27 Fevereiro 2018
Há alguns dias, após o retorno do papa da América do Sul, em 22 de janeiro passado, já havia no ar algo de indefinido que levou muitos a imaginarem e a formularem a hipótese de que o caso Barros teria uma “sequência” bastante encorpada.
A reportagem é de Luis Badilla e Francesco Gagliano, publicada por Il Sismografo, 26-02-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os mais atentos viram, desde já, como muito promissora a total abertura de Francisco e sua declarada disposição, confirmada mais de uma vez, a mudar de opinião diante de novos elementos, comprovados e convincentes. No avião, ele concluíra assim suas considerações sobre a questão: “Por isso, o melhor é que aqueles que acreditam que seja assim [culpabilidade do bispo] tragam rapidamente as evidências. Se honestamente pensam que seja assim. Eu, neste momento, não acho que seja assim, porque não há [evidências], mas eu tenho o coração aberto para recebê-las”.
Como já vimos e analisamos amplamente nestes dias, Dom Charles Scicluna e o Pe. Jordi Bertomeu foram ao Chile para fazer aquilo que o papa lhes havia pedido: ouviram, longamente e com atenção, diversas pessoas, leigos e clérigos, bispos e padres, vítimas, pessoas envolvidas em outros casos de abuso por parte de salesianos e maristas; receberam e coletaram uma enorme quantidade de documentos, testemunhos escritos (até mesmo inéditos) e, às margens dos parâmetros oficiais da sua delicada missão, ouviram também outras opiniões, provenientes de fontes e experiências diferentes.
E agora, o que poderia acontecer?
Certamente, o primeiro e mais importante é o retorno ao Vaticano dos enviados, a audiência de trabalho com o Santo Padre e a entrega de um primeiro relatório escrito que poderia ser aperfeiçoado e aprofundado com documentos subsequentes a serem entregues em tempos bastante curtos. Como no caso de todas as questões delicadas e importantes para o Papa Francisco, o critério não é a “urgência” (aquela espasmódica que leva a erros), mas sim a “prioridade” que permite agir rapidamente, mas com reflexão.
Os enviados devem dar ao papa elementos convincentes, objetivos e talvez definitivos sobre uma pergunta única e precisa: Dom Juan Barros acobertou ou não os abusos do Pe. Karadima, como defendem seus acusadores? Até hoje, as autoridades eclesiásticas do Chile e do Vaticano responderam a essa pergunta com um “não” peremptório. Após a visita do Papa Francisco ao Chile, teriam surgido novos elementos, agora recolhidos e documentados pelos enviados papais, que poderiam fazer se tornar um “sim” aquilo que, durante anos, foi um “não”.
Se a conclusão da investigação confirmar a inocência de Dom Barros, a Igreja encerrará oficial e definitivamente o caso, mas podemos ter certeza de que, no Chile, o caso não será considerado acabado: as múltiplas ações dos denunciantes se concentrarão no Papa Francisco, identificado como uma pessoa que condena os abusos com palavras, mas, nos fatos, participa da estratégia de encobrimento. Ou, o que é ainda mais grave, ele poderia ser acusado – mesmo tendo apurado a eventual inocência do bispo de Osorno – de não querer agir na raiz do problema, que se fortaleceu com décadas de silêncios, omissões, cumplicidades, que é a da incapacidade da Igreja de gerir os casos de abuso sexual cometidos por membros do clero. Assim, se criaria, especialmente por parte da mídia internacional, um quadro muito delicado para o pontificado de Francisco, pressionado fortemente há diversas semanas justamente sobre esse assunto.
Se as conclusões sustentarem que Dom Juan Barros, bispo de Osorno, é culpado daquilo que é acusado há muito tempo, as consequências podem ser muitas e de natureza diferente. As mais importantes são duas: a primeira é a renúncia em tempos próximos do bispo. A segunda, mais complexa e articulada, poderia ser o início de uma espécie de “investigação preliminar” sobre as ações dos dois últimos arcebispos de Santiago, o atual cardeal Ricardo Ezzati e o cardeal emérito, Francisco Javier Errázuriz. Nesse processo, nada fácil de imaginar na sua forma, estariam incluídos inúmeros outros eclesiásticos que tiveram que lidar com esse caso desde os anos 1970. Não é plausível levantar a hipótese dos “processos”, mas sim de discretos e graduais afastamentos, até porque quase todos os protagonistas já são prelados idosos. Obviamente, se, de algum modo, se configurasse uma situação desse tipo, a Igreja chilena se encontraria diante de um verdadeiro terremoto.
Alguns órgãos de imprensa chilenos formulam hipóteses nestas horas sobre um desenvolvimento singular, que, com toda a probabilidade, não será possível, ou seja, uma espécie de “silêncio de imprensa” prolongado até o extremo, quase para fazer com que o caso seja esquecido, como ocorreu recentemente no caso do conselheiro da nunciatura de Washington, Mons. Carlo Alberto Cappella, acusado pelas autoridades canadenses e estadunidenses de violação das normas sobre imagens de pornografia infantil, sob processo no Vaticano desde setembro do ano passado. Caso sobre o qual, há cinco meses, não se sabe nada, exceto algumas coisas relatadas nos jornais canadenses.
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Caso Karadima-Barros: o que pode acontecer após a missão de Dom Scicluna? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU