27 Mai 2017
Ele substitui o cardeal Agostino Vallini, que renunciou por motivos de idade. Aos 63 anos, De Donatis foi ordenado bispo pelo próprio pontífice e é apreciado por grande parte do clero romano do qual é formado e pai espiritual. “Agradeço a Bento XVI e a Ruini pelas seguras orações, e a João Paulo II e a Poletti que, do céu, estão perto de mim”.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 26-05-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
É o bispo auxiliar Dom Angelo De Donatis, 63 anos, natural de Salento, o novo vigário da diocese de Roma, que sucede o cardeal Agostino Vallini, que, em 17 de abril, completou 77 anos e ultrapassou os dois anos de “prorogatio”. Ele começará o seu ministério no próximo dia 29 de junho, solenidade dos Santos Pedro e Paulo, padroeiros de Roma.
O anúncio foi comunicado oficialmente na manhã dessa sexta-feira – festa de São Filipe Neri, copadroeiro de Roma – às 12h, pelo próprio Vallini, na sala do terceiro andar do Palácio do Vicariato (a sala das nomeações) aos bispos auxiliares, párocos prefeitos e empregados do Palácio Lateranense, estes últimos convocados por e-mail meia hora antes.
“Estarei aqui até o dia 28 de junho para apoiá-lo e passar-lhe o bastão, junto com os bispos auxiliares”, disse o vigário cessante. Enquanto o sucessor, De Donatis, muito emocionado a ponto de quase se engasgar com as palavras, abriu o seu discurso com uma piada: “O Papa Francisco disse brincando uma vez: ‘Só se se tiver sérios problemas psiquiátricos pode-se aspirar a se tornar papa!’. Pois bem... sobre o fato de se tornar vigário de Roma, eu lhes asseguro que eu nunca tive esses problemas psiquiátricos! Acolho esse chamado do Senhor e da Igreja com humildade profunda e sincera, consciente dos meus pecados e dos meus limites, e me coloco nas suas mãos”.
Depois, expressou gratidão ao pontífice e ao cardeal Vallini, assim como ao Papa Emérito Bento XVI e ao cardeal Camillo Ruini pelas “seguras orações”. Um pensamento também para João Paulo II e para o cardeal Ugo Poletti, “de venerada memória” (histórico vigário de Roma), que o sustentam “do céu”.
É uma figura carismática o “Pe. Angelo”, como continuam a chamá-lo os fiéis de San Marco Evangelista no Capitólio, por anos a sua paróquia no centro de Roma, e os inúmeros sacerdotes da capital, dos quais, em sua grande maioria, ele é pai espiritual e formador, os quais, maciçamente, propuseram o seu nome nas cerca de 400 cartas da consulta convocada pelo papa.
Francisco sempre mostrou grande estima por ele, chamando-o para pregar os Exercícios Espirituais da Quaresma de 2014 em Ariccia e, depois, ordenando-o bispo, com a sede titular de Mottola, em São João de Latrão, em 9 de novembro de 2015, solenidade da dedicação da basílica lateranense. Um gesto significativo, que já havia prenunciado a nomeação de hoje há dois anos.
“Anuncie a Palavra em todas as ocasiões oportunas e, às vezes, inoportunas”, havia-lhe recomendado o papa na homilia, “advirta, repreenda, mas sempre com doçura; exorte com toda a magnanimidade e doutrina. Que as suas palavras sejam simples, que todos entendam, que não sejam longas homilias. Permito-me dizer-lhe: recorde-se do seu pai, quando ele ficava tão feliz por ter encontrado perto da localidade outra paróquia onde se celebrava a missa sem homilia! Que as homilias sejam precisamente a transmissão da graça de Deus: simples, que todos entendam e que todos tenham a vontade de se tornar melhores.”
No Vicariato, contam que, quando Vallini havia anunciado a ordenação episcopal de De Donatis durante o Congresso Diocesano de dois anos atrás, houve uma forte ovação dos sacerdotes presentes. Em outra ocasião, depois do tradicional encontro do pontífice com o clero romano em São João, Bergoglio havia encontrado privadamente os seminaristas do Seminário Maior na Sala Rossa do Vicariato, para se “desculpar” por ter adiado duas vezes a sua visita e por ter reiterado o seu afeto filial, indicando precisamente De Donatis (Vallini, daquela vez, tinha sido deixado de fora) como seu “representante”, ponto de conjunção entre o bispo de Roma e os futuros padres.
A Dom De Donatis, o papa confiou – com uma novidade absoluta – o cuidado do clero romano, presbíteros, seminaristas e diáconos, a serem amados – disse ele no dia da ordenação – “com todo o coração” de pai e irmão. E, junto com eles, também os pobres, os indefesos e aqueles que precisam de ajuda. “Escute-os de bom grado e com paciência”, dissera o papa: “Muitas vezes é preciso muita paciência, mas, pelo Reino de Deus, se faz isso!”. E, justamente no empenho em relação ao clero, Francisco, de improviso, tinha feito um pedido específico ao novo prelado, na vigília do Jubileu da Misericórdia: “Peço-lhe, como irmão, que você seja misericordioso. A Igreja e o mundo precisam de tanta misericórdia. Ensine aos presbíteros, aos seminaristas o caminho da misericórdia. Com palavras, sim: mas, sobretudo, com a sua atitude. A misericórdia do Pai que sempre recebe, sempre há lugar no seu coração, nunca expulsa ninguém. Espera. Espera. Desejo-lhe isto: tanta misericórdia”.
Descrito por todos como um “homem de oração” e de “profunda espiritualidade”, Dom Angelo De Donatis, apesar das origens da Puglia, está fortemente ligado à diocese romana, fazendo memória do ensinamento do cardeal Poletti, que, disse ele na manhã desta sexta-feira, “me acompanhou por muitos anos” e “me repetia: ‘Angelo, lembre-se de que a diocese, a nossa diocese, não é uma máquina para se fazer funcionar, mas uma família para se amar’”.
Na sua primeira saudação, Pe. Angelo tinha agradecido “a Igreja de Roma, à qual devo tudo, desde a minha chegada à cidade e que eu amo muito”, e os diversos sacerdotes, a quem pediu “a oração para que nunca me faltem assiduidade e cotidianidade”.
Nascido em 4 de janeiro de 1954 em Casarano, província de Lecce e Diocese de Nardo-Gallipoli, aluno antes do Seminário de Taranto e depois do Pontifício Seminário Romano Maior, ele completou os estudos filosóficos na Lateranense e os teológicos na Gregoriana, onde obteve a licença em Teologia Moral. Foi ordenado sacerdote em 12 de abril de 1980, pela Diocese de Nardo-Gallipoli e, desde 28 de novembro de 1983, está incardinado em Roma.
Depois de ter sido, no início dos anos 1980, colaborador na paróquia de San Saturnino e professor de religião, de 1983 a 1988, foi vigário paroquial da mesma paróquia, no bairro Trieste. Entrou no Vicariato em 1988 como membro da secretaria geral e colaborador do arcebispo Giovanni Marra. Ao mesmo tempo, foi vigário paroquial na paróquia Santissima Annunziata em Grottaperfetta.
De 1989 a 1991, desempenhou o cargo de arquivista da Secretaria do Colégio Cardinalício; de 1990 a 1996, foi diretor do Escritório do Clero do Vicariato de Roma; de 1990 a 2003, diretor espiritual do Pontifício Seminário Romano Maior; a partir de 2003, pároco de San Marco Evangelista no Capitólio e assistente para a diocese de Roma da Associação Nacional dos Familiares do Clero.
É membro do Conselho Presbiteral Diocesano e do Colégio dos Consultores. Em 1989, foi admitido na Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém com o grau de Cavaleiro. É Capelão de Sua Santidade desde 10 de abril de 1990.
Chegou à sua designação depois que o papa havia pedido, através dos párocos prefeitos do Vicariato de Roma, que promovessem uma consulta nas paróquias para definir o perfil do sucessor de Vallini. Ao pontífice, chegaram cerca de 400 cartas com indicações de nomes (entre estes, também circulavam os de Fisichella, Pompili, Lojudice, Moretti, Ruzza) e indicações sobre as necessidades da diocese marcada por graves problemas pastorais, administrativos e econômicos, depois de nove anos de ministério de Vallini.
As cartas chegaram quase todas à Casa Santa Marta, residência papal no Vaticano. Poucas, por outro lado, haviam sido entregues no escritório da Chancelaria do Palácio Lateranense, em envelope duplo selado, como pedia o procedimento, mas que nunca foi publicado ou mostrado em detalhes pelos órgãos oficiais do Vicariato. Uma diretriz – explicam ao Vatican Insider – do próprio cardeal-vigário, que resultou na baixa participação, especialmente por parte dos leigos em dúvida até o fim sobre o seu envolvimento nas chamadas “primárias”.
Em todo o caso, Francisco – que, na reunião no Vicariato com os prefeitos dissera que estava procurando “um bom padre” – leu tudo o que chegou até ele. Assim, a Congregação para os Bispos fez o trabalho de documentação para preparar uma terna de candidatos, assim como se faz para a nomeação de bispos diocesanos. Embora houvesse outras candidaturas, a escolha do papa foi para o bispo De Donatis. Com essa designação, Francisco mostra que aponta para os recursos internos da sua diocese para reconstruir a relação com as paróquias e com um clero nada fácil como o romano.
A nomeação de De Donatis chega poucos dias depois da do presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), o arcebispo Gualtiero Bassetti. Em ambos os casos, o Papa Bergoglio apontou para dois pastores “com cheiro de ovelhas”. O mesmo critério que certamente ele vai adotar para a escolha do arcebispo de Milão, cuja nomeação é esperada para breve.
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Vigário de Roma: papa escolhe Dom Angelo De Donatis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU