11 Outubro 2019
Caminhando para Jerusalém, aconteceu que Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos foram ao encontro dele.
Pararam de longe, e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”.
Ao vê-los, Jesus disse: “Vão apresentar-se aos sacerdotes.” Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. Ao perceber que estava curado, um deles voltou atrás dando glória a Deus em alta voz. Jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu. E este era um samaritano. Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” E disse a ele: “Levante-se e vá. Sua fé o salvou.”
Leitura do Evangelho segundo Lucas 17,11-19 (Correspondente ao 28º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Lucas apresenta Jesus como um peregrino para Jerusalém. O Evangelho narra que já no capítulo 9,51 Jesus “tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. A partir dali, em diversas ocasiões, confirma sua missão de estar no caminho. Recordemos alguns desses momentos narrados por Lucas sobre sua peregrinação: “enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado” (10,38); “Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo no caminho para Jerusalém” (13,33); “chamou à parte os Doze, e disse: ‘Vejam: estamos subindo para Jerusalém, e vai se cumprir tudo
o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do Homem’ (18,31)”.
Neste caminho Jesus percorre terra estrangeira e sua mensagem é anunciada para as pessoas que moram ali e para todos aqueles que o seguem e escutam suas palavras. Nesse trajeto apresenta diferentes atitudes que devem ter as pessoas que desejam ser discípulas de Jesus, os diferentes comportamentos e formas de proceder para acolher sua mensagem. Lembre-se de que o evangelho de Lucas é dirigido fundamentalmente aos cristãos vindos do paganismo, comunicando a universalidade da Boa Notícia de Jesus: é para todas as pessoas e não está limitada por nenhuma fronteira, nem religiosa, nem sociocultural e menos ainda geográfica. A salvação é para todos e todas as pessoas que moram nesta terra.
Para Jesus não existem fronteiras; pelo contrário, sua viagem está além das fronteiras estabelecidas pelos povos, pelas diferentes raças e religiões. Nesta caminhada percorre Galileia e Samaria, chama novos discípulos, é recebido por Marta e sua irmã na sua casa e ultrapassa continuamente os limites da religião, do povo, da raça.
Em vários momentos destaca a atitude dos forasteiros ou da multidão diante da proposta de Jesus em contraposição com os que se consideram os “donos da fé”. Assim responde com a parábola do Bom Samaritano ao “especialista em leis” que tinha perguntado o que “deve fazer para receber em herança a vida eterna”. Jesus não comunica uma fé teórica, nem leis que devem ser cumpridas, mas propõe um amor que se expressa em atitudes e ações concretas.
Nesta passagem por Samaria, o texto de hoje diz que “quando estava por entrar num povoado, dez leprosos foram ao encontro dele”. E continua, dizendo que: “Pararam de longe, e gritaram: ‘Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!’”.
Podemos imaginar a dor de cada um de ser rejeitado, marginalizado, desprezado e sofrer no seu corpo a exclusão da sociedade. No livro do Levítico apresentam-se as prescrições sobre o procedimento social que lhe era imposto. As roupas que um leproso tinha que usar, o comportamento que lhe era exigido para proteger a comunidade dessa afecção que era uma enfermidade muito temida pela possibilidade do contágio: “Quem for declarado leproso, deverá andar com as roupas rasgadas e despenteado, com a barba coberta e gritando: ‘Impuro! Impuro!’. Ficará impuro enquanto durar sua doença. Viverá separado e morará fora do acampamento” (Lv 13,45-46).
Ao vê-los, Jesus disse: “Vão apresentar-se aos sacerdotes”. Jesus os vê e, pela sua palavra, os envia ao sacerdote. A palavra é a comunicação que descreve a narrativa entre os leprosos e Jesus. Para ir ao sacerdote tinham que entrar na cidade, e o sacerdote devia confirmar que essa pessoa estava curada da lepra, lhes dava um “certificado de saúde” e, dessa forma, podiam reintegrar-se na vida social.
Imaginemos os leprosos que recebem estas palavras de Jesus, mas seu corpo ainda está com lepra. Apesar disso eles se dirigem ao sacerdote! Jesus pede-lhes fé e “enquanto caminhavam eles quedaram curados”. Eles tomam a decisão de ir até os sacerdotes sendo ainda leprosos e é no caminho que ficam curados.
Nesse momento um deles acredita na cura que está acontecendo nele e por isso não precisa da confirmação do sacerdote. Sabe que a cura veio de Jesus através de suas palavras. Ele volta para agradecer a Jesus! Volta atrás “dando glória a Deus em alta voz”. Num primeiro momento ele estava com o grupo de leprosos que também havia gritado a Jesus pedindo a cura, mas agora seu grito é diferente. Ele grita de alegria, louvando a Deus e “jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu”.
No caminho tinha acontecido o milagre! Este leproso soube não somente reconhecê-lo, mas possivelmente as palavras de Jesus ressoaram no seu interior e por isso volta atrás para jogar-se diante de Jesus. Ele foi o verdadeiro mestre, como tinha sido chamado pelo grupo no começo.
Como seria a alegria desta pessoa que tinha sido marginalizada durante vários anos pela sociedade e, graças ao contato com Jesus, fica curado? Sua cura provém de Jesus, que respondeu ao seu clamor! E o evangelho disse-nos que “era um samaritano”.
Lucas, no seu evangelho, é muito sensível aos pobres, aos doentes, aos marginalizados e também aos samaritanos. Dos dez leprosos, nove dentre eles eram possivelmente judeus e tinham admitido no seu grupo um samaritano: a dor os irmanava.
Todos eles procuram Jesus e os dez leprosos acreditam nas suas palavras. Ficam curados os dez, mas há nove que estão mais preocupados por cumprir a Lei e receber a confirmação da cura da parte do sacerdote do que em agradecer a Jesus e louvar a Deus pela sua ação de libertação. O samaritano é o único que consegue perceber a grandeza da mudança que a palavra de Jesus obrou nele e volta para agradecer-lhe.
O pagão é o único que abre seu coração a Deus com confiança e recebe a verdadeira libertação interior. Ele soube reconhecer o amor do Senhor e, livre de outras escravidões, volta para adorar e agradecer a Jesus pela sua ação libertadora!
Nosso mundo está coberto de diferentes tipos de lepras que marginalizam as pessoas, culturas e sociedades inteiras. Como acontece com as situações dos povos indígenas, geralmente desconhecidos e ignorados. Seguindo o convite do papa Francisco na inauguração do Sínodo da Amazônia, deixemos que suas palavras ecoem no nosso interior e sensibilizem nossas sociedades.
“Nós nos aproximamos com um coração cristão e vemos a realidade da Amazônia com os olhos de discípulo para entendê-la e interpretá-la com os olhos de discípulo, porque não há hermenêuticas neutras, hermenêuticas assépticas, sempre estão condicionadas por uma opção prévia, nossa opção prévia é a dos discípulos.[...] E também nos aproximamos dos povos amazônicos na ponta dos pés, respeitando sua história, suas culturas, seu estilo do bem viver, no sentido etimológico da palavra, não no sentido social que lhes damos tantas vezes, porque os povos possuem entidade própria, todos os povos possuem uma sabedoria própria, autoconsciência, os povos têm um sentir, uma maneira de ver a realidade, uma história, uma hermenêutica e tendem a ser protagonistas de sua própria história com essas coisas, com essas qualidades. E nos aproximamos distantes das colonizações ideológicas que destroem ou reduzem a idiossincrasia dos povos.” (Texto completo: “Estar no sínodo é se animar a entrar em um processo. Não é ocupar um espaço na sala. Entrar em um processo”. Discurso do Papa Francisco na abertura dos trabalhos do Sínodo da Amazônia)
A Boa Notícia que Jesus traz é para todos e todas, sem importar sua origem.
Batiza-me Jesus
com o sol e a brisa
de tua graça cotidiana,
discreta criação
escorrendo por minha fronte
Submerge meu corpo
na bondade do povo
que corre pelo leito
de seus caminhos fundos,
abertos com seus pés
de trabalho e encontro.
Veste-me de branco
ao emergir das águas
respiração contida,
e acolhe-me em teu peito
com o abraço comunitário
de mil braços abertos.
Dissolve um grão de sal
no céu de minha boca,
para que a vida nova
se conserve inteira
com os sabores fortes
do evangelho.
Unge-me a fronte
com tua cruz de sofrimento,
e unge-me o peito
com a dor do povo.
Carregarei até o calvário
a cruz de teu mistério.
Que se alegre o cosmos
no ruído natural
do metal e a madeira,
e que cantem as gargantas
hoje, dia primeiro
da nova criação.
Benjamin González Buelta
Salmos para “Sentir e saborear as coisas internamente”
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A gratidão do marginalizado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU