04 Outubro 2017
Um estudo confirma alguns dados da lenda sobre o saco deixado por um anjo na Campânia, para monges sitiados por lobos. Se não fosse ofensivo para o Pobrezinho de Assis, poderíamos dizer que São Francisco colocou todos no saco. Mas não no sentido de ter enganado alguém. Pelo contrário: uma relíquia ligada à sua memória por uma antiga tradição acabou de ser confirmada como 'autêntica' por testes científicos. Ou melhor, é compatível por idade e uso. Estamos falando do "Saco de São Francisco", fragmentos de tecidos preservados no mosteiro de Folloni, próximo a Montella, na região da Campania.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por La Stampa, 03-10-2017.
Segundo a tradição, o saco com pães teria se materializado na porta do mosteiro de Folloni, no inverno de 1224, enviado diretamente por São Francisco, que naquele momento encontrava-se na França, graças à ajuda de um anjo, para alimentar os monges sitiados pela neve e pelos lobos. E, portanto, com falta de suprimentos. Para corroborar a ligação com o Pobrezinho de Assis, a presença de um lírio no tecido, símbolo da França e, portanto, da origem milagrosa.
Igrejas e mosteiros na Itália e no mundo estão repletos de relíquias ou de supostas relíquias, cuja autenticidade ninguém é capaz de atestar, devido à enorme difusão do fenômeno e do fato que eram considerados relíquias também os tecidos que apenas entravam em contato com o túmulo do santo ou com uma relíquia que lhe pertencia.
No caso do "Saco de São Francisco", no entanto, as análises científicas produziram resultados encorajadores para os devotos desta tradição. Foi publicado recentemente um estudo em "Radiocarbon", a revista da Cambridge University Press, conduzido pelas professoras Ilaria Degano e Maria Perla Colombini da Universidade de Pisa, juntamente com os pesquisadores da Universidade do Sul da Dinamarca, e da Universidade de Leiden, na Holanda, do qual emergem duas certezas em relação ao saco. "A datação por radiocarbono coloca a amostra com alta probabilidade entre 1220 e 1295, confirmando assim a idade da relíquia - explica Ilaria Degano. As análises que depois efetuamos por cromatografia gasosa e por espectrometria de massa revelaram a presença de ergosterol, que é justamente um marcador molecular conhecido em estudos arqueométricos como indicador de fermentação para a produção de cerveja ou pão". Em suma, o tecido do saco tem a idade certa e conteve pão.
"É muito interessante do ponto de vista analítico - explica ainda a pesquisadora - que um marcador molecular seja capaz de se conservar em amostras assim tão antigas, mas para ter certeza dos resultados e excluir o risco de contaminação, também examinamos outros objetos conservados junto com a relíquia, e neles realmente não encontramos nenhum vestígio de ergosterol". A pesquisadora da Universidade de Pisa admitiu: "Eu estava inicialmente cética porque compostos orgânicos como estes se degradam com o passar do tempo, pela ação bacteriana. Ao contrário, o composto está presente nas fibras do saco e não em outros materiais presentes no medalhão que abriga os fragmentos".
Estamos, portanto, diante de uma confirmação sobre a data e a tradição segundo a qual esse humilde invólucro de tecido cru tinha transportado pão. Obviamente a ciência nada pode falar sobre o misterioso tele-transporte da França ao sul da Itália graças a um anjo. Mas a coincidência quis que a notícia sobre o "Saco de São Francisco", divulgada sem muito alarde na semana passada, encontrasse grande divulgação na segunda-feira, 2 de outubro: o dia em que a Igreja Católica comemora a festa dos Santos Anjos da Guarda.
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A relíquia “Saco de São Francisco” é de 1200 e continha pão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU