16 Abril 2018
Líderes cristãos ao redor do mundo, principalmente do Oriente Médio, estão se manifestando a favor do "fim ao derramamento de sangue na Síria" devido ao bombardeio realizado pelos Estados Unidos, Reino Unido e França neste fim de semana que teve como alvo um centro militar com armas químicas.
A reportagem é de Inês San Martín, publicada por Crux, 15-04-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
O Papa Francisco e o Patriarca Ortodoxo Russo Kirill conversaram por telefone no sábado, de acordo com a TASS, a agência de notícias russa, preocupados com os últimos acontecimentos da guerra Síria.
"Apresentamos esta iniciativa sabendo que os cristãos não podem permanecer à margem, vendo o que está acontecendo na Síria", disse Kirill a repórteres, no sábado. "Tínhamos um diálogo significativo de paz".
Ele também disse que os dois líderes cristãos esperam ver o fim do "derramamento de sangue" na Síria.
"Falamos sobre o modo como os cristãos devem influenciar os eventos para pôr fim à violência, acabando com a guerra e impedindo ainda mais vítimas", disse Kirill.
Embora não haja números exatos das vítimas dos últimos sete anos, estima-se que 400.000 a meio milhão de pessoas tenham sido mortas como resultado direto da guerra, nas mãos de organizações terroristas como o ISIS, o governo sírio, grupos rebeldes ou atores internacionais, como a Rússia e os EUA.
Na semana passada, em sua fala dominical, Francisco exigiu um fim à violência "desumana" na Síria, dizendo que tinha que acabar "logo".
"Nos últimos dias, meus pensamentos têm se voltado aos amados e martirizados da Síria, onde a guerra se intensificou, principalmente no leste de Ghouta", disse, referindo-se a um subúrbio onde o bombardeio de forças do governo se concentrou, na região leste da capital de Damasco, na Síria. No sábado, o exército da Síria declarou a área "completamente liberada".
Os bombardeios da sexta-feira à noite atingiram três áreas - uma em Damasco - e duas em Homs. Segundo o presidente Donald Trump, os ataques eram "associados com os recursos de armas químicas do ditador sírio Bashar al-Assad".
Trump considerou a execução do ataque "perfeita", em um tweet postado no sábado, acrescentando: "Missão cumprida!".
No entanto, os cristãos da Síria não concordam com a afirmação de Trump.
Em uma declaração conjunta, três patriarcas sírios disseram que "condenam e denunciam a agressão brutal que ocorreu esta manhã (no sábado) na Síria, nosso precioso país, pelos EUA, França e Reino Unido, alegando que o governo sírio usou armas químicas".
A declaração é assinada por John X, Patriarca Grego-Ortodoxo de Antioquia e todo o Oriente; Ignatius Aphrem II, Patriarca Ortodoxo de Antioquia e todo o Oriente, e Joseph Absi, Patriarca Católico Greco-Melquita de Antioquia, Alexandria e Jerusalém.
De acordo com os religiosos, a "agressão brutal" viola o direito internacional e a Carta das Nações Unidas, porque é uma "agressão injustificada" em um país soberano.
Assim como fizeram outros antes deles, também questionaram a suposta utilização de armas químicas pelo governo sírio, dizendo que tal afirmação, usada para justificar os ataques aéreos, é "injustificada e não é fundamentada em evidências claras e suficientes".
Na sexta-feira, investigadores de crimes de guerra das Nações Unidas condenaram a suspeita de uso de armas químicas na cidade síria de Douma, na zona leste de Ghouta, e no momento da explosão especialistas viajavam ao país para investigar o suposto ataque que matou dezenas de pessoas.
De acordo com os patriarcas, o fato de o atentado ter ocorrido antes de a comissão dar início aos trabalhos "prejudica" os esforços da investigação. Definindo-o como "brutal" e "injusta", eles também afirmaram que o ataque incentiva organizações terroristas e "dá força para continuar o terrorismo".
"Chamamos todas as igrejas dos países que participaram da agressão a cumprir seus deveres de cristãos, segundo os ensinamentos do Evangelho, condenando-a e pedindo que seus governos se comprometam com a proteção da paz internacional", escreveram.
Eles fecharam a declaração rezando pela paz na Síria e no mundo e dizendo que estão confiantes de que o exército sírio "não vai se curvar diante das agressões terroristas internas ou externas".
Os patriarcas não são os primeiros a questionar a veracidade do ataque químico.
Antoine Audo, bispo caldeu de Alepo, denunciou que os "Estados Unidos e a Rússia estão usando a Síria para empreender uma guerra um contra o outro".
No Tg2000, da TV italiana, ele disse que o bombardeio deste fim de semana provou que a comunidade internacional está tentando fazer na Síria o que fez no Iraque, "quando destruíram o país dizendo que havia armas químicas”.
"O que fizeram no Iraque estão fazendo agora na Síria", disse.
"Como é possível o Assad ter usado armas químicas para se defender?", questionou Audo, insistindo que não passa de uma estratégia para os EUA e a Rússia competirem por influência.
O bispo Georges Khazen, vigário apostólico de Aleppo, disse que o bombardeio mostrou os verdadeiros interesses dos que estão envolvidos na guerra, dizendo que no início era uma "guerra por procuração”, mas que agora que os "atores menores foram derrotados, os verdadeiros protagonistas do conflito apareceram no campo de batalha".
Ele também esperando pela confirmação de que Assad tenha realmente usado armas químicas, mas, por enquanto, continua pedindo paz.
"Todo apelo por paz entra por um ouvido e sai pelo outro. Apenas o Papa Francisco continua esperando por paz, e nós também esperamos com ele", disse à agência de notícias da Conferência Episcopal Italiana, Sir.
Enquanto alguns continuam a esperá-la, sem sucesso, "cresce o sofrimento da população que pede por paz, recebendo bombas e mísseis em resposta" a seus apelos, disse.
Neste ponto, disse Khazen, sua esperança é que os recentes ataques aéreos não se multipliquem em outros lugares da região, porque seria "muito perigoso e poderia deixar tudo fora de controle”.
"Precisamos chegar a uma solução compartilhada, sem mentiras", declarou. "Não temos outras armas além da oração."
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Líderes cristãos sírios consideram ataque aéreo dos EUA uma 'agressão brutal' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU