05 Outubro 2021
"Papéis modestos e altas profissões. Contar a vida das mulheres consagradas foi como navegar num arquipélago com pequenas e grandes ilhas, planas ou rochosas, rochas açoitadas pelo mar e territórios mais vastos talvez atravessados por rios. Perfis, escolhas e opções diferentes", escreve Ritanna Armeni, jornalista, apresentadora de TV e feminista italiana, em editorial publicado por Donne Chiesa Mondo, edição de outubro de 2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o texto.
Vamos contar como vivem as freiras e as monjas. Ou melhor, do que vivem, como proveem às necessidades do dia a dia, como se organizam. Assuntos que parecem longe do sagrado: dinheiro, salários, trabalho, consumo. As religiosas, é isso que se deve esclarecer, ao contrário do clero - padres, párocos, bispos, cardeais - não recebem um salário. Cada convento e cada congregação encontra seus meios de subsistência e ganho, cada freira e cada monja regula a sua vida e o seu trabalho, entra em contato de maneira diferente com mundo da produção e do consumo.
Conhecemos mosteiros que mal sobrevivem com a venda de produtos da horta e outros que se tornaram empresas, administrados por freiras formadas em economia. Pensões sociais e salários regulares.
Papéis modestos e altas profissões. Contar a vida das mulheres consagradas foi como navegar num arquipélago com pequenas e grandes ilhas, planas ou rochosas, rochas açoitadas pelo mar e territórios mais vastos talvez atravessados por rios. Perfis, escolhas e opções diferentes. Só para depois descobrir que, de qualquer modo, aquelas ilhas que pareciam diferentes tinham a mesma natureza, o mesmo clima, ali nasciam as mesmas árvores, o mesmo vento as varria.
Um mundo que à primeira vista é tão diversificado está, de fato, unido por princípios e práticas comuns. E a partir de um entrelaçamento – este, ao contrário, não comum - entre caridade e produção, fé e necessidade de fechar as contas, sobriedade e gestão, solidariedade e mercado, criatividade e planos de negócios. Um mundo capaz de responder com inteligência e competência, com elasticidade e imaginação, às demandas do trabalho moderno, de superar os limites impostos pela globalização e pelas tecnologias.
Quando a pandemia invadiu o planeta, todos percebemos que a produção e o consumo exigiriam novos comportamentos e valores.
Que os velhos modelos, hierárquicos, exclusivamente mercantis, baseados na competição e na desigualdade, não podiam mais funcionar.
O que olhar para construir um novo mundo? Há sugestões nos artigos desta edição. O trabalho das mulheres consagradas fornece exemplos, indicações, modelos que podem ser exportados para o mundo leigo. Organizar-se, engenhar-se, criar o próprio trabalho. Não assumir nada como certo, mas permanecer com o coração aberto e vigilante, cuidar dos outros, não aceitar a miséria do corpo e da alma, mas adotar a sobriedade como estilo de vida, compartilhar mesmo quando se tem pouco, não rejeitar a modernidade mas confiar-se aos outros, ter confiança na Providência e na humanidade, exercer a caridade. Isso nós vamos tentar contar.
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