08 Dezembro 2017
Carlos Aguiar Retes é o novo arcebispo da Cidade do México. Velho conhecido de Jorge Mario Bergoglio, conduzirá os destinos de uma das dioceses com maior número de fiéis católicos na América Latina. Sua nomeação, oficializada nesta quinta-feira pelo Vaticano, abre uma nova época na Igreja do país. Desse modo, encerra-se o longo episcopado de Norberto Rivera Carrera, um pastor que sempre despertou atrações e fobias.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada por Vatican Insider, 07-12-2017. A tradução é do Cepat.
Finalmente, o Papa não concedeu a almejada prorrogação ao cardeal Rivera. É comum que, se o arcebispo renunciante estiver bem de saúde aos 75 anos, seja confirmado no cargo donec aliter provideatur (até que não se providencie outra coisa). Uma prerrogativa exclusiva do pontífice. Em seu momento, Bento XVI concedeu ao cardeal Juan Sandoval Iñiguez, arcebispo emérito de Guadalajara, quase quatro anos a mais de permanência.
Rivera Carrera completou 75 anos no último dia 6 de junho. Foi quando entregou sua carta de renúncia à nunciatura da Cidade do México, como prevê a lei fundamental da Igreja (o Código de Direito Canônico). De imediato, especulou-se a respeito de sua saída, mas esses rumores não se confirmaram. Exatamente seis meses depois, o Vaticano anunciou a mudança com um boletim oficial, divulgado ao meio-dia desta quinta-feira.
O texto anunciou, por um lado, a aceitação da renúncia de Rivera e, por outro, a nomeação de Aguiar Retes. Bispo de longa trajetória. Fino diplomata e pastor com iniciativa, o novo arcebispo primaz nasceu em Tepic, Nayarit, no dia 9 de janeiro de 1950. Desde muito pequeno ingressou na vida religiosa. Estudou filosofia no seminário de sua diocese e teologia em Montezuma (Estados Unidos) primeiro, e em Tula (México) depois.
Ordenado sacerdote no dia 22 de abril de 1973, estudou sagradas escrituras no Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Entre 1978 e 1991, atuou como reitor do Seminário de Tepic. Presidiu a Organização de Seminários Mexicanos. Após passar outro período em Roma, em 1997, foi designado pelo Papa João Paulo II como o terceiro bispo de Texcoco, diocese localizada no Estado do México. No dia 23 de maio do ano 2000, sucedeu a outro bispo mexicano, Felipe Arizmendi, como secretário geral do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).
Então, iniciou uma meteórica carreira eclesiástica, tanto no máximo órgão de representação episcopal latino-americano, como na Conferência do Episcopado Mexicano. Entre 2003 e 2007, atuou como primeiro vice-presidente do CELAM, como presidente do Departamento de Comunhão Eclesial e Diálogo (2007-2011), e como presidente do Conselho, entre 2011 e 2015.
Alternou essas responsabilidades com outros destacados cargos no CELAM. Foi secretário geral (2004-2006) e presidente por dois períodos (2007-2009 e 2009-2012). Já em 2007, Bento XVI o havia nomeado membro do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso do Vaticano e, em 2009, como arcebispo de Tlalnepantla. Contudo, ao final do pontificado de Joseph Ratzinger sua estrela pareceu se apagar.
Como presidente do CELAM, ficou em meio a um fogo cruzado pela postura da Igreja mexicana a respeito de uma reforma constitucional sobre liberdade religiosa. Uma diferença de posicionamento em relação ao então ainda arcebispo de Guadalajara, Sandoval Iñiguez, afetou suas chances (que então eram reais) de se tornar o seu sucessor, em 2011. Algo similar ocorreu com a Arquidiocese de Monterrey, cujo cume ocorreu no dia 3 de outubro de 2012. Aguiar Retes era considerado um forte candidato, mas o Papa finalmente nomeou Rogelio Cabrera López.
As coisas mudaram com a eleição do Papa Francisco. Ambos se conheciam dos trabalhos relacionados ao CELAM. Em 2007, quando ocorreu a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Aparecida, Brasil, o prelado mexicano era vice-presidente desse organismo e Jorge Mario Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, foi eleito presidente da Comissão de Redação do documento final.
Desse modo, no dia 19 de novembro de 2016, Francisco o fez cardeal durante um Consistório Ordinário Público. Inclusive, elegendo-o acima do arcebispo de Monterrey, uma histórica sede cardinalícia. Nesse mesmo dia, antes da cerimônia na Basílica de São Pedro, o Papa o chamou para lhe cumprimentar e, simplesmente, dizer: “É por tudo o que tem feito na Igreja”. Pouco depois, passou a fazer parte da Pontifícia Comissão para América Latina.
A nomeação desse dia marca o ocaso do longo período de Norberto Rivera Carrera à frente da Igreja da Cidade do México. Nascido no dia 6 de junho de 1942, no Estado de Durango, no dia 5 de novembro de 1985, foi eleito bispo de Tehuacán. Uma década depois, no dia 13 de junho de 1995, tornou-se o arcebispo primaz. Em janeiro de 1998, João Paulo II o fez cardeal.
Membro de diversos organismos da Cúria Romana, entre outros, as congregações para o Clero e para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, sua figura gerou inflamadas polêmicas. Recebeu muitas críticas por sua pública vinculação e defesa do fundador dos Legionários de Cristo, responsável por abusos sexuais contra menores, de ter procriado filhos com várias mulheres e outros atos imorais. Em 2006, quando o Vaticano condenou publicamente Marcial Maciel Degollado ao afastamento, Rivera preferiu não se pronunciar.
Foi questionado (e inclusive acusado na justiça) por sua gestão de vários casos de abusos sexuais contra menores. Também recebeu críticas por suas relações de amizade com empresários e homens do poder. Ao mesmo tempo, conta com fervorosos defensores entre o clero de sua arquidiocese, que respondem com convicção as acusações e os apontamentos.
Sua saída de cena marca definitivamente o fim de uma Igreja mexicana dividida por uma “geometria” que se debatia entre o “clube de Roma” e o “clube de Genebra”. Caricatura de uma separação eclesiástica mais própria dos anos 1990. Agora, o desafio é aderir em cheio uma renovação, seguindo o caminho traçado por Francisco.
Poucos dias atrás, durante sua visita a Torreón, o núncio apostólico Franco Coppola advertiu: “Falar ou apontar o dedo para aqueles que se comportam mal é nos esquecer do fruto daquilo que nós fizemos ou não fizemos. A Igreja, aqui no México, está atrasada e continuou dando respostas que eram válidas no século passado, sem se dar conta que o tempo caminhou”.
O Papa já havia dito, durante seu histórico discurso aos bispos na catedral da Cidade do México, durante sua viagem ao país, em fevereiro de 2016: “Olhando para vocês, o povo mexicano tem o direito de encontrar as pegadas daqueles que viram o Senhor. Isto é o essencial. Não percam tempo e energias em coisas secundárias, em fofocas e intrigas, em vãos projetos de carreira, em vazios planos de hegemonia, em infecundos clubes de interesses ou compadrios. Não se deixem arrastar pelas murmurações e as maledicências. Introduzam seus sacerdotes nesta compreensão do sagrado ministério. A nós, ministros de Deus, basta a graça de beber o cálice do Senhor, o dom de guardar a parte de sua herança que nos confiou, ainda que sejamos inexperientes administradores. Deixemos que o Pai nos designe o lugar que nos tem preparado”.
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México. Carlos Aguiar Retes é o novo cardeal primaz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU