O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 17, 11-19, que corresponde ao 28º Domingo do Tempo Comum, ciclo c do Ano Litúrgico, publicado por Religión Digital, 06-10-2025.
Há quem caminhe pela vida com um ar triste e amargo. Seu olhar está sempre fixo no desanimador. Falta-lhes a visão para ver que, apesar de tudo, o bem supera o mal. Não conseguem apreciar os muitos gestos nobres, belos e admiráveis que ocorrem todos os dias, em todo o mundo. Talvez vejam tudo como escuro porque projetam sua própria escuridão nas coisas.
Outros vivem em perpétua atitude crítica. Passam a vida observando o negativo ao seu redor. Nada escapa ao seu julgamento. Consideram-se lúcidos, perspicazes e objetivos. No entanto, nunca elogiam, admiram ou expressam gratidão. Seu foco está em destacar o negativo e condená-lo.
Outros passam a vida indiferentes a tudo. Só enxergam o que serve aos seus próprios interesses. Não se deixam surpreender por nada gratuito, não deixam que ninguém os ame ou os abençoe. Trancados em seu próprio mundo, já têm o suficiente para defender seu pequeno, cada vez mais triste e egoísta bem-estar. A gratidão nunca brota de seus corações.
Muitas pessoas vivem vidas monótonas e entediantes. Suas vidas são pura repetição: a mesma rotina, o mesmo trabalho, as mesmas pessoas, as mesmas conversas. Elas nunca descobrem uma nova paisagem em suas vidas. Nunca vivenciam um novo dia. Nada de novo lhes acontece que renove seu espírito. Elas não sabem amar as pessoas de uma nova maneira. Seus corações não conhecem louvores.
Para viver com gratidão, é necessário reconhecer a vida como boa; olhar o mundo com amor e compaixão; limpar o olhar da negatividade, do pessimismo ou da indiferença para apreciar o que há de bom, belo e admirável nas pessoas e nas coisas. Quando São Paulo diz que "fomos criados para louvar a glória de Deus", ele expressa o significado e a razão mais profundos da nossa existência. No episódio narrado por Lucas, Jesus se surpreende ao ver que apenas um dos leprosos retorna "dando graças" e "louvando a Deus". Ele é o único que soube se surpreender com a cura e se reconhecer abençoado.