07 Agosto 2017
Com o pedido explícito de suspensão da nova Assembleia Constituinte que conforme declarado no comunicado pela Santa Sé "ao contrário de promover a reconciliação e a paz" estaria alimentando "um clima de tensão e confronto", o Papa Francisco parece que está assumindo um claro posicionamento sobre a situação da Venezuela. Após ter seguindo por muito tempo uma linha de cautela, convidando inúmeras vezes a "construir pontes" e até oferecendo sua própria mediação no diálogo entre o governo e a oposição (para depois atribuir o fracasso das negociações justamente às inúmeras divisões da direita), o papa pede agora a "suspensão da Assembleia Constituinte".
A reportagem é de Claudia Fanti, publicada por Il manifesto, 05-08-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Qual é o problema? Bergoglio certamente não pode agora ser considerado ligado às oligarquias venezuelanas ou sul-americanas em geral; já a Conferência Episcopal Venezuelana, esta certamente pode. A liderança da Conferência dos bispos foi recebida em audiência justamente pelo Papa em junho passado, apresentando-lhe na oportunidade um quadro infernal do país. A nota sobre a crise venezuelana da Santa Sé de ontem, chega a pedir a todos os atores políticos, mas "especialmente ao governo", que garantam "o pleno respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais", além de expressar "um apelo urgente" para toda a sociedade para prevenir toda forma de violência, mas, novamente, "convidando, em especial, as Forças de segurança a abster-se do uso excessivo e desproporcional da força".
E é assim que também o papa, provavelmente com a intenção de estancar a violenta explosão da crise em Caracas, corre o risco de se somar à longa lista de vozes contra a Assembleia Constituinte, já definida pelos bispos, através das palavras do próprio Arcebispo de Caracas, Cardeal Jorge Urosa Savino (conhecido, entre outras coisas, por ter abençoado o golpe de estado de 2002) como "ilegal e ilegítima", porque "não foi convocada pelo povo".
Embora seja justamente a atual Constituição elaborada por Chávez que reconhece expressamente ao presidente da República (assim como a dois terços da Assembleia Nacional ou dos conselhos municipais e 15% do eleitorado) a possibilidade de convocar uma Assembleia Constituinte para transformar o Estado e criar uma nova ordenação jurídica.
Então a posição Urosa Savino é amplamente compartilhada pela Conferência Episcopal, mas dentro da Igreja não é tão unânime como gostaria de fazer crer o cardeal, segundo o qual a rejeição do projeto de Maduro uniria tanto os bispos como os sacerdotes das comunidades mais pobres.
De uma maneira completamente diferente orienta-se o pensamento, por exemplo, do jesuíta Numa Molina, pároco da igreja histórica de São Francisco em Caracas, que se encontrou com Bergoglio em fevereiro concelebrando com ele a Eucaristia na capela de Santa Marta. Seguindo decididamente uma tendência contrária à da Companhia de Jesus que se declara abertamente contra o governo Maduro, Numa Molina contesta os convites da hierarquia à desobediência civil e aos protestos pacíficos, quando “todo mundo sabe que significado assumem na Venezuela tais protestos, um dos quais – lembra ele - deu origem a nada menos do que o golpe de estado de 11 abril de 2002"; denuncia o silêncio ensurdecedor dos bispos sobre as inúmeras conquistas sociais do governo bolivariano; ressalta a ausência gritante de qualquer palavra de condenação contra as repetidas violações dos direitos humanos por grupos armados de oposição, que chegaram até mesmo a queimar vivas mais de 20 pessoas suspeitas de apoiar o governo; enfatiza a harmonia quase total entre a Conferência Episcopal e os partidos da oposição da Mud (Mesa de la Unidad Democrática), confirmada pelo apoio dos bispos para o plebiscito-farsa convocado pela oposição em 16 de julho passado, quando muitas paróquias chegaram a ceder seus espaços para permitir a consulta das direitas, esta sim claramente ilegal.
O fato de que a voz de Numa Molina não é isolada é também demonstrado por uma recente nota da ordem das Irmãs do Sagrado Coração, muito ativas na Venezuela ao lado da população mais pobre, que oferecem um quadro decididamente alternativo ao transmitido pelas informações oficiais: "há 20 anos - diz a nota - tudo o que está faltando hoje era facilmente encontrado nas prateleiras, mas a maioria dos venezuelanos e das venezuelanas não tinha condições de comprá-lo". E se agora estão escasseando bens essenciais, explicam as religiosas, não é culpa de Maduro, mas de "uma indústria capitalista burguesa" que "não produz o suficiente, porque não deseja fazê-lo", movida apenas pela vontade de derrubar um governo legítimo. que ousou promover educação, sistema de saúde gratuito, direitos trabalhistas, salariais e sociais e restituir a auto-estima e dignidade para as maiorias pobres do país. "Mais do que a falta de alguns alimentos e suprimentos médicos e remédios, preocupa-nos - conclui a nota - a certeza de que um eventual triunfo da indústria capitalista, pelo caminho que for, significará a perda da maior quantidade de segurança social, salarial e educacional de que estamos usufruindo".
E saudando o resultado das eleições para a Assembleia Constituinte como "grande festa da co-responsabilidade", uma dessas religiosas, a educadora popular Jacquelin Jiménez, comenta: "Enfrentando a ameaça de agressão dos antichavistas, o povo quis com o seu voto recordar quais são os ombros que sustentam este país".
Hoje criar uma família, nestas condições, parece ser uma tarefa quase heroica. No entanto, os sonhos de muitos dos nossos jovens são simples: um emprego, uma casa, alguns filhos. Convivendo com famílias com esses desejos, eu percebi que a família não é o doente da nossa sociedade. É a sua cura.
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Venezuela. Uma Igreja dividida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU