14 Outubro 2016
Carlos Aguiar Retes, o novo cardeal mexicano nomeado por Francisco, há tempos é um ator-chave na Igreja latino-americana e foi um colaborador próximo daquele que viria a ser o papa. O arcebispo de Tlanepantla, no entanto, também tem uma veia beneditina.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 12-10-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A escolha feita pelo Papa Francisco de Dom Carlos Aguiar Retes do México para o Colégio Cardinalício é mais uma prova de que a América Latina está se preparando para ir na mesma direção que o restante da Igreja Católica, mas igualmente é um sinal de continuidade com o seu antecessor, Bento XVI.
Feito arcebispo de Tlalnepantla, ao norte da Cidade do México, por Bento XVI em 2009, e ordenado a bispo por São João Paulo II em 1997, Aguiar Retes é uma figura central do Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe, conhecido como CELAM.
Como vice-presidente do CELAM entre 2003 e 2007, Aguiar Retes trabalhou com Jorge Mario Bergoglio na preparação da sua quinta assembleia geral ocorrida em maio de 2007, realizada no famoso santuário de Nossa Senhora de Aparecida, no estado de São Paulo. O documento final de Aparecida foi escrito por uma equipe liderada por Bergoglio.
O prelado mexicano não só conseguiu impressionar Francisco, mas também os seus pares: foi eleito presidente do CELAM em 2011, cargo que ocupou até o ano passado. De volta ao México, ele vem atuando como secretário geral e como presidente da Conferência Episcopal do México.
Desde que Bento designou Aguiar Retes para a Arquidiocese de Tlalnepantla ele é visto como o sucessor natural do Cardeal Norberto Rivera Carrera, que será obrigado a apresentar sua renúncia a Francisco no próximo ano, quando completar 75 anos.
De acordo com Jorge Trasloheros, professor da Universidade Nacional Autônoma do México e analista experiente da Igreja, Aguiar Retes é um “discípulo digno de Bento XVI, com uma grande capacidade de penetrar, com sutileza, nos labirintos da realidade. Ele tem uma compreensão profunda da mudança dos tempos que estamos vivendo e busca fazer do diálogo entre fé e razão o ethos distintivo do pensamento católico”.
O professor, no entanto, acrescentou que com o senso pastoral, com o seu compromisso com os fiéis e sua mente estratégica, Aguiar Retes é também um religioso que lembra muito o estilo do Papa Francisco. Como Francisco, ele compreende a importância de um pastor capaz de estar na frente, entre e atrás do seu rebanho.
“À frente, o pastor deve convidar os fiéis a avançar sem medo; entre os fiéis, deve escutar, acompanhar e compreender; e, então, atrás, deve segui-los em novas pastagens”, disse Trasloheros.
Os que trabalharam com o novo arcebispo salientam a sua grande serenidade, a sua capacidade analítica e de diálogo. Dizem que ele é exigente, mas também paciente e claro em suas orientações.
Marilú Esponda, especialista leiga em comunicações que trabalhou com porta-voz para Aguiar Retes quando este era o secretário geral da Conferência Episcopal do México, descreveu-o como “um grande ser humano, afável, sério, mas próximo das pessoas, inteligente e com grande empatia para entender os problemas da sociedade”.
“Ele se dá muito bem com os conservadores e tem sido criticado como progressista por ser amigo com muitas pessoas de esquerda”, disse Esponda ao sítio Crux, acrescentando que muitas vezes ele fala de discernimento, fruto de sua formação com diretores espirituais jesuítas.
Esponda, membro numerário do Opus Dei, lembra que Aguiar Retes lhe propôs se tornar a primeira diretora da sala de imprensa dos bispos mexicanos, departamento instituído por ele.
“Ele gostava que eu era uma mulher, e que não me conformava com os estereótipos. Ele é muito consciente das contribuições dos leigos na Igreja”.
O prelado não tem medo de abalar as bases a fim de aumentar a eficiência, o que foi feito tanto na diocese quanto na conferência dos bispos, buscando o conselho de profissionais quando eram necessários para planejar as estratégias.
Atualmente o arcebispo lidera uma “Missão Continental” em sua diocese, para colocar em prática as conclusões de Aparecida. Este documento continua a ser um modelo importante para Francisco.
A assembleia de Aparecida foi coordenada pelo cardeal chileno Francisco Javier Errázuriz, com o cardeal hondurenho Oscar Rodríguez Maradiaga fazendo parte da equipe de redação. Ambos fazem parte agora do grupo de nove cardeais que assessora o papa.
A “Missão Continental” é um desafio lançado pela assembleia geral de Aparecida à Igreja latino-americana de estar em estado permanente de missão, despertando os católicos à sua vocação de evangelizar.
O documento de Aparecida foi um modelo para exortação apostólica Evangelii Gaudium (“A Alegria do Evangelho”), de novembro de 2013 geralmente descrita como a Magna Carta do papado de Francisco. O documento diz que a “opção missionária” implica que as estruturas e formas de agir da Igreja devem estar orientadas para a evangelização do mundo de hoje, em vez estar voltada para a sua própria autopreservação.
A Arquidiocese de Tlalnepantla, que fica na região metropolitana da Cidade do México, é uma área de grandes contrastes, com o desenvolvimento industrial e a extrema pobreza compartilhando as ruas com o crime organizado. A busca por promover uma missão permanente por parte do prelado levou a um pequeno porém dedicado exército de missionários leigos.
Carlos Aguiar Retes nasceu em 1950 e foi ordenado em 1973, depois de concluir os estudos sacerdotais no México e no seminário Montezuma, nos EUA. Logo depois, foi para Roma estudar no Pontifício Instituto Bíblico, e quando voltou em 1977 para Tepic, sua cidade natal, foi nomeado reitor do seminário local.
Na década de 1990, retornou a Roma para cursar doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana.
Além do espanhol, Aguiar Retes é fluente em italiano, inglês, francês e alemão.
O arcebispo é o segundo cardeal mexicano que Francisco terá designado: Alberto Suárez Inda, de Morelia, também foi feito cardeal durante o consistório de 2014. Com estes dois, o México agora tem seis cardeais, quatro deles com idade inferior a 80 e, portanto, aptos a votar para o próximo papa.
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O mais novo cardeal mexicano combina Francisco com Bento XVI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU