A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Evangelho de João 1-9, que corresponde à Solenidade da Ressurreição de Jesus, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: "Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram". Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.
Feliz Páscoa é a saudação que nos acompanha neste domingo e durante toda a semana que se inicia. Mas o que significa celebrar a Ressurreição neste tempo histórico em que estamos vivendo tantas notícias de conflitos? Uma realidade em que parecem predominar atitudes desumanas por parte daqueles que deveriam cuidar de seu povo, em que milhares de crianças morrem por falta de comida, em que as guerras obrigam milhões de pessoas a deixar suas casas para simplesmente viver? É possível celebrar em meio a essa realidade e onde parece que a alegria e a esperança tendem a se extinguir? Neste domingo, Jesus nos diz novamente que a morte não tem a última palavra, que sua Páscoa é o fogo que alimenta nossa esperança. Como cristãos e seus seguidores, sabemos que é ele quem traz a vida que dá sentido à dor, à tristeza e ao desânimo.
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada.
A história começa nos colocando no primeiro dia da semana. Ela nos coloca no início de um novo dia que marca o início de uma nova semana. Antes de mais nada, temos em mente que João, no início de seu evangelho, conta a história do chamado aos discípulos, detalhando cada dia que culmina - três dias depois - com as Bodas de Caná, fechando assim uma primeira semana de Jesus que chama, atrai, desperta perguntas e celebra um casamento em que o vinho não pode faltar e, por isso, a água das jarras será transformada em vinho para que a alegria seja transbordante.
O Evangelho também relata a última semana de Jesus, que começa com a unção em Betânia: “seis dias antes da Páscoa”. Um gesto gratuito e generoso de amor de Maria para com Jesus, que leva Judas a questionar e repreender Jesus por permitir esse desperdício de dinheiro “em vez de dá-lo aos pobres”. Gestos de amor que Judas não consegue ver nem apreciar e que, pelo contrário, alimentam sua decisão de entregá-lo nas mãos dos sumos sacerdotes que, a partir de agora, também querem matar Lázaro.
Jesus foi preso e condenado injustamente, é crucificado e Maria, sua mãe, a discípula que ele amava, Maria de Cléofas e Maria Madalena estão ao seu lado. João detalha com muita precisão a morte de Jesus, que, depois de dizer “tudo está consumado, inclina a cabeça e entrega seu Espírito”. Estamos nos preparando para a Páscoa e os judeus querem evitar que o crucificado seja deixado ao longo da estrada em agonia, por isso pedem a Pilatos que quebre suas pernas para apressar sua morte e tirá-lo da cruz. Como Jesus já estava morto, um soldado perfurou seu lado com uma lança.
José de Arimateia, que até então era discípulo, secretamente, “por medo dos judeus”, toma a coragem de pedir o corpo de Jesus e, junto com Nicodemos, que havia sido tocado pelas palavras de Jesus, recolhem o corpo, ungem-no, envolvem-no em um pano de linho, de acordo com o costume judaico, e o levam para ser sepultado em um túmulo novo, onde ninguém jamais havia sido sepultado. O texto deixa claro mais uma vez que é “por causa do dia de preparação para a Páscoa e porque o túmulo estava próximo”.
O relato deste domingo nos coloca no primeiro dia de uma nova semana, quando ainda estava escuro, o que nos coloca entre a luz e a escuridão. É um primeiro dia diferente porque esta semana nunca terminará, é o início de uma terceira semana em que o casamento da primeira semana e a Páscoa da segunda semana estão unidos em Jesus. O texto dá uma ampla descrição do que acontece nesse momento: Maria Madalena vai ao sepulcro, bem cedo, quando ainda estava escuro. Sem dúvida, foi uma noite muito dura e difícil, uma noite de profunda tristeza ao ver a jornada de Jesus e como ele foi crucificado e morto. Dias de grande tensão também para toda a comunidade de seguidores de Jesus, a incompreensão de uma morte tão repentina, embora Jesus tivesse lhes dito, possivelmente alguns, como Pedro, carregam a dor de não tê-lo acompanhado mais de perto... Mas em meio a essa escuridão, exterior e interior, Maria Madalena decide sair. Assim que pode, ela vai ao túmulo, ao local onde o corpo de Jesus foi colocado.
Mas, ao chegar lá, “viu que a pedra havia sido removida do sepulcro”. E, como o texto relata, a primeira coisa que faz é correr de volta para contar a Pedro e João e dizer a eles: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”. Quem removeu a pedra do sepulcro? O texto não deixa claro, mas coloca na boca de Maria Madalena o fato de que o corpo do Senhor foi levado e não se sabe onde foi colocado. Assim, somos confrontados com um relato que, antes de tudo, nos coloca em uma nova realidade, no primeiro dia de uma nova semana, e em um momento específico em que a luz se abre em meio à escuridão.
A pedra foi removida e o túmulo não é mais o lugar onde os mortos são colocados. Não é possível abraçar o corpo morto de Jesus, como Maria Madalena possivelmente queria fazer. Jesus não está mais lá, e a pedra foi removida para dar lugar a uma nova vida que não tem tempo nem lugar físico. Maria conta que o corpo de Jesus também não está lá e os discípulos correm, um mais rápido que o outro, e juntos constatam a mesma realidade: viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte.
Aquilo que envolveu o corpo de Jesus estava lá, cuidadosamente dobrado e cada um depositado em um determinado lugar. Entendemos que o corpo de Jesus não foi roubado violentamente, não houve um grupo que entrou nesse lugar e o levou. O texto nos diz que quando o discípulo amado entra no túmulo “Ele viu e acreditou” e acrescenta: “De fato, eles ainda não entendiam a Escritura, segundo a qual era preciso que ele ressuscitasse dos mortos”.
O discípulo “vê e crê”. E ele entende o que Jesus lhes disse por tanto tempo. De maneira clara e concisa, o texto nos dá a oportunidade de nos colocarmos no lugar desse discípulo e compartilharmos com ele a experiência de ver e crer. No início do evangelho, Jesus os convidou a segui-lo dizendo: venham e vejam. Agora o texto acrescenta uma nova experiência, o encontro com Jesus ressuscitado. Ao ver que Jesus, como ele o conhecia, não está mais lá, o discípulo acredita e entende o que ele lhes disse por tanto tempo.
Acreditar em Jesus ressuscitado é uma experiência que precisa ser feita, pode ser testemunhada, como os discípulos farão, mas precisa ser vivida, precisa ser “experimentada”. Em meio à dor de tantos túmulos, onde a morte e a escuridão da noite parecem reinar, o Evangelho nos convida mais uma vez a caminhar, a buscar, a correr, como Maria Madalena, deixando-nos iluminar pela aurora do dia e ver que a pedra do túmulo foi removida porque Jesus não está lá. A vida que não morre e que atravessa todas as fronteiras da dor e da morte não habita em um túmulo, mas o ilumina. Foi essa fé no Cristo Ressuscitado que levou a primeira comunidade a comunicá-lo, a tornar conhecida a riqueza de seu Amor, convidando outros a compartilhar essa experiência de fé e vida!
Para que essa realidade seja possível, devemos, antes de tudo, reconhecer os túmulos e remover a pedra que os esconde, como diz o Papa Francisco: “grandes pedras, pedras pesadas, bloqueiam as esperanças da humanidade: a pedra da guerra, a pedra das crises humanitárias, a pedra das violações dos direitos humanos, a pedra do tráfico de seres humanos e outras pedras também [...] A partir disso tudo começa de novo! Um novo caminho conduz através daquele túmulo vazio: o caminho que nenhum de nós, exceto Deus, poderia abrir; o caminho da vida no meio da morte, o caminho da paz no meio da guerra, o caminho da reconciliação no meio do ódio, o caminho da fraternidade no meio da hostilidade” (O Papa Francisco, em mensagem de Páscoa, pede cessar-fogo em Gaza e troca de prisioneiros entre Rússia e Ucrânia).
ESPERA
Esperarei que cresça a árvore,
e me dê sombra.
mas abonarei a espera
com minhas folhas secas.
Esperarei que brote o manancial
e me dê água.
mas limparei meu leito
de memórias enlameadas.
Esperarei que surja a aurora,
e me ilumine.
mas sacudirei minha noite
de prostrações e sudários.
Esperarei que chegue o que não sei,
e me surpreenda.
mas esvaziarei minha casa
de tudo que é esclerosado.
E ao abonar a árvore,
limpar o leito,
sacudir a noite,
e esvaziar a casa,
a terra e o lamento
se abrirão à esperança
Benjamin Gonzalez Buelta, Salmos para sentir e saborear as coisas internamente