15 Setembro 2016
O diálogo entre o Governo e a oposição vai ganhando forma lentamente na Venezuela. O Vaticano confirmou em agosto que aceita ser intermediário em eventuais negociações. O cardeal Pietro Parolín, secretário de Estado do papa Francisco, informou mediante carta ao secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, que a Igreja Católica concorda em intervir na crise e pede às duas partes um convite formal para começar o diálogo, circunstância que ainda não ocorreu.
A reportagem é de Maolis Castro, publicada por El País, 14-09-2016.
A incorporação do Vaticano à comissão de facilitadores de um diálogo depende da solicitação e da instalação formal das negociações entre esses adversários políticos na Venezuela. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, confirmou que o Vaticano enviou a carta à Unasul, mas não revelou se encaminhará uma petição oficial de mediação da Igreja Católica. Em julho, o Governo e a oposição aprovaram uma possível arbitragem da Santa Sé.
Até agora os facilitadores do diálogo são o ex-presidente de Governo da Espanha (primeiro-ministro) José Luis Rodríguez Zapatero, e os ex-presidentes Martín Torrijos, do Panamá, e Leonel Fernández, da República Dominicana. Jesús Torrealba, secretário-geral da coalizão oposicionista Mesa da Unidade Democrática (MUD), afirmou nesta quarta-feira que enviará uma resposta ao Vaticano. “A carta chega em um momento em que o governismo tentou empanar a imagem da oposição. Nós estamos dispostos a conversar com quem quer que seja para conseguir que sejam respeitados os cronogramas do referendo revogatório para mudar de presidente na Venezuela”, explicou a este jornal.
Na terça-feira, o chavismo revelou um secredo da oposição. Jorge Rodríguez, prefeito de Caracas, afirmou que o Governo manteve dois encontros privados com quatro representantes da MUD. “Foram reuniões preparatórias para um possível diálogo. Nunca deixamos de exigir que sejam respeitados os períodos de tempo do referendo revogatório na Venezuela”, confirmou Torrealba. O anúncio caiu como uma bomba nos meios políticos por causa da recusa do Governo de aceitar a exigência da oposição de sentar-se em uma mesa de diálogo se for realizado este ano o referendo revogatório para depor Maduro. Henrique Capriles, governador do Estado de Miranda e ex-candidato presidencial, respondeu que tinha “reservas” quanto às últimas decisões da MUD, mas as respalda por pertencer a esse partido. “Se há um milímetro de negociação turva que comprometa o país, eu vou dizer”, alertou.
Acesse aqui Carta enviada do Vaticano à Unasul
Maduro dá estratégicos passos na direção do diálogo como saída para a crise. Mas os possíveis acordos entre a oposição e o Governo desmoronaram por causa da resistência dos governistas de libertarem os presos políticos, reconhecerem a crise econômica e respeitarem os prazos de um referendo revogatório. Por isso, muitos opositores criticam as reuniões secretas com o Executivo. E embora a carta do Vaticano seja a primeira manifestação direta de sua disponibilidade para mediar um possível diálogo, o Governo da Venezuela precisa formalizar essa petição.
O conflito político não parece minguar. A oposição advertiu que não abandonará as ruas até obter uma data para a arregimentação dos 20% de assinaturas do eleitorado, necessárias para a ativação do referendo revogatório. Se a consulta se realizar depois de 10 de janeiro e a MUD obtiver mais votos do que os conseguidos por Maduro nas presidenciais, ocorridas em abril de 2013, o vice-presidente da República, Aristóbulo Istúriz, ficaria no comando do país até o final do mandato.
A popularidade de Maduro continua em queda por causa da crise econômica, as últimas prisões de dirigentes políticos, a escassez de remédios e alimentos e os empecilhos impostos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) — controlado pelo chavismo — para realizar este ano o referendo revogatório. O prefeito Rodríguez, o encarregado pelo oficialismo da verificação das assinaturas do referendo, introduziu ações contra a MUD por cometer supostas fraudes no processo. A oposição respondeu com protestos multitudinários para pressionar o Poder Eleitoral. Para a próxima sexta-feira promete uma concentração nas ruas para pedir que nesse dia seja anunciada a coleta dos 20% das assinaturas do eleitorado. Segundo o deputado oposicionista Richard Blanco, se a data da coleta e suas condições não forem justas, serão realizadas mobilizações mais contundentes para conseguir uma retificação do Poder Eleitoral.
M. C.
O Tribunal Penal Internacional desmentiu Lilian Tintori, mulher do oposicionista preso Leopoldo López, sobre uma suposta ação introduzida em 5 de setembro contra o presidente Nicolás Maduro pelos delitos de tortura, desaparecimentos forçados, execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias e perseguição.
Segundo uma porta-voz da procuradoria desse tribunal, Tintori não entregou nenhum documento nesse dia. A mulher de López afirmou que se tratou de uma ampliação de um expediente existente desde novembro de 2015: “Em minha visita a Haia, em 5 de setembro, quis informar os venezuelanos sobre essa solicitação e o fiz por meio das redes sociais. O comunicado de imprensa do Tribunal Penal Internacional está certo ao dizer que não recebeu denúncia em setembro, já que minha mensagem nas redes sociais se referia às solicitações e gestões realizadas antes dessa data, às quais temos dado permanente atualização e acompanhamento”.
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Vaticano aceita mediar negociações entre o chavismo e a oposição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU