'Estado tem que agir’ sobre violência policial, diz brasileira que recebeu 'Nobel' de direitos humanos

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28 Novembro 2025

A ativista brasileira Ana Paula Gomes de Oliveira, fundadora do coletivo Mães de Manguinhos, recebeu na quarta-feira (26) o Prêmio Martin Ennals, conhecido como o Nobel dos direitos humanos. Em cerimônia em Genebra, na Suíça, ela fez um discurso aplaudido de pé e um apelo à comunidade internacional ao dizer que a luta não podia ser só das mães que perdem seus filhos.

A reportagem é de Valéria Maniero, publicada por RFI, 27-11-2025.

“Faço um apelo à comunidade internacional, especialmente às Nações Unidas, para se juntar a nós. Nesses 11 anos, eu tenho dito que essa luta não pode ser somente das mães que perdem seus filhos, das mães que já estão adoecidas por conta dessa violência que nos atinge. Essa luta precisa ser de toda a sociedade”, afirmou.

Nascida e criada na de Manguinhos, há mais de dez anos, Ana Paula denuncia a violência policial nas favelas. Ele é mãe de Johnatha de Oliveira Lima, morto em 2014, aos 19 anos, com um tiro nas costas por um policial militar.

Estado brasileiro tem que “ser responsabilizado”

Segundo ela, é preciso que “o Estado brasileiro seja pressionado a tomar medidas urgentes para reduzir o alto índice da letalidade policial, para que haja reparação imediata às famílias, para que haja investigações imparciais, independentes e efetivas”.

“O Estado precisa ser responsabilizado em todas as cadeias de comando. Estamos cansadas de esperar e lutar por justiça. Esse prêmio não ameniza a nossa dor, mas dá visibilidade e fortalece o nosso grito", disse. "E é através da minha voz que eu honro a memória do meu filho e de todos os outros filhos que perderam suas vidas nas mãos do Estado brasileiro. Vida longa a todos os defensores dos direitos humanos. Johnatha presente, hoje e sempre”, disse ela, emocionada.

Ana Paula recebeu o prêmio das mãos de Volker Türk, alto comissário dos Direitos Humanos da ONU.

Luto e luta

Ao discursar, Ana Paula disse que era uma honra receber o prêmio, “como mãe do Johnatha, mulher negra e defensora dos direitos humanos”.

“Nesses 11 anos, eu precisei transformar a dor da perda do meu filho em luta. Luta contra a violência do Estado e o racismo existente no Brasil que teima em separar mães negras dos seus filhos, seja através dos assassinatos, seja através do alto índice de encarceramento da população negra, seja através dos desaparecimentos forçados, após operações policiais”, disse ela em discurso que citou Marielle Franco e foi aplaudido de pé pelas autoridades presentes.

Ao discursar, Ana Paula disse que o prêmio não era só dela, mas “pertencia a todas as mães que tiveram seus filhos assassinados por agentes do Estado no Brasil”.

Marielle foi lembrada

Ana Paula dedicou o prêmio a “duas pessoas muito especiais que hoje não estão aqui”: ao filho e “à maior defensora de direitos humanos que conheceu, Marielle Franco”.

Também falou que quando estava a caminho da cerimônia foi informada de que estava ocorrendo uma operação policial no Complexo da Maré, no Rio, naquele momento, com pessoas feridas e mortas.

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