29 Agosto 2016
Justin Welby falou sobre como as suas próprias falhas o têm deixado furioso e disse que ele tem passado “bastante tempo se sentindo um fracassado” em entrevista concedida no festival cristão Greenbelt, em Northamptonshire.
Falando à apresentadora Kate Bottley, no programa de tevê “Gogglebox” diante de centenas de espectadores, o Arcebispo de Canterbury disse que, onde quer que vá, ele encontra pessoas que poderiam desempenhar o seu papel de uma forma “infinitamente melhor” do que ele próprio.
A reportagem é de James Macintyre, publicada por Christian Today, 27-08-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
E em comentários surpreendentemente francos sobre as relações homoafetivas, Welby declarou que “não consigo ver um caminho daqui para frente” em se tratando da atuação da igreja sobre o assunto.
Antes da sessão de perguntas e respostas, o religioso foi apresentado por Andy Walton, do programa televisivo Christian Today, que disse: “Um dos nossos convidados é o cristão do mais alto escalão em nosso país (...) e o outro é o Arcebispo de Canterbury”.
Welby brincou dizendo que “o fato de eu ser o Arcebispo de Canterbury é uma das coisas que me faz duvidar seriamente da infalibilidade de Deus”.
O líder dos anglicanos disse haver “somente um jeito de superar” as próprias dúvidas, “e este é o caminho da oração e da Bíblia; é sendo parte da família de Cristo (...), com todos os tipos de problemas e dúvidas; e nós temos um papel nessa família”.
Welby falou que quando a sua própria filha de sete meses de idade morreu em um acidente de carro, “Deus apareceu. Não temos na memória nenhum outro momento em que ele esteve tão perto (...) Pareceu que o Senhor tinha estendido sua mão e olhado para ela. Foi muito real”.
Perguntado sobre qual era a sua “maior frustração” e o que lhe tirava do sério, Welby falou: “Eu próprio. Eis a coisa que me mais me tira do sério: eu próprio... As minhas próprias falhas”. O arcebispo, que elogiou a sua equipe de trabalho, deu o exemplo de “quando fico irritado com as pessoas: não tenho enviado muitos e-mails (...) O melhor amigo da unidade cristã é a caixa de rascunhos”. Ele falou que escreve alguns e-mails e os mostra a outras pessoas antes de enviá-los.
Disse ainda que não monitora mais o Twitter porque “se o que as pessoas escrevem sobre mim é algo legal, eu me sinto bem; e se não for algo positivo, é preciso seguir em frente e deixar passar”.
Welby brincou que uma das piores coisas que já escreveram sobre ele no Twitter foi quando o chamaram de “vice-anticristo – isso realmente doeu: Por que sou o vice? Falam sobre mim acrescentando insultos à injúria”.
O religioso disse que achou “estafante” discursar à multidão no festival em Greenbelt. Ele, porém, atraiu fortes aplausos do público de maioria progressista.
Perguntado por um participante da plateia quando a igreja estaria em condições de abençoar as uniões civis homoafetivas, o arcebispo respondeu dizendo não saber da resposta. “Eu não tenho uma boa resposta para a sua pergunta”, disse.
“Se fôssemos a única igreja aqui e não houvesse outras mais, e se a divisão não importasse, a resposta seria mais fácil”.
Welby falou que a inclusão de gays e a proteção contra abusos sexuais eram as duas questões que o deixam em estado de alerta o tempo todo.
“Será que eu sei quando haverá um momento em que daremos as bênçãos às uniões civis? Não. Eu não sei e não consigo ver um caminho daqui para frente”.
O líder dos anglicanos declarou que “temos de encontrar um jeito de amar e acolher a todos que amam Jesus Cristo”, mas disse também que isso incluía os que acham – ou que vêm de sociedades que acreditam – que as relações homoafetivas são “profundamente, profundamente erradas”.
Welby falou sobre o “incrível conflito que é importante para muitas pessoas e que toca no cerne da identidade muitíssimos cristãos”. E acrescentou: “Não existe uma solução simples. Eu não tenho respostas”. E concluiu: “Fico constantemente chocado” com a forma como a igreja tem tratado a comunidade LGBT.
Perguntado sobre os perigos que há na função que desempenha como Arcebispo de Canterbury, Welby responde: “A gente inicia supondo que as coisas vão acontecer sem precisar chamar a atenção de todo mundo, o tempo todo, e isso pode se tornar perigoso, muito perigoso”.
Sobre a imprensa, ele falou: “Parei de me preocupar com ela (...) Não gosto de dizer isso, mas na verdade eu gosto bastante da imprensa”, acrescentando que ele, cada vez mais, gosta de políticos que, por vezes, “desempenham um trabalho incrivelmente difícil”.
E concluiu dizendo: “O futuro da igreja é a ressureição (...) O futuro da igreja neste país é fantástico, porque Deus é Deus – ele não vai ir embora. Ele irá se certificar de que o nome de Jesus seja proclamado nessa terra, seja como for”.
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Justin Welby: “Fico constantemente chocado com a forma como a igreja tem tratado a comunidade LGBT” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU