A reflexão bíblica é preparada por Ana María Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado, comentando o evangelho do 26º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico.
Naquele tempo, Jesus disse aos sacerdotes e anciãos do povo: "Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: 'Filho, vai trabalhar hoje na vinha!' O filho respondeu: 'Não quero'. Mas depois mudou de opinião e foi. O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: 'Sim, senhor, eu vou'. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?" Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "O primeiro". Então Jesus lhes disse: "Em verdade vos digo, que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele".
Neste domingo a liturgia apresenta o diálogo de Jesus com os sumos sacerdotes e os anciãos do povo. Neste momento Jesus não se dirige a grandes multidões como noutras ocasiões, mas sim àqueles que se consideram portadores de sabedoria, conhecedores da Lei de Deus e fiéis guardiões dela. Os evangelhos descrevem diferentes circunstâncias em que Jesus dialoga ou confronta esses grupos que detinham o poder religioso de seu tempo: fariseus, advogados, saduceus, sacerdotes e anciãos do templo. Em alguns momentos tentam desacreditar as suas ações porque "ele não guarda o sábado" (Mc 2,23), porque "os seus discípulos não seguem a tradição dos mais velhos, mas comem com mãos impuras" (Mc 7,5). , “é um blasfemador e mentiroso”.
Para compreender melhor a mensagem que a liturgia nos oferece neste domingo, é necessário contextualizá-la. No início do capítulo Mt 21, é narrada a entrada de Jesus a Jerusalem, onde foi saudado pela multidão que o considerava um profeta, por isso fizeram a pergunta: Quem é ele? Eles respondem: “É Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia”. Mas as autoridades recebem esta manifestação de fé popular com suspeita e preocupação. Seguindo o texto do Evangelho, Jesus entra no Templo e “expulsa todos os que vendiam e compravam no templo” (12) e cura os cegos e coxos que se aproximavam dele. Com a sua presença Jesus gera ao seu redor um movimento que indigna os legistas e os sumos sacerdotes. Segundo eles, Jesus assume atributos que não pode e não deve assumir.
Depois de um descanso em Betânia, Jesus voltou a Jerusalém e “entrou no templo e começou a ensinar” (Mt 21, 23). Este fato confunde e incomoda mais uma vez os sacerdotes e os anciãos do povo que perguntam a Jesus: Com que autoridade você faz isso? Quem lhe deu tal autoridade? Os que estão no poder sentem-se incomodados com a presença de Jesus que, quando questionado sobre a sua autoridade, responde com uma pergunta: O Batismo de João foi de Deus ou dos homens? Uma pergunta que os deixa sem palavras. Apanhados na sua própria decepção, não se atrevem a tornar pública a sua falta de compromisso com o baptismo de João, por medo do povo. São obrigados a dar uma resposta que os humilha diante do povo – “não sabemos” confirmando mais uma vez a autoridade de Jesus.
A seguir, Jesus faz-lhes uma pergunta que introduz a história do texto que lemos neste domingo. É uma pergunta simples: “O que você acha? E abre a reflexão sobre as ações de dois filhos para com o pai quando se deparam com a proposta de trabalhar na sua vinha. O primeiro diz diretamente que não quer trabalhar, mas depois reflete e vai. O segundo responde “Estou indo Senhor”, mas depois não vai.
A história termina com outra pergunta: Qual dos dois fez o testamento de seu pai? Na sua pergunta Jesus refere-se à vontade do pai que o convidou para trabalhar na sua vinha. Não o coloca na categoria de bom ou mau, mas destaca o convite ao trabalho e a resposta a esse pedido. Desta forma, Jesus prioriza a realização da ação proposta pelo pai e não a resposta dada inicialmente. Mais uma vez Jesus tenta mostrar que o que importa não são as aparências externas, neste caso o cumprimento da Lei, maximizando a perfeição dos ritos e das manifestações piedosas, mas o que realmente importa é o compromisso, a ação. Jesus destaca assim que aqueles que “entrarão primeiro no Reino de Deus serão os publicanos, as prostitutas” que acreditaram em João e ouviram a sua mensagem. O que importa mesmo é fazer como o filho que, embora responda que não vai, depois se arrepende e decide ir trabalhar na vinha. O verdadeiro filho é aquele que age com verdade e justiça, que tem compaixão pelos que sofrem, como Jesus fez no templo, curando os coxos e cegos. Quem realmente cumpre a vontade de Deus é aquele que o aclama entre o povo e o considera profeta porque a sua presença é verdadeiramente salvadora e ele experimentou a sua salvação.
De diferentes maneiras, o Papa Francisco convida-nos a viver um cristianismo comprometido com os outros. Não pode haver um verdadeiro compromisso com Deus se não houver um compromisso com aqueles que estão ao seu lado e sofrem.
Somos chamados e convidados a deixar-nos tocar pelo Espírito e a ser extensão do braço amoroso de Deus que é Pai-Mãe e que não exclui ninguém, mas convida todos e todas a trabalhar na sua vinha. Ele não desanima com a primeira negação, pelo contrário fica feliz quando este filho amado “se arrepende e vai trabalhar na sua vinha”. O tempo de Deus não corresponde ao tempo cronológico, pois cada momento pode ser um kairós na vida da pessoa ou de uma comunidade.
Pedimos a Deus que sejamos reflexo do amor de Deus que se expressa em ações concretas, em relações genuínas que geram vínculos de verdadeiro compromisso com o seu Reino e com as necessidades dos nossos irmãos e irmãs que se encontram em situações mais pobres e vulneráveis.