03 Abril 2020
Jesus foi posto diante do governador, e este o interrogou: “Tu és o rei dos judeus?” Jesus declarou: “É você que está dizendo isso.” E nada respondeu quando foi acusado pelos chefes dos sacerdotes e anciãos. Então Pilatos perguntou: “Não estás ouvindo de quanta coisa eles te acusam?” Mas Jesus não respondeu uma só palavra, e o governador ficou vivamente impressionado.
Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiro que a multidão quisesse. Nessa ocasião tinham um prisioneiro famoso, chamado Barrabás. Então Pilatos perguntou à multidão reunida: “Quem vocês querem que eu solte: Barrabás, ou Jesus, que chamam de Messias?” De fato, Pilatos bem sabia que eles haviam entregado Jesus por inveja. Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer a ele: “Não se envolva com esse justo, porque esta noite, em sonhos, sofri muito por causa dele.”
Porém os chefes dos sacerdotes e os anciãos convenceram as multidões para que pedissem Barrabás, e que fizessem Jesus morrer. O governador tornou a perguntar: “Qual dos dois vocês querem que eu solte?” Eles gritaram: “Barrabás.” Pilatos perguntou: “E o que vou fazer com Jesus, que chamam de Messias?” Todos gritaram: “Seja crucificado!” Pilatos falou: “Mas que mal fez ele?” Eles, porém, gritaram com mais força: “Seja crucificado!” Pilatos viu que nada conseguia, e que poderia haver uma revolta. Então mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse: “Eu não sou responsável pelo sangue desse homem. É um problema de vocês.” O povo todo respondeu: “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre os nossos filhos.” Então Pilatos soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus, e o entregou para ser crucificado.
Em seguida, os soldados de Pilatos levaram Jesus ao palácio do governador, e reuniram toda a tropa em volta de Jesus. Tiraram a roupa dele, e o vestiram com um manto vermelho; depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em sua cabeça, e uma vara em sua mão direita. Então se ajoelharam diante de Jesus e zombaram dele, dizendo: “Salve, rei dos judeus!” Cuspiram nele e, pegando a vara, bateram na sua cabeça. Depois de zombarem de Jesus, tiraram-lhe o manto vermelho, e o vestiram de novo com as próprias roupas dele; daí o levaram para crucificar.
Quando saíram, encontraram um homem chamado Simão, da cidade de Cirene, e o obrigaram a carregar a cruz de Jesus. E chegaram a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer “lugar da Caveira.” Aí deram vinho misturado com fel para Jesus beber. Ele provou, mas não quis beber. Depois de o crucificarem, fizeram um sorteio, repartindo entre si as roupas dele. E ficaram aí sentados, montando guarda.
Acima da cabeça de Jesus puseram o motivo da sua condenação: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus.” Com Jesus, crucificaram também dois ladrões, um à direita e outro à esquerda. As pessoas que passavam por aí, o insultavam, balançando a cabeça e dizendo: “Tu que ias destruir o Templo, e construí-lo em três dias, salve-te a ti mesmo! Se é o Filho de Deus, desce da cruz!” Do mesmo modo, os chefes dos sacerdotes, junto com os doutores da Lei e os anciãos, também zombavam de Jesus: “A outros ele salvou... A si mesmo não pode salvar! É Rei de Israel... Desça agora da cruz, e acreditaremos nele. Confiou em Deus; que Deus o livre agora, se é que o ama! Pois ele disse: Eu sou Filho de Deus.” Do mesmo modo, também os dois bandidos que foram crucificados com Jesus o insultavam.
Desde o meio-dia até às três horas da tarde houve escuridão sobre toda a terra. Pelas três horas da tarde Jesus deu um forte grito: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, isto é: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Alguns dos que aí estavam, ouvindo isso, disseram: “Ele está chamando Elias!” E logo um deles foi correndo pegar uma esponja, a ensopou em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara, e deu para Jesus beber. Outros, porém, disseram: “Deixe, vamos ver se Elias vem salvá-lo!” Então Jesus deu outra vez um forte grito, e entregou o espírito. Imediatamente a cortina do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo; a terra tremeu, e as pedras se partiram. Os túmulos se abriram e muitos santos falecidos ressuscitaram. Saindo dos túmulos depois da ressurreição de Jesus, apareceram na Cidade Santa, e foram vistos por muitas pessoas.
Leitura completa do Evangelho de Mateus 26,14-27,66. (Correspondente ao Domingo de Ramos, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Hoje iniciamos a Semana Santa numa situação particular. Não haverá grandes celebrações ao longo de todo o mundo, por causa da pandemia que está afetando toda a humanidade. A leitura de Ramos é o evangelho de Mateus 21,1-11. Normalmente é lido numa praça, na rua, num espaço público para logo peregrinar até a Igreja, e fazendo memória deste momento a comunidade toda caminha em procissão, louvando o Senhor e acompanhando-o com palmas de oliveiras.
Momentos de alegria, de paz, de louvor, da presença simples de Jesus que está no meio do povo. Jesus chega à cidade Santa com seus discípulos e discípulas e junto com os grandes grupos de peregrinos que iam a Jerusalém para celebrar a Páscoa. Jesus chega a Jerusalém montado num jumentinho, entra de forma pacífica e não como costumavam a fazer os grandes conquistadores,
cheios de glória e poder. O poder de Jesus é a simplicidade, a paz, a alegria e a vida das pessoas. A imagem da entrada de Jesus narrada pelo evangelista está carregada de humildade, de modéstia, de paz, de harmonia.
“Este jumentinho é símbolo da vida campesina e pacífica, animal do pobre; é conhecida sua resistência na lida do cotidiano do campo: carrega peso, lavra a terra, suporta longas viagens... Não é animal para a guerra e nem para alimentar a vaidade daqueles que querem demonstrar seu poder diante dos outros. Jesus se serve de um jumentinho para dizer que não quer se impor pelas armas e pela força; seu senhorio é diferente, retomando as tradições campesinas de seu povo.”
Jesus acolhe o sentir do povo que o reconhece como o Messias que estavam aguardando. Eles estendem os mantos para que então Jesus pudesse montar com dignidade e entrar assim na cidade. Na sua própria pessoa Jesus comunica a Boa Nova da Salvação. A novidade do Evangelho manifesta-se novamente nele, na vida e na alegria que o acompanha e convida-nos uma vez mais a recebê-lo.
Esta Semana Santa será celebrada nas nossas casas, com as ruas de grandes cidades quase desertas, uma população restringida a seu lar, a sua casa. E este momento único na nossa história pode transformar-se numa ocasião privilegiada para aproximar-nos de Jesus, do seu sentir como pediu o Papa Francisco na imponente oração na Praça São Pedro.
Como proclamou o Papa Francisco: “A tempestade – hoje, o coronavírus – desmascara nossa vulnerabilidade e deixa descobertas essas falsas e supérfluas seguranças com as quais havíamos construído nossas agendas, nossos projetos, rotinas e prioridades”. A tempestade “desvela todas as intenções de encaixotar e esquecer o que nutre a alma de nossos povos” e, com elas, “caiu a maquiagem desses estereótipos com os quais disfarçávamos nossos egos sempre pretensiosos de querer aparentar, e deixou desvelado, mais uma vez, essa bendita pertença comum da qual não podemos, nem queremos nos evadir; esse pertencimento de irmãos”.
Durante a missa deste domingo foi lida a Paixão de Jesus narrada no evangelho de Mateus. Depois de ter celebrado a Páscoa com seus discípulos, dirigem-se ao monte Getsemani onde Jesus se afasta um pouco para rezar. Pede-lhes que eles também rezem, mas o sono é mais forte neles e não conseguem permanecer despertos.
Aparece Judas com uma multidão armada de espadas e paus de parte dos sumos sacerdotes para prendê-lo. Assim Jesus é levado diante de Caifás onde estavam reunidos os doutores da Lei que procuravam um falso testemunho para condená-lo à morte. Depois de ser atado, Jesus é levado diante de Pilatos, o governador, para que ele o condene à morte.
Pilatos sabe que está enviando para a morte uma pessoa que foi trazida por inveja de parte dos sumos sacerdotes. Depois de ver que não consegue nada no diálogo com os sumos sacerdotes, e “poderia haver uma revolta”, Pilatos manda trazer água, lavou as mãos diante da multidão” e diz: “Eu não sou responsável pelo sangue desse homem”. Jesus é assim flagelado, ultrajado e crucificado.
“Desde o meio-dia até às três horas da tarde houve escuridão sobre toda a terra. Pelas três horas da tarde Jesus deu um forte grito: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, isto é: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
“Houve escuridão sobre a terra”. Perguntamo-nos: é a mesma escuridão que aconteceu para os discípulos quando estavam na barca e foram pegos pela tormenta enquanto Jesus dormia? Como disse o papa Francisco, “Desde algumas semanas parece que tudo se escureceu. Densas nuvens cobriram nossas praças, ruas e cidades; foram se adonando de nossas vidas fazendo de tudo um silêncio que ensurdece e um vazio desolador que paralisa tudo por onde passa: se palpita no ar, se sente nos gestos, se diz nos olhares”.
Hoje contemplamos Jesus Crucificado e nele somos chamados e chamadas a colocar nossa confiança, nossa vida e a vida de todas as pessoas que queremos, de tantas pessoas que dia a dia entregam sua vida como Jesus para salvar os que se aproximam para serem atendidos. Em Jesus Crucificado está nossa verdadeira liberdade.
Recebemos uma vez mais as palavras do Papa Francisco, que nos convida a olhar a âncora que é a cruz. “Temos um leme: na cruz dele fomos resgatados. Temos esperança: em sua cruz, fomos curados e abraçados, para que ninguém ou nada nos separe do seu amor redentor”. Peçamos ao Senhor que no “meio do isolamento em que estamos sofrendo a falta de afetos e encontros, experimentando a falta de tantas coisas, saibamos “ouvir mais uma vez o anúncio que nos salva: ele ressuscitou e vive ao nosso lado”. Texto completo: Francisco protagoniza uma impactante oração pelo fim da pandemia em uma vazia e chuvosa praça São Pedro.
Uma meta a longo prazo
nos exige esforço
duro e prolongado.
Mas um cálculo
nos dá a confiança de que vale a pena.
talvez a cruz
seja somente um investimento.
Por amor a outra pessoa,
sacrificamos com gosto
tempo, força e dinheiro.
A cruz se chama
solidariedade com o outro
que sinto de algum modo
parte de mim mesmo.
Um golpe repentino,
pode fulminar-nos em um instante,
e nossa existência
fica ferida sem remédio.
Perde-se a saúde,
um ser querido, ou a estima pública.
Arranca-se um galho verde,
uma parte viva do eu.
Quando esta mutilação
encontra seu repouso,
a cruz se chama aceitação
Existe a cruz livre
a que escolho
aquela da qual não fujo.
Mas uma vez nela pregado
já não posso descer quando quero.
Entregam-se os projetos aos cravos
a fantasia aos espinhos
o nome aos rumores
os lábios ao vinagre
e os bens à partilha.
Aqui a cruz se chama
fidelidade ao amor no amor,
que é canto e fortaleza
ressuscitando pela ferida.
Benjamin González Buelta
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“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU