24 Março 2018
"Todas as vidas e todas as mortes deveriam ser importantes, respeitadas. Outros, assim como Marielle deveriam lutar para que não houvesse tantas injustas mortes. Quando se mata a vereadora ou outra pessoa que luta pela paz e pela justiça, no fundo, os algozes estão anunciando ao mundo que não devemos sonhar com paz. Não obstante, a mensagem posta, não deixemos o projeto de um mundo justo soçobrar. Afinal, o desejo da paz foi também de um certo Galileu a quem mais de 1/3 da população mundial segue", Reuberson Ferreira, mestre em Teologia pela PUC-SP, membro do Observatório eclesial - Brasil e do Grupo de Pesquisa Religião e Sociedade, Vigário Paroquial na Paróquia São Miguel Arcanjo, Arquidiocese de São Paulo (SP).
A morte de qualquer pessoa é lastimável. A da vereadora carioca, filha da maré, negra, mãe solteira, Marielle Franco torna-se mais ainda pela causa que defendia, pela bandeira que desfraldava. Olhando à uma certa distância, percebe-se que lutava pelos direitos das minorias, sem vitimismo ou revanchismo.
Sob o fervor de sua morte, pessoas de matizes religiosas diversas (incluso cristãos), de posturas políticas variadas e convicções pessoais múltiplas questionam porque tanto alarde em torna da morte de Marielle. O alvoroço dá-se porque ela era uma pessoa pública que defendia uma causa popular. Ela foi morta por defender mulheres, pobres, negras, militares - minorias - que tiveram suas vidas ceifadas seus direitos defraudados.
Caso ela ainda estivesse viva seguiria lutando para que essas e outras pessoas não morressem ou não fossem vitimadas. Assim, quando se faz estardalhaço, barulho ou se lança holofotes sobre sua figura, não é porque sua vida seja mais importante. Antes é por causa da luta que ela, no anonimato que gozava até morrer, defendia: a cultura de paz!
Em sendo assim, a morte dela não é mais importante do que a do filho de tantas marias que morrem diariamente (incluso, próximo a minha paróquia na periferia de São Paulo). Antes a morte dela se torna simbólica. Ensina-nos que, para alguns, nenhuma forma de resistência à cultura posta é possível. Que existem pessoas que não querem que os que se incomodam com essa situação sigam vivendo. Caso alguém se oponha a essa cultura, deve também morrer!
Todas as vidas e todas as mortes deveriam ser importantes, respeitadas. Outros, assim como Marielle deveriam lutar para que não houvesse tantas injustas mortes. Quando se mata a vereadora ou outra pessoa que luta pela paz e pela justiça, no fundo, os algozes estão anunciando ao mundo que não devemos sonhar com paz. Não obstante, a mensagem posta, não deixemos o projeto de um mundo justo soçobrar. Afinal, o desejo da paz foi também de um certo Galileu (Cf. Jo 14,27) a quem mais de 1/3 da população mundial segue!
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A vereadora, os holofotes e a causa defendida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU