Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
Primeira Leitura: Pr 8,22-31
Salmo: 8,4-9
Segunda Leitura: Rm 5,1-5
Evangelho: Jo 16,12-15
Os versículos do evangelho de hoje exprimem a consciência da comunidade joanina: o conteúdo do evangelho, que é fruto da ação do Espírito Santo, é “toda a verdade”. Vem esclarecido o papel do Espírito como um guia para assimilação plena da verdade, revelada por Jesus.
v. 12: “Muitas coisas ainda tenho para dizer-vos, mas não as podeis compreender agora”. Este é um v. de transição. Na passagem seguinte, o Espírito é apresentado em sua função de guiar os discípulos e discípulas. O ensino de Jesus durante o ministério público permaneceu, por vezes, obscuro e enigmático devido à incapacidade dos/as discípulos/as em apreender o sentido profundo da sua revelação, ligada à identidade humano/divina da sua pessoa. O Espírito, como mediador da revelação completa e definitiva, após a elevação de Jesus ao céu, revelou o mistério e o significado de sua missão.
v.13: “Quando vier o Espírito da verdade, ele os guiará em toda a verdade.” Vem aqui enunciada a função específica do “Espírito da verdade”, que consiste em fazer os/as discípulos/as assimilarem a revelação de Jesus e habilitá-los para sua missão. No Antigo Testamento, YHWH foi descrito como um pastor e guia do povo de Israel no Êxodo do Egito; Jesus se proclamou o bom pastor que conduz (agó) suas ovelhas (10,16); agora é o Espírito da verdade que é apresentado como o guia (hodégeó) dos/as discípulos/as à plena verdade. O Espírito não se encarrega de anunciar coisas novas, isto é, integrar ou expandir o conteúdo da verdade, mas reanunciá-la. Trata-se da compreensão mais plena das palavras reveladoras de Jesus, nas quais os eventos pascais estão incluídos.
A verdade (alētheia), à qual o Paráclito conduz os discípulos e discípulas ou na qual ele os guia, não pode ser entendida senão como é compreendida no resto do Evangelho segundo João: é a prometida revelação da vida, que Jesus Cristo trouxe. Não deve ser limitada à ação moral, mas nem mesmo interpretada em um sentido gnóstico. Se trata da penetração profunda no conteúdo da revelação e também de sua aplicação ao comportamento da comunidade em meio ao mundo.
O Espírito “não falará de si mesmo”, afirma Jesus, “mas do que ouvir, e vos anunciará as coisas futuras” (v.13b). O ensinamento do Espírito virá da própria revelação de Jesus, ele ouvirá (akousei) e anunciará (anangelei) as coisas que virão, ou seja, fará com que as pessoas entendam os acontecimentos relativos ao drama da cruz e à glorificação de Jesus à direita do Pai. O anúncio das coisas futuras consiste em interpretar em relação a cada geração futura o significado contemporâneo daquilo que Jesus disse e fez. Assim como Jesus possui o escopo de conduzir os seres humanos ao Pai, o Espírito irá iluminá-los e guiá-los para Jesus.
v.14-15: “Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vos anunciará”. Jesus teve a missão de glorificar o Pai, anunciando e implementando seu plano de salvação; assim, o Espírito Santo irá “glorificar” Jesus, manifestando a sua grandeza ao lado do Pai. Jesus foi o revelador e o guia para com o Pai (1,18) por sua união íntima com ele. Assim o Espírito guiará os que creem a Jesus, porque está intimamente unido a ele, e anunciará o que recebeu dele. Dada a perfeita reciprocidade subsistente entre as Pessoas divinas pela comunhão total de vida, o Pai comunica ao Filho “tudo o que ele tem” (v.15) e o Filho compartilha ao Espírito, que o transmitirá em plenitude aos discípulos e discípulas de Jesus.
A vida nova em Cristo que doa paz e esperança (2ª. Leitura) é expressão do Verbo encarnado e espírito de sabedoria prenunciado no hino de Pr 8 (1ª. Leitura). Toda a Igreja, através do Paráclito, está ligada à revelação de Jesus Cristo, e também orientada em seu aprofundamento mediante as situações históricas requerem posicionamentos e decisões novas. Graças à ajuda do Paráclito, a verdade do evangelho está disponível aos discípulos e discípulas de Jesus e sua mensagem se torna sempre uma nova força. No e pelo Espírito a Igreja conhece o que foi dito, dado e prometido por Jesus. Por mais que seja difícil descobrir a verdade, vale aquilo dito em 1Jo 3,24: “Pelo Espírito que nos deu, sabemos que ele permanece em nós.”