07 Fevereiro 2020
“Vocês são o sal da terra. Ora, se o sal perde o gosto, com que poderemos salgá-lo? Não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”.
"Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa. Assim também: que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu."
Leitura do Evangelho de Mateus capítulo 5,13-16 (Correspondente ao 5° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano litúrgico.)
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
A narrativa evangélica que se lê na liturgia deste domingo continua a proclamação das bem-aventuranças e faz parte do sermão da montanha. As bem-aventuranças reúnem o novo programa do reinado de Deus. Jesus apresenta às multidões que o seguem um novo estilo de vida. Nelas Jesus fala às pessoas que podem entender e viver sua mensagem e ser parte da vida do Reino de Deus. As bem-aventuranças são uma luz na esperança dos grupos humanos mais desfavorecidos e dos que ficam fora dos limites impostos pelos países e ambientes rodeados de muros excludentes.
Os ditos que reúne o evangelista neste discurso estão destinados a proporcionar à comunidade os ensinamentos essenciais para os discípulos e discípulas de Jesus. No texto deste domingo há duas pequenas parábolas: luz e sal. Nelas procura-se sinalizar aquilo que é fundamental no agir do povo de Deus no mundo. Responde à pergunta: qual é a missão dos que desejam viver como cristãos? Qual é a missão que Jesus apresenta para o novo povo de Deus?
“Vocês são o sal da terra”. As propriedades essenciais do sal são saborear e conservar os alimentos. Desde estas características a tradição bíblica se serve destas características para considerar o sal como um símbolo da sabedoria. Para Mateus esta sabedoria não é abstrata senão que é a Palavra de Deus, a Boa Notícia que se personifica na vida dos crentes.
Não há cristianismo que não seja visível e por isso comprometido nas transformações do mundo. Os seguidores de Jesus estão chamados a dar sabor à vida dos homens, mas não por uma imposição de regras morais, senão por um estilo de vida que impregne de alegria e agrado seu redor.
Ora, se o sal perde o gosto, com que poderemos salgá-lo? Não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”.
Como disse o Papa Francisco: A Igreja autorreferencial quer Jesus Cristo dentro de si e não o deixa sair”. Simplificando: há duas imagens de Igreja, segundo ele: a Igreja evangelizadora que sai de si, ou a Igreja mundana que vive em si, de si e para si. Por isso insiste: “Neste tempo de crise, não podemos preocupar-nos só com nós mesmos, fecharmo-nos na solidão, no desânimo, numa sensação de impotência face aos problemas. Não se fechem, por favor!”. Igreja e sociedade: o projeto de Francisco. Artigo de Sérgio Ricardo Coutinho.
"Vocês são a luz do mundo”. Nesta expressão Jesus continua chamando a um agir comprometido no mundo. Ser cristão se deve transluzir numa vida comprometida. Seguir Jesus que é Luz não pode ficar no segredo, menos ainda é uma fé pessoal, reduzida a expressões individuais e interiores. Jesus convida a um seguimento que se manifeste num estilo de vida.
“Que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras”. O cristianismo autêntico deve ver visibilizado para que as pessoas que estão ao seu redor possam reconhecer uma presença diferente.
Como disse Raymond Gravel: “Vocês são o sal da terra”. Palavras que devem traduzir-se em compromisso para sermos também nós sal da terra e luz do mundo. Estando na rua, todos os dias, ali onde vivem as pessoas, ali onde a dignidade humana é ameaçada, ali onde reina a injustiça, ali onde mulheres e homens são rejeitados, ridicularizados e excluídos por causa da sua situação de vida, da sua orientação sexual, da sua nacionalidade, da sua origem, da sua cultura etc. por aquelas e aqueles que acreditam ser os detentores da verdade sobre Deus e o mundo. Nós, cristãos, somos sal e luz.
Para a Jornada Mundial dos Pobres o Papa Francisco ressalta: "Todos os dias encontramos famílias que são forçadas a abandonar suas terras para procurar meios de subsistência em outros lugares; órfãos que perderam seus pais ou que foram violentamente separados deles por causa da exploração brutal; jovens em busca de uma realização profissional a quem é negado o acesso ao trabalho por causa de políticas econômicas míopes; vítimas de tantas formas de violência, da prostituição às drogas, e humilhadas nas profundezas do seu ser”, diz ele. “Deus destruirá as barreiras e substituirá a arrogância de uns poucos pela solidariedade de muitos”.
Ser sal e luz implica um compromisso que neste domingo devemos escutar: um agir comprometido nas transformações que clamam justiça e igualdade. Não há cristianismo que não esteja envolvido nos desafios atuais que apresenta nossa sociedade.
Não nos chamas
a iluminar as sombras
com frágeis velas
protegidas dos ventos
com as palmas da mão,
nem a ser puros espelhos
que refletem luzes alheias,
cotizadas estrelas
dependentes de outros sois,
que como amos da noite
fazem brilhar as superfícies
com reflexos passageiros
ao seu bel prazer.
Tu nos ofereces
ser luz desde dentro, (Mt 5,14)
corpos acesos
com teu fogo inextinguível
na medula do osso (Jr 20,9)
sarças ardentes
nas solidões do deserto
que buscam o futuro (Ex 3,2)
rescaldo de lar
que congrega os amigos
compartilhando pão e peixes (Jo 21,9)
ou relâmpago profético
que risque a noite
tão dona da morte.
Tu nos ofereces
ser luz do povo (Is 42,6)
fogueiras de pentecostes
na persistente combustão
de nossos dias
acesos por teu espírito,
ser luz em ti,
que és a luz,
fundido inseparavelmente
nosso fogo com teu fogo.
Benjamín González Buelta
Salmos para sentir e saborear as coisas internamente”
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Brilhe a vossa luz diante dos homens! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU