literatura distópica se tornou um sinal dos tempos, e precisamos levar isso a sério.
Autores de distopias imaginam um futuro em que nossos medos mais profundos se tornem realidade. Instituições falham. Líderes nos quais confiamos nos deixam decepcionados. Soluções para grandes problemas sociais não dão certo. Podemos estar entusiasmados com carros que não precisem de motorista, mas tememos a perspectiva de vigilância, aumento da desigualdade e (como a professora Sherry Turkle, colocou no título de um de seus livros) estar "sozinhos e juntos ao mesmo tempo" [Alone Together, ndt].
Nos últimos anos, tenho me surpreendido com o quão temerosos e desconfiados alguns universitários se tornaram. Por mais inteligentes, generosos e trabalhadores que sejam, há uma profunda vulnerabilidade e uma desconfiança habitual nos valores e nas autoridades que deram confiança e orientação às gerações anteriores - um senso de cidadania e de compromisso religioso. Como um colega apontou, em relação àqueles que cresceram na era das mídias sociais, “o nariz deles se tornou mais aguçado do que a expectativa da verdade”.
Os dados clínicos trazem essa fragilidade psicológica. Em 2016, por exemplo, o National College Health Assessment relatou que quase dois terços dos estudantes entrevistados se queixaram de sentir ansiedade ou desesperança nos 12 meses anteriores. Esse número subiu 50% em relação ao que era cinco anos antes.
Neste contexto, a educação jesuíta tem uma voz e responsabilidade única para projetar confiança no futuro. Não apenas nossos alunos e famílias precisam do que as instituições jesuítas podem oferecer, mas também o mundo inteiro. Precisamos oferecer alternativas persuasivas às narrativas distópicas que moldam nossa psique pessoal e institucional.
Há quase 20 anos, Joseph A. O'Hare, SJ, ex-presidente da Fordham University e editor da revista America, fez uma palestra em Filadélfia chamada “Quais são as probabilidades do ensino superior jesuíta sobreviver na América?” Ele não deu uma resposta definitiva à pergunta, mas insistiu que qualquer futuro que valesse a pena investir precisava ser fundamentado nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio. Mera sobrevivência institucional não pode ser uma meta para aqueles treinados em uma disciplina espiritual que os torna livres para buscar o “bem maior”.
Em 1999, o padre O'Hare não poderia prever todas as condições que tornam a sobrevivência institucional uma questão real agora. Mas ele entendeu como a leitura de Inácio nos fornece uma capacidade de discernimento para que possamos navegar entre as distopias e utopias particulares que nos fascinam hoje. Os Exercícios Espirituais, em outras palavras, nos permitem inspirar, mas também ser realistas, adaptáveis às necessidades particulares de nossos tempos e reagir ao nosso melhor palpite sobre o que o futuro - mesmo um futuro em rápida mudança. Eles não se baseiam em um otimismo ingênuo, mas em um realismo esperançoso que responde à realidade do pecado, morte e fracasso sem desespero, que reconhece os medos genuínos sem sermos escravizado por eles.
Mais importante, eles nos ajudam a fundamentar nossos alunos num conjunto de virtudes que continuarão a contribuir para o mundo por séculos.
Em sua essência, o negócio da educação jesuíta é o futuro da humanidade, mas o que o futuro reserva é incerto, e o seriado Altered Carbon representa uma visão particular que deixa todos ansiosos.
Se passando mais de 300 anos no futuro, a série de televisão imagina um mundo onde a consciência individual é gravada digitalmente em forma de disco implantadas nas costas de nossos pescoços. Os corpos humanos se tornaram meras entradas que podem aceitar qualquer identidade pessoal. A inteligência artificial pode fornecer o preenchimento perfeito das necessidades, apetites e até gostos sexuais de qualquer indivíduo - o que, ironicamente, não requer nenhuma interação corporal.
Tais cenários podem parecer fantásticos, mas certos elementos são reais o suficiente. A mercantilização dos corpos humanos lembra estranhamente o tráfico de pessoas e o status de tantos refugiados em todo o mundo. A satisfação do desejo sexual através de um eu digital não é tão absurda, dada a alta incidência de dependência na cultura contemporânea à pornografia na Internet, jogos e câmaras virtuais que parecem tornar as relações reais menos valiosas. Querendo ou não, nossos descendentes daqui a séculos serão capazes de separar a consciência pessoal de um corpo específico. A questão do que significa ser humano não é de forma alguma inerte.
Embora não seja exatamente literatura distópica, outro gênero de escrita destaca a condição precária das instituições acadêmicas contemporâneas. Veja alguns dos títulos recentes:
“Poison in the Ivy”; “Excellent Sheep: The Miseducation of the American Elite and the Way to a Meaningful Life”; “Academically Adrift: Limited Learning on College Campuses; and Excellence Without a Soul” (Hera Venenosa; Ovelha Branca: A Deseducação da Elite Americana e a Jornada para uma Vida com Significado; Academicamente à Deriva: O Aprendizado Limitado da Faculdade; e, Excelente mas Sem Alma, em tradução livre).
Todos sinalizam profunda ansiedade social e compõem uma indústria caseira para editores que atendem a uma variedade de gostos. Há também versões religiosas em livros como o “Catholic Higher Education: A Culture in Crisis” (Ensino Superior Católico: Uma Cultura em Crise, em tradução livre).
A principal mensagem desses livros é que o ensino superior está quebrado, embora os diagnósticos e a solução variem. Para alguns, o problema é principalmente econômico. O aumento do custo das mensalidades leva a uma dívida incapacitante para estudantes universitários e reconhecemos que o sistema é financeiramente insustentável. Para outros, a questão é que perdemos nossa alma e as faculdades perpetuam a desigualdade racial ou econômica. Também há uma busca do status de elite, onde os acadêmicos não atendem a uma escala maior de valores cívicos ou pessoais. As Instituições religiosas se tornaram desatreladas de sua inspiração e identidade fundadoras é outra teoria. Há até previsões apocalípticas de que 50% das faculdades e universidades irão fechar ou vão à falência nos próximos 15 anos e que a educação on-line irá perturbar radicalmente o modelo de negócios do ensino superior.
Os problemas são reais e não vão sumir de uma hora para outra. Não podemos ignorar essa situação. No entanto, propostas para “consertar” o problema da educação superior podem ser amplamente utópicas, já que diferentes grupos propõem uma variedade de soluções certeiras. Para alguns (especialmente nos conselhos administrativos), investir em educação on-line ou em melhores programas de atletismo é a solução. Para outros (especialmente nas faculdades) tornar-se “menos corporativos”, acabar com o inchaço administrativo, reduzir as cargas de ensino e investir em pesquisa é a resposta.
No entanto, com muita frequência, tanto o problema diagnosticado quanto as “soluções certeiras” se tornam fixações que refletem uma variedade de necessidades de ego, em vez de um compromisso com uma visão compartilhada.
Interesses privados excluem o compromisso de um bem comum. Seja um programa de futebol, as ideias de um empreendedor de negócios, os interesses limitados de um acadêmico ou a ambição institucional de um aluna proeminente. Muitas vezes assumimos mudanças sem considerar a verdadeira questão: qual é o objetivo do ensino superior? Na falta de liderança que leva a um consenso sobre essa questão, estamos sem rumo em meio às ondas das distopias e utopias que evocamos em particular.
Se narrativas de medo são vendidas, nossa contrapartida deve ser de urgência moral.
Mais ou menos na mesma época em que os estudantes que ingressaram na faculdade no outono, o então superior geral da Companhia de Jesus, Peter-Hans Kolvenbach, enfatizou uma tensão central que enfrenta as faculdades e universidades jesuítas. Em uma palestra que ele proferiu na Universidade de Santa Clara, em 2000, apontou que as faculdades e as universidades sofrem uma pressão de mercado. Os estudantes (e seus pais!) querem aprender as habilidades técnicas e profissionais necessárias para ter sucesso em uma economia em rápida mutação. Por outro lado, eles também querem e merecem mais do que “sucesso mundano”.
O Padre Kolvenbach argumentou que o objetivo de nossas universidades moram naquilo que nossos alunos se tornam. Obviamente, a maioria das escolas está interessada em saber quem são seus alunos, mas há ressonâncias mais profundas em seu discurso. Subjacente à sua reivindicação está um reconhecimento informal de uma convicção religiosa que motivou a educação jesuíta desde o início: que uma pessoa humana é fundamentalmente um mistério vivo e irrepetível.
Para Santo Inácio, um ser humano é constantemente criado por Deus em suas decisões, desejos e relacionamentos concretos em que praticamos nossa liberdade. Um educador está presente toda vez que um jovem se pergunta o que ele deve fazer na vida, ou como se relacionar socialmente com os outros. Quando atendemos a esse mistério, estamos cumprindo o que Santo Inácio viu como principal objetivo da própria Companhia de Jesus: um cuidado com as almas.
A reverência pelo mistério da pessoa humana fundamenta todo o empreendimento da educação jesuíta, porque os educadores inacianos também acreditam que ela se abre para um mistério maior que os jesuítas chamam de Deus. Não presumimos que todos os nossos alunos ou colegas usem linguagem teológica ou se identifiquem como religiosos.
Nós frequentemente aderimos a frases abreviadas e mais neutras, como "pessoas por completo", que sugerem que nossos alunos são constelações de capacidades que excedem em muito sua capacidade de conter os conjuntos de conhecimentos ou suas próprias habilidades.
Aqueles que seguem a tradição de Santo Inácio também apostam que, se apoiarmos e desafiamos um jovem a se desenvolver como uma “pessoa por completo”, estaremos cultivando líderes para o futuro e o bem-estar do mundo. Novamente, tendemos a usar palavras como justiça, solidariedade ou pessoas, para comunicar nossa crença de que a educação deve, em última análise, contribuir para o bem mais amplo da humanidade.
Como resultado dessa visão, no entanto, o empreendimento educacional é concebido como algo sacrossanto. E, embora o contexto institucional desse empreendimento seja contencioso e exija de fato inovação, decisões inteligentes e modelos de negócios sustentáveis, a finalidade do ensino superior jesuíta nos Estados Unidos não pode ser simplesmente permanecer os negócios.
Deve continuamente reafirmar seu compromisso com a visão fundamental do que é uma pessoa. Deve criar condições onde seja menos provável que a identidade humana possa ser digitalizada e transferida para outros corpos - como o que vemos em Altered Carbon, onde o que conhecemos como humanidade, em qualquer sentido significativo, desaparece.
Qualquer pessoa que tenha visto o isolamento, a desconfiança e a ansiedade de muitos jovens saudáveis reconhecerá que existe um senso de urgência maior do que poderíamos imaginar.
Faculdades e universidades jesuítas claramente precisam se adaptar às novas condições para cumprir sua missão. O padre Kolvenbach observou que o que “pessoas por completo” precisam no século XXI é diferente do que precisavam na Contra-Reforma, na Revolução Industrial ou mesmo no século XX. Precisamos constantemente renovar uma visão acadêmica que fala aos nossos tempos, mesmo quando insiste em valores que não passarão.
Um livro recente do presidente da Northeastern University, Joseph E. Aoun, estabelece um quadro que pode ser adaptado às premissas básicas da educação jesuíta. “Robot-Proof: Higher Education in the Age of Artificial Intelligence” (À prova de robôs: o ensino superior na Era da Inteligência Artificial, em tradução livre) começa com uma pesquisa recente dos piores medos do público dos Estados Unidos. Depois do terrorismo e de um ataque nuclear, os americanos classificam a tecnologia como o que mais temem. Especificamente, em 7 pontos percentuais, tememos que os robôs nos substituam no trabalho mais do que a própria morte.
O relatório após o relato de que o medo, como o estudo da McKinsey em 2015, sugeriu que 45% do trabalho que os humanos fazem atualmente poderia ser substituído pela automação, simplesmente pela adaptação das tecnologias atuais. Um relatório de 2016 sobre “O Futuro dos Empregos”, do Fórum Econômico Mundial, projetou que 65% das crianças que entram no ensino fundamental vão acabar trabalhando em empregos que agora não existem.
As implicações para o ensino superior são significativas. Para Aoun esse quadro do futuro deveria nos estimular a reimaginar nosso trabalho e renovar nossa visão acadêmica a não reagir em pânico ou defesa. Precisamos saber o que os humanos podem fazer e a inteligência artificial não pode. O apelo é dar apoio aos nossos futuros alunos, não apenas nos anos em que estão na escola, mas a longo prazo. A tarefa é apoiar e nutrir a criatividade humana, uma vez que a capacidade de ser criativo (em oposição ao processamento rápido de informações, que máquinas sempre farão melhor) será o principal impulsionador da atividade econômica no futuro.
Diante do florescente campo da robótica, Aoun inventa uma nova disciplina, "humanística", com o objetivo de "nutrir as características únicas de criatividade e flexibilidade de nossa espécie". Esse objetivo não é novidade. O ideal jesuíta de eloquência perfeita é a capacidade retórica de adaptar uma mensagem a uma audiência particular de modo a criar novas formas de compreensão e relacionamento.
O que Aoun chama de "alfabetização humana" faz parte da tradição jesuíta e sempre foi complementado com outras formas de alfabetização, mais recentemente aquelas relacionadas a dados e tecnologia. Além disso, nos últimos anos, as faculdades e universidades jesuítas promoveram a aprendizagem experiencial ativa, que enfatiza o envolvimento global e a capacidade de operar em diferentes contextos culturais.
As faculdades e universidades jesuítas podem precisar apresentar um argumento mais forte, alinhando mais claramente a programação acadêmica com a relevância percebida na carreira. Sinto profunda simpatia por aqueles que se preocupam com um impulso utilitário que considera a educação nada mais que uma mercadoria. Temos que resistir fortemente a essa tendência.
No entanto, se não formos capazes de aliviar tais receios e de recebermos um investimento importante nas propinas, dificultando o acesso ao emprego, corremos o risco de perder a confiança pública para sempre.
Mesmo uma visão acadêmica que prepara nossos alunos para qualquer carreira em qualquer economia, não cumpriria a missão de uma universidade jesuíta se não levasse sua principal responsabilidade ética para o mundo. Em termos clássicos, o fundamento da ética é uma concepção de como o compromisso com os bons hábitos levam a uma boa vida. Se estamos ansiosos com os vários cenários distópicos, a melhor maneira de lidar com nosso medo é nos prepararmos para fazer boas escolhas agora. É a melhor maneira de aprender como é dentro de uma comunidade onde a formação da pessoa pode ser discutida e onde exemplos podem ser encontrados.
Em seu popular livro The Road to Character (O Caminho ao Caráter, em tradução livre) o colunista do New York Times David Brooks lamenta que “muitos de nós tenhamos estratégias mais claras sobre como alcançar o sucesso na carreira do que sobre como desenvolver um caráter profundo”. Um cuidado com as almas, uma educação jesuíta, ao contrário, tem múltiplas estratégias para desenvolver o caráter.
Embora os acadêmicos sejam frequentemente reticentes em fazer fortes afirmações normativas sobre o que constitui um bom caráter, muitos membros do corpo docente e funcionários das instituições jesuítas são movidos e de fato liberados pelo ethos que continua situando a excelência intelectual dentro do contexto mais amplo do desenvolvimento pessoal.
Ser uma pessoa de caráter é se auto compreender em relação com os outros. Nossa identidade é formada por uma ampla rede de contatos com bolsistas, familiares, amigos e colegas de trabalho. Aristóteles disse que somos por natureza animais sociais e que, portanto, uma pessoa sem comunidade é sub humana ou está acima da humanidade. Mesmo que muitas vezes pensemos em nós mesmos como indivíduos racionais e de nossas escolhas como particulares, a verdade é que nossas ações morais e nosso próprio florescimento ocorrem dentro de uma rede de relacionamentos.
A teórica política do século XX Hannah Arendt foi destituída de sua cidadania alemã depois de fugir do regime nazista e passou 18 anos apátrida. Famosamente, ela observou que “o mundo não encontrou nada de sagrado na nudez abstrata de ser humano”. Arendt observou que é apenas a graça aparentemente aleatória de amizade e simpatia pessoal que garante os direitos humanos de outra pessoa. Mesmo em uma época de ansiedade, não devemos ver as instituições acadêmicas como meros motores de produção. A construção de comunidades é complicada, demorada e cara. Ainda assim, continua sendo um investimento crucial.
O uso do jargão jesuíta se tornou uma prática comum no branding de escolas secundárias, faculdades e universidades fundadas pela Companhia de Jesus. Eu ficaria surpreso, por exemplo, se uma única instituição jesuíta não tivesse alguma referência aos magis em seus esforços de marketing. Em uma única palavra, o termo pode inspirar o mais amplo conjunto de ambições. O termo latino “mais” talvez abarque o significado de magis. É talvez aquilo que nos lembra da qualidade aspiracional do lema das Olimpíadas (“mais rápido, mais alto, mais forte”), mas sem referência a qualquer ação ou substância em particular. É simplesmente "mais". O site de uma instituição jesuíta explica que se trata de "fazer mais, ser mais e alcançar “mais” do que se pensava inicialmente ser possível".
Talvez seja isso. Mas suspeito de que Santo Inácio não concordaria. Em seus Exercícios Espirituais, Inácio expõe o princípio pelo qual todas as escolhas devem ser feitas. Nosso propósito como humanos é “louvar, reverenciar e servir a Deus e, desse modo, salvar nossa alma”. O restante, diz ele, deve ser usado na medida em que conduz ao cumprimento desse propósito. Portanto, não devemos favorecer uma vida longa em vez de uma vida curta, honra em vez de desonra e assim por diante. Pelo contrário, todo o nosso desejo "deve ser mais voltado [magis...conducant] para aquilo que fomos criados a fazer".
A ideia de ‘magis’ aborda os critérios para fazer escolhas judiciosas e tomar decisões difíceis diante de bens limitados e contingentes. A questão é o que é “mais propício” para cada indivíduo. Nas Constituições da Companhia de Jesus, Inácio utiliza uma lógica semelhante.
Diante de uma variedade de pedidos para que os jesuítas assumam ministérios, ele propõe um conjunto de critérios para determinar os lugares para onde devem ser enviados. Inácio aconselha que “devemos manter o maior serviço de Deus e o bem universal diante de seus olhos como norma para se manter no rumo certo”. Novamente, magis se refere ao bem mais universal que justificaria uma escolha em detrimento de outra.
Nos próximos anos, as faculdades e universidades jesuítas, bem como a Companhia de Jesus nos Estados Unidos, enfrentarão decisões difíceis. Para a pergunta feita pelo padre O'Hare há 20 anos (“Quais são as chances de que o ensino superior jesuíta sobreviva na América?”), Eu apostaria que são altas, se boas decisões forem tomadas agora. A sobrevivência dessas faculdades e universidades dependerá de sua capacidade de se adaptar às mudanças das condições de maneira oportuna. Sua sobrevivência como instituição jesuíta dependerá do quão estão comprometidas com uma missão muito distinta. Dependerão da abertura de novos, diferentes e provavelmente menores grupos de estudantes e de suas famílias para investir em tal visão.
Na medida em que a Companhia de Jesus enfrenta decisões sobre permanecer comprometida com instituições e de onde concentrar seus próprios recursos limitados, minha esperança é que a liderança jesuíta - junto com os jesuítas e seus colegas comprometidos - tenha a liberdade de discernir cuidadosamente o que, entre muitas possibilidades, é “mais propício” para o qual a Companhia de Jesus foi chamada a existir.
É necessário agir com ousadia e coragem.
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O futuro incerto da educação jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU