Incluir leigos em estruturas de autoridade é "indispensável" para sinodalidade, afirma Comissão Teológica do Vaticano

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06 Mai 2018

Uma Comissão do Vaticano responsável por ajudar a Igreja Católica a estudar questões doutrinárias salientou a importância de incluir os leigos nas várias estruturas de autoridade da instituição global. Em um novo documento aprovado pelo Papa Francisco, a Comissão aponta que o envolvimento dos leigos é "indispensável" na tomada de decisões.

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 04-05-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

Em uma longa reflexão com propósito de aprofundar a compreensão da Igreja sobre sinodalidade, a Comissão Internacional Teológica diz que o conceito teológico é manifestado "na participação ativa de todos os membros [da Igreja]”. O documento foi publicado no site do Vaticano em italiano no dia 3 de maio.

"A eclesiologia do povo de Deus sublinha a dignidade comum e a missão de todos os batizados, no exercício da riqueza de seus carismas, de suas vocações, de seus ministérios", escreve a Comissão no documento, intitulado "La Sinodalità, Nella Vitta e Nella Missione Della Chiesa” (A Sinodalidade, na Vida e na Missão da Igreja).

"A participação dos fiéis leigos é essencial", afirma no texto. "eles são a imensa maioria do povo de Deus e temos muito a aprender com a sua participação em diversas expressões da vida."

"Consultar a eles é indispensável para a introdução de processos de discernimento nos quadros das estruturas sinodais", prossegue. "devemos, portanto, superar os obstáculos representados pela falta de formação e de espaços reconhecidos em que os fiéis leigos podem se expressar e agir."

Sinodalidade é um conceito teológico que Francisco tem se referido muitas vezes durante seu papado de cinco anos. Em 2015, Ele descreveu como a maneira pela qual as pessoas na Igreja aprendem e escutam umas às outras e tomam a responsabilidade compartilhada por proclamar o Evangelho.

Francisco também destacou a importância do Sínodo dos Bispos, instituição criada por Paulo VI ao final do Concílio Vaticano II (1962-65), que permite que os bispos venham a Roma todos os anos para reuniões de uma semana de duração para discutir questões enfrentadas pela Igreja.

No documento, que se desenrola em quatro capítulos, a Comissão Teológica chama sinodalidade de "modus vivendi et operandi da Igreja-Povo de Deus que se manifesta concretamente e realiza sua comunhão ao se caminhar junto [e] ao se reunir em assembleia. "

Na primeira metade, o documento da Comissão foca sobre a importância da sinodalidade na história da Igreja. Depois, oferece orientações pastorais para a Igreja de hoje. Suas reflexões incluem 170 notas de rodapé que abrangem a história completa da Tradição católica: dos escritos de Inácio de Antioquia, ao Concílio de Sárdica; do I e II Concílio Vaticano, aos papas Pio XII, Paulo VI, João Paulo II e Francisco.

'Sinodalidade expressa a figura da Igreja que brota do Evangelho de Jesus'

Antes de aprofundar a questão, a Comissão faz uma distinção entre a sinodalidade e o conceito de colegialidade entre os bispos. Enquanto sinodalidade envolve todos os membros da Igreja, o documento postula que colegialidade "é a forma específica na qual a sinodalidade eclesial se manifesta e se realiza através do Ministério dos Bispos."

A Comissão destaca também os "frutos de renovação (...) ricos e valiosos"  do Vaticano II, que incluíam a "promoção da comunhão eclesial, da colegialidade Episcopal, da consciência e da abordagem sinodal".

"No Concílio, muitos passos continuam a ser tomados para completar a direção traçada pelo Conselho", afirma.

"Daí o limiar da novidade que o Papa Francisco convida a atravessar", continua. "No caminho traçado pelo Vaticano II e seguido por seus antecessores, [Francisco] salienta que sinodalidade expressa a figura da Igreja que brota do Evangelho de Jesus e que é chamado a encarnar hoje na história, na fidelidade criativa à Tradição."

Depois de traçar a história da sinodalidade na Igreja na primeira metade do documento, a Comissão oferece uma descrição em três partes do conceito como uma "dimensão constitutiva da Igreja".

Como parte dessa definição, a Comissão diz que a sinodalidade é "o estilo peculiar que caracteriza a vida e a missão da Igreja" e é expressa nos níveis local, regional e universal com estruturas consultivas "ao serviço do discernimento autêntico (...) convocadas para identificar direções a serem tomadas para a escuta do Espírito Santo.

Em seu terceiro capítulo, o documento fala sobre o envolvimento dos leigos na sinodalidade, se concentrando em como efetivar o conceito dentro das estruturas da Igreja. A Comissão diz ainda que a participação de membros de ordens religiosas também é importante para a sinodalidade.

"O princípio da co-essencialidade entre os dons hierárquicos e carismáticos na Igreja também deve ser valorizado, com base no ensino do Concílio Vaticano II", afirma. "Isto implica o envolvimento de comunidades de vida consagrada, de movimentos e de novas comunidades eclesiais na vida sinodal da Igreja. Todas estas realidades (...) podem oferecer experiências significativas."

Em sua conclusão, o documento aponta cinco "linhas fundamentais de orientação na ação pastoral" para a criação de uma Igreja mais sinodal:

  • Ativação, a partir da Igreja local e em todos os níveis, da circularidade entre o ministério eclesial [e] a participação e a co-responsabilidade dos leigos;
  • Integração entre o exercício da colegialidade e da sinodalidade experimentados por todo o povo de Deus como uma expressão de comunhão entre as Igrejas locais na Igreja universal;
  • Exercício do ministério petrino da unidade e orientação da Igreja universal por parte do Bispo de Roma (...) em sinergia com o Ministério colegiado dos bispos e o caminho sinodal do Povo de Deus;
  • Abertura da Igreja Católica para as outras Igrejas e Comunidades Eclesiais no compromisso irreversível de caminhar juntos para a plena unidade na diversidade reconciliada de suas respectivas tradições;
  • Diálogo construtivo com os homens e mulheres de diferentes confissões religiosas e convicções, a fim de realizar juntos uma cultura de encontro.

Em uma breve nota antes do documento, o Vaticano diz que ele foi redigido por um subgrupo da maior Comissão, liderada pelo padre Mario Ángel Flores Ramos, reitor da Pontifícia Universidade do México. Entre os membros do sub-grupo estavam também a irmã Prudence Allen, uma antiga presidente do departamento de filosofia do seminário St. John Vianney, em Denver.

O Vaticano diz que o documento foi aprovado por toda a Comissão durante a sua sessão plenária no outono passado e, em seguida, autorizado a ser publicado pelo arcebispo Luis Ladaria, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, "depois de receber uma opinião favorável" do Papa.

A Comissão, composta por 30 teólogos de todo o mundo nomeados pelo Papa, foi fundada em 1969. Os membros do grupo cumprem mandatos de cinco anos, tendo a atual legislatura duração até 2019. O padre francês dominicano Serge-Thomas Bonino, lidera o grupo.

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