18 Julho 2017
"As pragas, as grandes e crescentes emergências sicilianas do nosso tempo apresentam-se esta noite diante dos nossos olhos. A primeira e mais importante, creio eu, é o risco generalizado da falta de futuro. Corremos o risco de ser uma cidade e uma região sem futuro, o futuro - lembremo-nos – de uma história gloriosa, porque a endêmica falta de trabalho não só pode provocar uma crise irreversível na nossa economia, mas, principalmente, porque corre o risco de roubar a esperança de um amanhã aos nossos jovens".
A nota é publicada pelo jornal italiano Manifesto, 16-07-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
"O êxodo da Sicília está se tornando uma necessidade histórica terrível, que priva a terra de sua nutrição essencial. E o que alimenta um território, uma cidade, são os desejos, os projetos, a vontade de fazer, as ideias e as aspirações das jovens gerações que se revezam ao longo das décadas e dos séculos. Sem a seiva ideal e renovada desse ardor, sem o sabor desse sonho, não há amanhã - afirma o bispo. Sem trabalho real, digno e construtivo, direcionado a mudar o mundo, não vai haver amanhã".
E ainda: "Enquanto acontece esse êxodo doloroso, Palermo e toda a Sicília são o porto ideal de outro êxodo, de dimensões planetárias, o dos povos do Sul do planeta - dos nossos irmãos africanos e do Oriente Médio - que chegam à Europa em busca de abrigo e de oportunidade de vida. Porém, não devemos nos esconder atrás dos clichês e das visões distorcidas por tanta política. A mola final que impulsiona esse êxodo bíblico, para além de qualquer consciência de quem parte, é o desejo de justiça. Porque construímos e estamos construindo um mundo sem justiça, no qual, de forma intolerável, os pobres ficam mais pobres enquanto os ricos ficam mais ricos e são cada vez menos. Um mundo em que o Norte – os Estados Unidos, a Europa - todos os chamados países desenvolvidos, podem explorar e saquear as riquezas dos povos do Sul – da África, da Ásia - sem escrúpulos e sem restrição. É desse desequilíbrio, que condena à fome bilhões de pessoas, dessa ordem política que aceita e fomenta a guerra e, assim, a fuga desesperada dos civis, é dessa forma de organizar (ou desorganizar) o mundo, que se origina o êxodo desesperado de milhões de pessoas que, em última instância, vêm aqui nos pedir justiça e direitos. E Palermo e a Sicília representam o destino privilegiado dessas viagens, o porto ideal do Ocidente".
Segue o bispo: "Caros cidadãos e cidadãs, seria um grave erro contrapor os dois êxodos, o dos nossos jovens e o dos povos do Sul. Aqueles que têm uma responsabilidade política e, infelizmente, são míopes e ignorantes podem fazê-lo. Nós, não. Nós, não. Pensar que seja a chegada de tantos irmãos do sul que tiram o trabalho dos nossos jovens é uma sandice total. Pelo contrário: o êxodo da nossa época da África através do Mediterrâneo é o apelo e, acima de tudo, a oportunidade que a história nos oferece, para reverter a estrutura perversa do mundo e de sua economia; para criar novas possibilidades e novas esperança justamente graças ao acolhimento e à integração dos tantos que chegam e que, hoje, já são um pulmão de trabalho e do estado social da Itália. A aliança entre os dois êxodos, e não sua contraposição, é o verdadeiro horizonte que poderá nos permitir a passagem para uma nova etapa. Os migrantes e os jovens na Sicília não são inimigos uns dos outros, mas são o povo do futuro, o povo da esperança".
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O êxodo dos jovens e dos povos do Sul não pode ser contraposto, diz arcebispo de Palermo, Itália - Instituto Humanitas Unisinos - IHU