McLaren camuflada para a feira de armas no Bahrein

Foto: Pixabay

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17 Outubro 2017

Nesta segunda-feira, no mesmo instante em que, na FAO, o Papa Francisco falava da fome como a outra face da guerra, no Bahrein inaugurava-se uma feira de armas de última geração na região que mais gasta em suprimentos bélicos. Comemorada com um presente muito singular da empresa automobilística famosa por seus carros de Fórmula1.

A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada por Mundo e Missão, 16-10-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

"De que vale denunciar que por causa dos conflitos milhões de pessoas são vítimas da fome e da desnutrição, se não há um empenho eficaz para a paz e o desarmamento?”.

Questionou-se durante o evento o Papa Francisco em seu novo veemente apelo sobre o tema da fome, proferido da sede da FAO para o Dia Mundial da Alimentação. Além disso, os dados divulgados no encontro mostram inequivocamente que a fome - em vez de diminuir - está voltando a crescer no mundo, justamente porque estão aumentando as guerras.

Por isso causa certo mal-estar observar que, enquanto Francisco pronunciava estas palavras, no mundo abriam-se as portas à primeira edição de um novo salão para a venda de armamentos. E não em lugar qualquer, mas no próprio Golfo Pérsico que, de acordo com dados do SIPRI (o principal observatório mundial sobre a venda de armas) apresenta hoje um gasto bélico em relação ao PIB equivalente ao dobro da média mundial. No Bahrein foi, dessa forma, inaugurado o BIDEC, o enésimo salão do setor que se junta aos programados no Kuwait e em Abu Dhabi (só para não ir longe demais). Quem o organiza é uma empresa inglesa - a Clarion Events - que é também a entidade que administra a análoga exposição realizada em Londres a cada dois anos.

Que se trate de uma feira made in England não é surpreendente: sempre de acordo com dados compilados pelo SIPRI as indústrias armamentícias inglesas entre 2000 e 2016 venderam armas para o Bahrein no montante de 85 milhões de dólares, um fluxo que as denúncias sobre as violações de direitos humanos nem mesmo arranharam. Basta acessar o eficiente site do BIDEC, no entanto, para descobrir que na longa lista de empresas presentes na feira com um estande próprio, não existem só marcas inglesas (e não é absolutamente difícil desencavar as italianas Benelli, Beretta, Fincantieri...).

O "toque de classe", no entanto, veio da McLaren; sim, a famosa fabricante de carros de Fórmula 1 que todos os anos passam zunindo no Bahrein. A montadora britânica teve a ideia de celebrar o nascimento do BIDEC homenageando o ministro da Defesa do rico emirado - o Sheikh Nasser bin Hamad Al Khalifa, que coincidentemente também é o presidente do salão - com um supercarro especial na versão camuflada entregue bem a tempo para promover o evento.

Um exemplo tosco de como em torno do BIDEC tudo é levado à perfeição: a Formula 1, o petróleo, os carros de sonho, as armas e os negócios. Mas também a fome. Porque é justamente essa economia que mata, exatamente como o Papa Francisco continua a repetir.

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