Um Deus pródigo em vida. Comentário de Ana María Casarotti

Foto: Wikimedia Commons

20 Dezembro 2024

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 1,39-45, que corresponde ao 4° Domingo de Advento, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Eis o texto.

Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”.

Neste 4º domingo do Advento, nos detemos em Maria que, de acordo com o texto do Evangelho, parte sem demora para a região montanhosa de uma cidade da Judeia. Maria responde às palavras do Anjo com alegria e entusiasmo para encontrar sua prima Isabel, que, segundo ela, está grávida. Isabel, prima de Maria, é uma mulher de idade avançada que, junto com seu marido Zacarias, desejava ter um filho e receber essa bênção e dádiva de Deus. Mas até agora isso não havia sido possível. Entretanto, quando Maria recebe o anúncio do anjo de que será a Mãe do Salvador, ela também recebe a boa notícia da gravidez de Isabel. Uma alegria compartilhada, um Deus pródigo em vida a visitou e sua resposta foi imediata.

Todos nós temos a experiência de andar com pressa, tentando cobrir a distância que temos de percorrer no menor tempo possível. Somos movidos por diferentes motivações: porque não gostamos do caminho que temos de percorrer, porque é tarde e a escuridão nos deixa inseguros, para não nos atrasarmos para o trabalho ou para encontrar alguém que está nos esperando, porque nos atrasamos e perdemos uma viagem... Trajetos que fazemos rapidamente, talvez sem pensar muito, simplesmente tentando alcançar a meta o mais rápido possível. O texto nos diz que “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia”.

 

Imaginamos essa jovem que acaba de iniciar sua gravidez e que sai rapidamente para visitar sua prima que também está grávida. O que está batendo dentro dela? Quais são os sentimentos que a acompanham em sua jornada? Destacamos uma profunda alegria pela bênção que ela e sua prima receberam, pois foram visitadas por um Deus pródigo em Vida, que não poupa o precioso tesouro que é a vida. Durante sua caminhada, Maria também teria em mente aquele profundo desejo de Isabel de engravidar, talvez conhecido desde menina, sendo que Maria é muito jovem e Isabel já tem idade avançada. Assim, ela recriaria o entusiasmo daquela pequena família e o ambiente em que Isabel viveu quando soube que estava grávida. Ela deve ter recebido palavras de consolo, de bênção, que a encorajaram nesse novo momento de sua vida, diante de uma situação há muito esperada, mas que, devido à sua idade, poderia ter gerado certa insegurança: ela era uma mulher mais velha.

A viagem de Maria para a região montanhosa está repleta de lembranças, de possíveis diálogos que ela teve com sua prima que queria engravidar e não podia, e aquele rastro de dor que pode ter acompanhado Isabel por muito tempo agora está sendo transformado pelo inesperado, pela presença do Deus da vida. Maria quer chegar o mais rápido possível para compartilhar essa alegria. Sua caminhada é quase uma peregrinação em direção a esse novo santuário, onde a terra estéril foi transformada em uma fonte de água pura. Em seu ventre, ela carrega a vida que também vive nela e, apesar das dificuldades de sua gravidez incipiente, não hesita, nem por um segundo, em iniciar sua jornada. Ela tem um objetivo claro que a faz caminhar rapidamente para chegar o mais rápido possível para abraçar e agradecer ao Deus da Vida.

Neste domingo, somos convidados a acompanhar Maria nessa jornada. Deixemo-nos tocar por seus sentimentos, seus anseios, suas palavras cheias de vida que, sem dúvida, ela alimentou dentro de si durante sua jornada. Maria não viaja sozinha, ela carrega em seu ventre a vida que está crescendo e, ao longo do caminho, ouve conselhos, recebe bênçãos e talvez também perguntas, que mais uma vez guarda em seu coração. Nós nos deixamos nutrir por sua alegria, pela felicidade que habita nela e que cresce com o ritmo da vida que foi gerada nela.

Sua prontidão com um objetivo claro questiona nossa “rapidez” de uma cultura sem horizonte, onde o tempo é vivido no futuro e não a partir da alegria do presente.
Fazemos nossas as palavras do Papa Francisco, que nos convida a escutar a Virgem Maria, que acolhe o anúncio do Anjo com abertura, total abertura, e por isso mesmo não esconde a perturbação e as interrogações que lhe suscita; mas ela se envolve de boa vontade na relação com Deus que a escolheu, acolhendo o seu projeto. Há um diálogo e há uma obediência. Maria compreende que é destinatária de um dom inestimável e, “de joelhos”, ou seja, com humildade e espanto, escuta.
Ouvir “de joelhos” é a melhor forma de ouvir de verdade, porque significa que não estamos diante do outro na posição de quem pensa que já sabe tudo, de quem já interpretou as coisas antes mesmo de ouvir, de alguém que olha de cima para baixo mas, pelo contrário, nos abrimos ao mistério do outro, prontos a receber humildemente tudo o que ele nos quiser dar. Texto completo: “Só quem ama pode caminhar”. Discurso do Papa Francisco na Cúria Romana por ocasião do Natal.

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