28 Novembro 2017
Os dois principais candidatos à presidência de Honduras, o conservador Juan Orlando Hernández e o esquerdista Salvador Nasralla se declararam vencedores das eleições de domingo em Honduras.
A reportagem é de Jacobo García, publicada por El País, 27-11-2017.
Por volta da uma da madrugada os hondurenhos continuavam sem saber o nome do novo presidente. A longa espera alimenta as suspeitas sobre o órgão eleitoral que, sob o argumento de aguardar para ter um maior número de votos apurados, prolongou a incerteza em uma sociedade tão polarizada que não precisa de novos capítulos de suspense. Os candidatos também decidiram colocar mais pressão na noite eleitoral e ambos se declararam ganhadores mobilizando seus seguidores.
“Ganhamos as eleições, é o que dizem as pesquisas de boca de urna”, disse o atual presidente, Juan Orlando Hernández, diante de dezenas de seguidores na noite de domingo. O mandatário também declarou, via Twitter, que recebeu felicitações dos presidentes da Guatemala, Jimmy Morales e do Equador, Lenín Moreno, mesmo sem resultado oficial conhecido.
O advogado Hernández, de 49 anos, concorreu à reeleição graças a uma decisão tomada pela Corte Suprema em 2015 permitindo sua candidatura, apesar dos protestos da oposição, que considera a medida inconstitucional.
No lado oposto, as imagens também eram de teatral alegria. “Houve fraude, não é possível que haja seções onde temos zero votos”, protestou o candidato
Salvador Nasralla que se apresentou diante dos hondurenhos ao lado da esposa, a quem chamou de “primeira-dama”. Segundo seus dados, ganhou por por uma diferença de mais de 100.000 votos. “É preciso ser descarado para fazer o que estão fazendo”, disse.
Durante a madrugada, o popular locutor esportivo voltou a dizer que, com 68% das seções apuradas, ele era o vencedor das eleições com 45% dos votos, frente aos 40% obtidos por Juan Orlando.
“Ganhamos as eleições. Temos mais votos que Juan Orlando Hernández. Em 2013, a fraude contra Xiomara Castra esteve nas urnas, mas desta vez não se pode ocultar”, denunciou o ex-presidente Manuel Zelaya, que disse ter tido acesso às 3.000 urnas apuradas.
Apesar dos muitos boatos de fraude, o embaixador da França, integrante da delegação de mais de 600 observadores internacionais, endossou a limpeza do processo e disse que a votação foi realizada com “calma” e “transparência”.
Juan Orlando Hernández pretende continuar na presidência por mais quatro ano, um feito inédito em Honduras que já foi tentado por Zelaya em 2009 com um plebiscito ilegal que lhe custou o cargo. O então presidente foi destituído por uma junta civil-militar e enviado de madrugada, e de pijama, para a Costa Rica. Na época, Zelaya foi acusado de conspirar para conseguir a reeleição, proibida por uma cláusula pétrea da Constituição.
Juan Orlando chegou às eleições respaldado por uma correta gestão econômica e pela redução da violência, mas também foi criticado pelos casos de corrupção que envolvem seu partido e alguns de seus ministros. Além disso, tem sido criticado pelo controle que exerce nas instituições onde nomeou pessoas próximas para cargos-chave e por sua dimensão midiática, empenhada em exaltar sua figura pessoal de forma quase messiânica, como o único capaz de tomar as rédeas do país.
O candidato Salvador Nasralla concorre pela Aliança de Oposição contra a Ditadura. A coligação, que inclui o partido de Zelaya, Liberdade e Refundación (Livre), foi formada após a decisão do supremo que permitiu a reeleição de Juan Orlando. Pela mesma legenda concorre a uma vaga no Congresso a candidata Olivia Zúñiga Cáceres, filha da ecologista Berta Cáceres, assassinada em março de 2016. Nasralla convocou um protesto para esta segunda-feira contra o que considera uma “fraude eleitoral”.
O novo presidente deverá enfrentar desafios prementes de uma das sociedades mais desiguais do continente: corrupção, violência e falta de oportunidades.
A corrupção afeta em cheio o Partido Nacional e envolve o governante anterior, Porfirio Lobo, cujo filho foi condenado a 24 anos de prisão por um tribunal dos EUA acusado de narcotráfico, como o próprio Zelaya. Paralelamente, a violência, apesar da diminuição na taxa de homicídios, continua em níveis altos até mesmo para um contexto latino-americano.
Em 2014, San Pedro Sula, a capital administrativa do país, registrou uma taxa de 142 homicídios para cada 100.000 habitantes, superior aos 81 em Tegucigalpa e 95 em Ceiba, a terceira maior cidade, segundo dados do Observatório da Violência da Universidade Nacional Autônoma (UNAH). Honduras encerrou 2016 com 5.154 homicídios, 59 para cada 100.000 habitantes. A isso se soma a falta de oportunidades que leva dezenas de milhares de hondurenhos a emigrar todo ano.
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Honduras. Dois candidatos declaram vitória nas eleições - Instituto Humanitas Unisinos - IHU