Hans Küng: 90 anos de teologia. Artigo de Andrés Torres Queiruga

Hans Küng | Foto: Universidad Nacional de Educación a Distancia

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26 Março 2018

Hans Küng “reconhece os problemas, expõe-nos com uma extraordinária clareza, tira sem medo as consequências e indica onde se abrem os caminhos do futuro”, escreve Andrés Torres Queiruga, teólogo espanhol, em artigo publicado por Settimana News, 22-03-2018. A tradução é de André Langer.

“Sua obra representa 90 anos de um ingente esforço teológico que deixa poucos problemas de fora, dedicado à busca de uma Igreja encarnada e de um cristianismo atualizado”, avalia.

Eis o artigo.

Hans Küng não se destaca pela energia criativa de um Karl Rahner, mas é um lúcido diagnosticador quando se trata de analisar a situação e as necessidades da teologia ao longo do tempo. Reconhece os problemas, expõe-nos com uma extraordinária clareza, tira sem medo as consequências e indica onde se abrem os caminhos do futuro. Seus livros respiram atualidade nas questões e sinceridade na hora de reconhecer a necessidade de abordá-las. Ele não esconde onde pensa que está a solução e a expõe sem rodeios, mesmo quando nem sempre se dá o tempo para avançar até o fim na fundamentação ou para assinalar com cuidado os argumentos em apoio à continuidade. Porque nenhum teólogo pode abarcar tudo, e talvez não seja esse o seu papel ou, como se diz no jargão especializado, o seu carisma.

No entanto, seus livros falam com eficácia única ao nosso tempo e são compreendidos por milhares de leitores em todo o mundo. São livros, na verdade, teologicamente atuais, que resistem ao teste do tempo com um frescor extraordinário. Peguem Ser Cristão: escrito em 1974, há de mais de 40 anos, e verão que continua a nos falar como no primeiro dia. Aí estão os problemas que continuam a ser os nossos, enuncia-os sem rodeios e enfrenta-os com corajosa sinceridade, às vezes um pouco desafiante e outras, provavelmente, um pouco precipitada. Mas durante a leitura respira-se teologia viva, capaz de alimentar uma compreensão crítica da fé, em nossa cultura.

Sua obra representa 90 anos de um ingente esforço teológico que deixa poucos problemas de fora, dedicado à busca de uma Igreja encarnada e de um cristianismo atualizado. Rebelde, mas definitivamente fiel. Sem ceder à tentação de abandonar a Igreja, apesar das duras exclusões, sem cair nas banalidades de um pluralismo magmático ou de um espiritualismo sem carne de revelação e sem entoar uma cantilena pela suposta morte de Deus (ou do teísmo caricaturizado). Teólogo humano, com alguns traços demasiado humanos (quem está isento deles?); mas teólogo de corpo inteiro.

Em 1995, por ocasião da celebração dos 500 anos da Universidade de Santiago de Compostela, tive a honra de apresentar Hans Küng na sua solene conferência de convidado. Naquela ocasião, referindo-me à sua inestimável contribuição para uma teologia que quer manter um diálogo sério e credível com o mundo, eu disse palavras que gostaria de repetir:

“Nesse diálogo, qualquer esforço será insuficiente para mostrar e demonstrar que não há reservas ou manipulações ‘clericais’ na busca comum da verdade; que o teólogo goza da mesma liberdade e pode ter a mesma paixão pela verdade que o filósofo ou o cientista; que busca o bem do homem e não a submissão; que busca o Reino e não apenas a Igreja”.

Continua a me parecer uma boa evocação da sua figura, empenhada em buscar dignidade para a teologia e credibilidade para a fé.

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