24 Novembro 2017
Não tinham nenhuma possibilidade, riam de sua cara, garotos jovens, iniciantes lhes diziam, zero, nada, isso ao menos é o que indicavam as análises políticas no Chile, tanto as públicas como as privadas no interior dos partidos. Contudo, o certo é que as pesquisas vêm caindo no mundo e o Chile não foi a exceção. Embora a candidata presidencial da Frente Ampla, Beatriz Sánchez, não tenha conseguido passar para o segundo turno no domingo passado, nas eleições presidenciais e parlamentares obteve 20% dos votos, muito acima dos 8% destacados por institutos de pesquisa tão “reputados” como o CEP (Centro de Estudos Públicos) e a empresa Cadem. Ambos são dirigidos por gente próxima a Sebastián Piñera, que segue liderando as preferências nas sondagens de votos, no entanto, não mais com a vantagem e excessiva confiança que seus partidários, antes das eleições, demonstravam.
A reportagem é de Christian Palma, publicada por Página/12, 23-11-2017. A tradução é do Cepat.
O empresário bilionário alcançou 36% dos votos, longe dos 45% ou, inclusive, de triunfo no primeiro turno que aguardavam em seus comandos. Embora Alejandro Guillier, a carta da Força da Maioria, que agrupa boa parte da centro-esquerda, tenha sido quem passou ao segundo turno (com apenas 22%), é a voz da jornalista Beatriz Sánchez a que tem o maior peso específico, levando em conta que se os membros ou simpatizantes da Frente Ampla se unirem em torno da derrota de Sebastián Piñera, os sonhos da direita em governar pelos seguintes oito anos, de golpe, entrará em colapso. Era tanta a fé de alguns opositores, que já pensavam em ganhar este e o seguinte período presidencial (no Chile são de quatro anos). Agora, a realidade muito distante daquela delineada pelas pesquisas aponta que deverão redobrar os esforços, caso queiram chegar ao Palácio de La Moneda, em março de 2018.
Este cenário também não significa que Guillier e Força da Maioria chegarão fácil. Embora já tenha recebido o apoio dos ex-candidatos derrotados, a democrata-cristã Carolina Goic e Marco Enríquez-Ominami do PRO, as magras porcentagens que conseguiram na eleição não levam a cantar vitória, isto sem contar aqueles que não se identificam com Alejandro Guillier e que não o apoiarão ou simplesmente não irão votar.
Por isso, o que Beatriz Sánchez disser será chave. Ontem, a líder se reuniu com dirigentes e parlamentares eleitos pela Frente Ampla para analisar o cenário, diante do segundo turno. Cabe destacar que a Frente Ampla, antes das eleições, tinha apenas três deputados. Hoje, esse número aumentou para 20 e, inclusive, os filhos prediletos das mobilizações estudantis de 2011 (que causou muitas dores a Piñera) conseguiram colocar um dos seus no Senado, tornando-se a terceira força política no Chile e com possibilidade de mandar prontamente para os quartéis de inverno ou ao menos para os asilos vários dos agregados, repetidos e velhos políticos chilenos que não querem se aposentar, como é o caso do próprio Piñera, que está há 30 anos no que denomina “serviço público”.
Na Frente Ampla, que é formada por 11 associações, muitos veem como uma traição negociar com um representante da política tradicional como Guillier. O movimento que surgiu nos protestos estudantis de 2011 tem seus maiores adeptos entre os jovens e se projeta como uma alternativa à política binominal que governou o Chile nos últimos 19 anos.
Atenta aos acontecimentos e à possibilidade de negociar com Guillier alguns dos eixos de seu programa, como educação gratuita, fim das AFP (Administradoras de Fundos de Pensões) e revogação da lei de pesca, Sánchez insistiu em que a coalizão fixará sua posição no próximo dia 29 de novembro e se negou a adiantar as decisões que tomarão diante de diferentes cenários, antes dessa data.
Em relação a este assunto também fez menção o deputado do Partido Liberal, membro da Frente Ampla, Vlado Mirosevic, sustentando que, “aqui, é necessário ter uma posição comum com a Frente Ampla e não a iremos colocar em xeque por uma decisão de segundo turno”... “Há dois caminhos que não me agradam: o primeiro é um apoio explícito a Alejandro Guillier que signifique participar do governo, uma negociação de cargos, nós não estamos disponíveis para isso, não nos agrada essa posição”.
Neste sentido, esclareceu que “também não somos a favor do caminho de um desprezo insultante a Alejandro Guillier como foi o apoio que ofereceu Marco Enríquez-Ominami, em 2009 (a Eduardo Frei, que finalmente perdeu para Piñera).
O deputado explicou, no jornal La Tercera, que quem deve cativar o eleitorado é o presidenciável da centro-esquerda.
“É responsabilidade de Alejandro Guillier seduzir aqueles que confiaram na Frente Ampla, no primeiro turno. Dependerá dele, de sua capacidade de assumir essas bandeiras para conseguir que essa gente vote por sua opção. É uma responsabilidade dele, não uma responsabilidade nossa”, enfatizou Mirosevic, e acrescentou que aqueles que votaram pela coalizão, fizeram isto “com liberdade” e não estão “esperando instruções”.
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Chile. Frente Ampla, a terceira força política. A revanche dos ignorados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU