02 Setembro 2018
"Infelizmente, grande parte da vida espiritual dos católicos LGBT e de suas famílias depende de onde eles moram. Se você é gay, lésbica, bissexual ou transgênero tentando entender seu relacionamento com Deus e a Igreja, ou se você é pai ou mãe de uma pessoa LGBT, e você vive em uma cidade grande com pastores de mente aberta, você está com sorte", diz o Padre James Martin, SJ, em discurso no Encontro Mundial das Famílias, Dublin, Irlanda, publicado por New Ways Ministry, 23-08-2018. A tradução é de Luís Corrêa Lima.
Um dos desafios mais recentes para as paróquias católicas é como acolher os paroquianos LGBT, assim como as famílias com membros LGBT. Mas esse desafio é também onde a graça abunda, porque os católicos LGBT se sentiram excluídos da Igreja por tanto tempo que qualquer experiência de acolhida pode mudar a vida - um momento de cura - que os inspira a ir novamente à missa, reacende fé e até mesmo os ajuda a acreditar em Deus novamente.
Nos últimos anos, ouvi as histórias mais pavorosas de católicos LGBT que se sentiram mal recebidos nas paróquias. Um homem gay autista de 30 anos que se assumiu para sua família, e não estava em nenhum tipo de relacionamento, contou-me que um vigário disse que ele não podia mais receber a comunhão na igreja. Por quê? Porque até mesmo dizer que ele era gay era um escândalo.
Mas a crueldade não termina nas portas da Igreja. No ano passado, uma mulher me contatou para perguntar se eu conhecia alguns “padres compassivos” em sua arquidiocese. Por quê? Ela era enfermeira em um asilo onde um paciente católico estava morrendo. Mas o pároco local encarregado do asilo se recusava a dar-lhe a unção dos enfermos, porque ele era gay.
É surpreendente que a maioria dos católicos LGBT se sintam como leprosos na Igreja?
O mesmo é verdade para as famílias. A mãe de um adolescente gay me disse que seu filho havia decidido voltar à Igreja depois de anos sentindo que a Igreja o odiava. Depois de muita discussão, ele decidiu voltar no domingo de Páscoa. A mãe ficou super feliz. Quando a missa começou, ela ficou radiante por ter seu filho ao seu lado. Mas depois que o padre proclamou a história da ressurreição de Cristo, adivinha o que ele pregou? Os males da homossexualidade. O filho se levantou e saiu da Igreja. E a mãe sentou-se no banco e chorou.
Mas também há histórias de graça divina em nossa Igreja. No ano passado, um estudante universitário me contou que a primeira pessoa a quem ele se assumiu foi um padre. A primeira coisa que o padre disse foi: “Deus ama você e a Igreja lhe aceita”. O jovem me disse: “Isso literalmente salvou minha vida”. De fato, devemos nos alegrar que mais e mais paróquias católicas são lugares onde os católicos LGBT se sentem em casa, graças à equipe paroquial e a programas organizados.
Minha própria comunidade jesuíta em Nova York está ao lado de uma Igreja chamada São Paulo Apóstolo, que tem um dos apostolados com os LGBT mais ativos do mundo. O ministério é chamado de “Assumir-se em São Paulo” e promove retiros, grupos de estudo da Bíblia, palestras e eventos sociais para a ampla comunidade LGBT da paróquia. A cada domingo, às 17h15, quando chega a hora dos anúncios paroquiais, uma pessoa LGBT se levanta no púlpito para dizer: “Olá! Eu sou Jason, ou Jorge, ou Mariana, e sou membro da Assumir-se em São Paulo. Se você é lésbica, gay, bissexual ou transgênero, queremos que você se sinta bem-vindo(a). Aqui estão alguns eventos desta semana ... ”. E eu acabei de saber que dois membros desse grupo estão entrando em ordens religiosas este ano.
Infelizmente, grande parte da vida espiritual dos católicos LGBT e de suas famílias depende de onde eles moram. Se você é gay, lésbica, bissexual ou transgênero tentando entender seu relacionamento com Deus e a Igreja, ou se você é pai ou mãe de uma pessoa LGBT, e você vive em uma cidade grande com pastores de mente aberta, você está com sorte. Mas se você mora em um lugar menos aberto, ou seu pastor é homofóbico, silenciosa ou abertamente, você está sem sorte. E a maneira como os católicos são bem-vindos ou não em sua paróquia, influencia fortemente sua visão não apenas da Igreja, mas de sua fé e de Deus.
Esse é o verdadeiro escândalo. Por que a fé depende de onde você mora? É isso que Deus deseja para a Igreja? Queria Jesus que as pessoas em Betânia sentissem menos o amor de Deus que as pessoas em Betsaida? Queria Jesus que uma mulher em Jericó se sentisse menos amada do que uma mulher em Jerusalém?
Então, o que ajuda uma paróquia a ser acolhedora e respeitosa? Como padres e diáconos, irmãs e irmãos, diretores de educação religiosa, leigos ligados a pastorais e todos os paroquianos ajudam as paróquias a se tornarem lares para os católicos LGBT e suas famílias?
As observações seguintes se baseiam não apenas em conversas com pessoas LGBT, mas também na experiência de ministérios LGBT e apostolados que eu consultei para essa palestra. Perguntei-lhes: Quais são as coisas mais importantes para as paróquias conhecerem e fazerem?
Então, gostaria de falar sobre três áreas. Primeiro, quais são algumas compreensões fundamentais para as paróquias? Segundo, o que uma paróquia pode fazer para ser mais receptiva e respeitosa? Finalmente, o que o Evangelho nos diz sobre este ministério? Vamos começar com seis compreensões fundamentais.
1) Elas são católicas. Isso parece óbvio, mas as paróquias precisam lembrar que as pessoas LGBT e suas famílias são católicas batizadas. Elas fazem parte da Igreja tanto quanto o Papa Francisco, o bispo local ou o pároco. Não é uma questão de torná-las católicas. Elas já o são. Portanto, a coisa mais importante que podemos fazer para os católicos LGBT é recebê-los na Igreja que já é sua. E lembre-se: apenas por permanecer na Igreja, pessoas LGBT muitas vezes suportaram anos de rejeição. Nossas boas-vindas devem refletir isso e assim devem ser, para citar o Evangelho de Lucas, "uma boa medida, socada, sacudida e transbordante".
2) Elas não escolhem sua orientação. Infelizmente, muitas pessoas ainda acreditam que as pessoas escolhem sua orientação sexual, apesar do testemunho de quase todos os psiquiatras, biólogos e, mais importante, da experiência vivida das pessoas LGBT. Você não escolhe sua orientação ou identidade de gênero mais do que escolhe para ser canhoto. Não é uma escolha. E não é um vício. Assim, não é pecado simplesmente ser LGBT. Muito menos é “culpa” de alguém, como os pais.
3) Elas foram frequentemente tratadas como leprosas pela Igreja. Nunca subestime a dor que as pessoas LGBT experimentaram - não apenas nas mãos da Igreja, mas da sociedade em geral. Algumas estatísticas podem ajudar: Nos Estados Unidos, jovens lésbicas, gays e bissexuais têm cinco vezes mais chances de ter tentado o suicídio do que seus colegas heterossexuais. Quarenta por cento das pessoas transgênero nos EUA tentam o suicídio. Entre os jovens LGBT nos EUA, 57% sentem-se inseguros por causa de sua orientação ou identidade. Além disso, um estudo mostra que, quanto mais religiosa é a família de origem, maior a probabilidade de se tentar suicídio. E uma razão importante pela qual jovens LGBT estão sem teto é porque eles vêm de famílias que os rejeitam por motivos religiosos. Assim, as paróquias precisam estar conscientes das consequências de estigmatizar pessoas LGBT.
A maioria dos católicos LGBT foi profundamente ferida pela Igreja. Eles podem ter sido ridicularizados, insultados, excluídos, condenados ou criticados, seja em particular ou no púlpito. Eles podem nunca ter ouvido o termo “gay” ou “lésbica” expresso de alguma forma positiva, ou mesmo neutra. E mesmo que os comentários de ódio não viessem do próprio ambiente paroquial, eles podem ter ouvido outros líderes católicos fazerem comentários homofóbicos. Desde seus primeiros dias como católicos, eles são frequentemente levados a sentir que são um erro. Eles temem rejeição, julgamento e condenação da Igreja. Na verdade, estas podem ser as únicas coisas que eles esperam da Igreja. Isso muitas vezes os leva a se excluírem da Igreja.
Pais de crianças LGBT enfrentam dor semelhante. Há um ditado que diz: "Quando um filho sai do armário, os pais entram no armário". Pode ser confuso, assustador e embaraçoso para os pais aceitarem a realidade da orientação ou da identidade de gênero de seus filhos. Eles podem sofrer vergonha diante de parentes e amigos. Ter um filho assumido, ou dizer que ele é transgênero, pode fazer com que os pais sintam não apenas que de alguma forma falharam, mas que serão isolados, julgados e excluídos da Igreja. Às vezes, eles acham que precisam escolher entre seu filho e Deus. Os pais também se preocupam que seus filhos deixarão uma Igreja que é vista como excludente. Como resultado, as paróquias devem fazer os pais e as famílias saberem que ainda são bem-vindos, que não têm nada a temer da Igreja e que a Igreja é o seu lar.
4) Elas trazem dádivas à Igreja. Como qualquer grupo, as pessoas LGBT trazem dádivas especiais à Igreja. Bem, normalmente é errado generalizar, mas para um grupo que tem sido visto pela Igreja quase que exclusivamente de forma negativa, é importante considerar as muitas dádivas do grupo. Para começar, por terem sido tão marginalizadas, muitas pessoas LGBT frequentemente sentem uma compaixão natural por aqueles que estão à margem. Sua compaixão é uma dádiva. Elas frequentemente perdoam pastores e padres que os trataram como sujeira. Seu perdão é uma dádiva. Elas perseveram como católicas em face de anos de rejeição. Sua perseverança é uma dádiva.
De fato, recentemente algumas paróquias americanas demitiram pessoas LGBT depois de terem se casado legalmente. E algo sobre essas situações sempre me intrigou. Toda vez que eu ouvia essas histórias, era sempre sobre o “mais amado” professor, funcionário paroquial ou ministro de música. Isso me fez pensar por que eles eram os “mais amados”. Então eu percebi o porquê: as pessoas LGBT que trabalham na igreja realmente têm que querer estar lá, dada a forma como elas são tratadas. Elas se apegam ao seu ministério apesar da rejeição que experimentam. É o mesmo com os paroquianos LGBT: eles devem tomar uma decisão consciente de ficar em uma Igreja - para perseverar. Então, quando você pensa em seus dons, pode sentir e ter a mesma reação de Jesus diante do centurião romano: maravilhado diante de sua fé.
5) Elas desejam conhecer a Deus. Como muitos católicos, muitas pessoas LGBT lutam e sofrem com vários aspectos do ensinamento da Igreja – por exemplo, termos como “intrinsecamente desordenados”. Ao mesmo tempo, muitas não estão tão focadas nessas partes da tradição quanto as pessoas pensam. Muitas querem algo bem mais simples: querem experimentar o amor do Pai através da comunidade. Elas querem encontrar Jesus Cristo na Eucaristia. Elas querem experimentar o Espírito Santo nos sacramentos. Eles querem ouvir boas homilias, cantar boa música e se sentir parte de uma comunidade de fé. Trate-as assim - não como manifestantes, mas como paroquianos. Ajude as pessoas LGBT e suas famílias a satisfazerem seus desejos mais profundos: conhecer Deus.
6) Elas são amadas por Deus. Deus as ama - e assim o devemos nós. E eu não quero dizer um amor mesquinho, relutante, crítico, condicional e indiferente. Eu quero dizer amor verdadeiro. E o que o amor verdadeiro significa? O mesmo que significa para todos: conhecê-las na complexidade de suas vidas, celebrando com elas quando a vida é doce, sofrendo com elas quando a vida é amarga, como um amigo faria. Mas eu digo ainda mais: amá-las como Jesus amava as pessoas à margem: extravagantemente.
Com estas compreensões em mente, como uma paróquia pode ser mais acolhedora? Como podemos tratar as pessoas LGBT com as virtudes que o Catecismo recomenda: “respeito, compaixão e delicadeza”? Deixe-me sugerir dez coisas. Agora, as seguintes sugestões precisam ser adaptadas à sua própria paróquia. Nenhum tamanho serve para todos. Cada paróquia deve desenvolver seu próprio modelo.
1) Examine suas próprias atitudes em relação às pessoas LGBT e suas famílias. Você acredita que alguém é pecador porque é lésbica ou mais propensa a pecar do que uma mulher heterossexual? Você considera os pais "responsáveis" pela orientação de um adolescente gay? Você acha que uma pessoa é transexual apenas porque é moda? Aqui está outra pergunta: se nenhuma ou apenas algumas pessoas LGBT se assumiram, por que isso acontece?
Da mesma forma, você está discriminando-as em seu coração? Por exemplo, você julga a comunidade LGBT com os mesmos critérios da comunidade heterossexual? Com as pessoas LGBT, tendemos a considerar se elas estão totalmente em conformidade com os ensinamentos da igreja em moral sexual. Então você faz o mesmo com paroquianos heterossexuais - com aqueles que vivem juntos antes de serem casados ou praticam controle de natalidade? Seja coerente em relação às vidas examinadas. Os párocos são mais compassivos em relação às situações complexas das pessoas heterossexuais porque as conhecem. Por exemplo, embora Jesus condene totalmente o divórcio, a maioria das paróquias acolhe pessoas divorciadas. Tratamos nós as pessoas LGBT com a mesma compreensão?
O que você pode fazer a respeito dessas atitudes? Seja honesto sobre isto. Mas também obtenha fatos, não mitos, sobre orientação sexual e identidade de gênero de fontes científicas e ciências sociais, não de boatos e sites on-line desinformados e homofóbicos. Então fale com Deus e seu diretor espiritual sobre seus sentimentos e esteja aberto à resposta de Deus. Convide sua equipe pastoral para falar sobre seus sentimentos e experiências. Isso leva ao próximo passo.
2) Ouça-os. Ouça as experiências de católicos LGBT, de seus pais e familiares. Se você não sabe o que dizer, pergunte: “Como foi crescer como um menino gay em nossa Igreja”? “Como é ser lésbica católica”? E uma pergunta importante: "Como é ser uma pessoa transgênero"? Ainda sabemos pouco sobre a experiência transgênero, então precisamos ouvir. Convide os pais de uma criança LGBT para falar com sua equipe pastoral. Pergunte-lhes: “Como é ter um filho gay”? “Como a igreja o ajudou ou o feriu?” “Como a sua compreensão de Deus mudou”? E preste atenção ao que eles dizem. Para isso, esteja atento à linguagem que eles consideram ofensiva e desnecessariamente dolorosa: “sodomia” por exemplo. Nomes, palavras e terminologia são importantes.
Em geral, seja participando de um ministério como um apostolado LGBT ou se encontrando com uma pessoa LGBT cara a cara, comece com as experiências delas. Para esse fim, confie que o Espírito Santo irá guiá-los em sua formação como cristãos. Nós não tratamos outros católicos simplesmente repetindo o ensinamento da igreja, sem considerar sua experiência vivida. Portanto, evite fazer isso com pessoas LGBT. Observe como Jesus tratou as pessoas à margem: por exemplo, como ele tratou a mulher samaritana. Ele a castiga por ter se casado várias vezes e viver com alguém? Não. Em vez disso, Jesus a escuta e a trata com respeito. Então, seja como Jesus: escute, encontre, acompanhe. Se a Igreja escutasse as pessoas LGBT, 90% da homofobia e do preconceito desapareceriam.
3) Reconheça-as em homilias ou apresentações paroquiais como membros plenos da paróquia, sem julgamento e não como católicas decaídas. As pessoas LGBT nunca deveriam ser aviltadas ou humilhadas no púlpito - nem ninguém deveria. Apenas mencioná-las pode ser um passo em frente. Às vezes em homilias, eu digo: "Deus ama a todos nós, quer sejamos velhos ou jovens, ricos ou pobres, heterossexuais ou LGBT". Até mesmo algo pequeno como isto pode ser um sinal. Isto também é um sinal para seus pais e avós, irmãos e irmãs, tias e tios. Você pode achar que não tem nenhuma pessoa LGBT na sua paróquia. Mas você certamente tem pais e avós de pessoas LGBT. Você tem pessoas que amam as pessoas LGBT na sua paróquia. Lembre-se que quando você está falando sobre pessoas LGBT, você está falando sobre seus filhos.
4) Peça desculpas a eles. Se os católicos LGBT ou suas famílias foram prejudicados em nome da igreja por comentários, atitudes e decisões homofóbicas, peça desculpas. E eu estou falando aqui para os ministros da Igreja. Eles foram prejudicados pela igreja, você é um ministro da igreja. Você pode se desculpar. Não resolve tudo, mas é um começo.
5) Não reduza gays e lésbicas ao chamado à castidade dirigido a todos nós como cristãos. As pessoas LGBT são mais do que suas vidas sexuais. Mas às vezes é tudo que elas ouvem. Lembre-se de não se concentrar apenas na sexualidade, mas nas muitas outras alegrias e tristezas de suas vidas. Elas têm uma vida enriquecida. Muitos católicos LGBT são pais ou cuidam de pais idosos; muitos ajudam os pobres em sua comunidade, muitos estão envolvidos em organizações civis e de caridade. Eles geralmente estão profundamente envolvidos na vida da paróquia. Veja-os em sua totalidade. E se você fala sobre a castidade com as pessoas LGBT, faça isso com pessoas heterossexuais.
6) Inclua-os nos ministérios. Como já mencionei, há uma tendência para se focar na moral sexual dos paroquianos LGBT, o que é errado, porque primeiro, muitas vezes você não tem ideia de como são suas vidas sexuais; e, segundo, mesmo que estejam aquém, não são os únicos. Como resultado, as pessoas LGBT podem se sentir pressionadas a dissimular quem são e achar que não têm lugar nos ministérios. Como todos os outros da sua paróquia que não estão à altura do evangelho, e são todos, as pessoas LGBT devem ser convidadas para os ministérios paroquiais: ministros eucarísticos, ministros da música, leitores, ministros do sepultamento e todos os ministérios. A propósito, não acolhê-las na igreja significa perder seus dons. Elas simplesmente irão para onde são bem-vindas, para onde podem trazer consigo a si mesmas. Além disso, convidar alguém que se sentiu excluído a vida toda pode ser uma mudança de vida.
7) Reconheça suas dádivas individuais. Não apenas devemos reconhecer as dádivas que as pessoas LGBT desempenham na Igreja como um grupo, mas suas dádivas individuais devem ser valorizadas. Por exemplo, um dos cantores da minha paróquia jesuíta é um homem gay. Ele é gentil e compassivo, e sua bela voz fez dele uma parte essencial de nossa adoração há 20 anos. Você provavelmente tem pessoas parecidas na sua paróquia. Lembre-se de como é importante reconhecê-las, elogiá-las, promovê-las. Não esconda a sua luz debaixo do teu cesto!
8) Convide toda a equipe paroquial a recebê-los. Você pode ter um pároco acolhedor, mas e os outros? A pessoa que atende ao telefone sabe o que dizer a um casal de lésbicas que quer que seu filho seja batizado? Nos funerais, os filhos adultos gays do falecido são tratados com o mesmo respeito que os outros filhos? E quanto ao professor de uma escola paroquial que tem dois pais vindo a conferência para pais e professores dos alunos? Como um diácono trata o pai de um homem gay que acabou de morrer e que quer um funeral? Os católicos gays e lésbicas são bem-vindos em grupos de apoio aos enlutados quando um parceiro morre? A sua paróquia está aberta aos filhos de todos os casais, e não apenas aos de casais heterossexuais? Os filhos de casais de lésbicas e de gays são bem-vindos em escolas paroquiais, programas educacionais e programas de preparação sacramental? A sua equipe paroquial é educada em toda a gama de ensinamentos da igreja sobre não-discriminação e atendimento pastoral? A voz da sua paróquia não é apenas a voz do seu pároco, mas a de todos. Pense desta maneira: por não acolher e excluir os católicos LGBT, a igreja está aquém de seu chamado para ser a família de Deus. Ao excluir as pessoas LGBT, você está destruindo a família de Deus; você está despedaçando o Corpo de Cristo.
9) Patrocinar eventos especiais ou desenvolver um programa de divulgação. Como todo mundo, os católicos LGBT querem se sentir parte da igreja. E, como para todos os seus filhos, o ônus está em a igreja convidá-los à comunidade. Mas para muitas pessoas LGBT, a igreja não tem sido um local de acolhida. Assim, eventos LGBT específicos e programas de divulgação são úteis para preencher a lacuna entre as tuas intenções e suspeitas deles.
Quanto aos eventos, há muitas possibilidades: você pode oferecer uma missa de boas-vindas, um retiro de fim de semana, um dia de recordações, um clube do livro ou um palestrante. E os eventos de conversa não precisam se concentrar apenas em questões LGBT. Isto é, traga um palestrante para conversar com os paroquianos LGBT sobre a oração. Ou mostre um vídeo sobre um tópico sobre o qual as pessoas precisam ser informadas, como a experiência de pessoas transexuais. E mais uma vez, essa questão - pessoas transgênero - é algo que a igreja precisa aprender, porque a sociedade em geral ainda está aprendendo. O bispo Christopher Coyne, de Burlington (Vermont), disse: “Não vejo razão para que pessoas transgêneros não sejam acolhidas na Igreja. Há mais evidências... de que muito disso é biológico; não apenas algo que uma pessoa faz como uma escolha elegante ou uma escolha cultural. Isso é quem eles são... todo mundo é criatura de Deus, e eu convidaria qualquer um para vir à mesa”.
Quanto aos ministérios direcionados aos LGBT, existem muitos modelos. Estes variam de programas em que pessoas LGBT falam umas com as outras em particular; àqueles onde os paroquianos LGBT se reúnem com outros paroquianos; de programas de educação sobre o ensinamento da Igreja; a abordagens mais holísticas, onde o grupo não se concentra na sexualidade, mas nas outras questões que as pessoas LGBT enfrentam; de grupos familiares para pais; a grupos que fazem contato com a comunidade LGBT na área, como trabalhar em abrigos para jovens LGBT; ao que você poderia chamar de programas mesclados, onde a paróquia inclui tópicos LGBT como um elemento entre muitos na paróquia: na educação de adultos, programas de justiça social e ministério de jovens. Tudo isso depende da sua paróquia.
Quanto aos pais, uma mãe disse, quando eu perguntei o que eu deveria dizer hoje a você: “A coisa mais importante para dar aos pais é um espaço seguro e acolhedor para compartilhar suas histórias com outros pais católicos. Muitos se sentem sozinhos e não acham que mais alguém está passando por isso. É um alívio saber que há outros na jornada… E eles não precisam ouvir sobre seus filhos sendo comparados a alcoólatras. Ouvir declarações positivas do púlpito também seria bom, em vez de agir como se seus filhos não existissem ”.
No ano passado, a paróquia jesuíta onde celebro missa - chamada, sem surpresa, Santo Inácio de Loyola - promoveu uma noite de partilha de histórias. Seis membros de nossa paróquia se reuniram - três homens gays, a mãe de um filho gay, o pai de um filho gay e seu filho adolescente gay - para falar sobre suas vidas. A partilha de histórias de alegrias e tristezas foi sanadora (de feridas) para eles e para toda a paróquia. Por que uma cura para eles? Imagine pensar toda a sua vida que você não faz parte da igreja e, depois, ser solicitado a falar sobre suas experiências. E cura para o resto da paróquia, porque nos uniu de uma maneira que mal poderíamos imaginar.
10) Defendê-los. Seja profético. Há muitas ocasiões em que a Igreja pode ser uma voz moral para essa comunidade perseguida. E eu não estou falando sobre temas polêmicos como o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Estou falando de incidentes em países onde homens gays são presos e jogados na cadeia ou até executados por serem gays, e lésbicas são estupradas para "serem curadas" de sua orientação sexual. Nesses países, questões LGBT são questões de vida ou morte. Em outros países, pode-se enfrentar incidentes de suicídios de adolescentes, ou crimes de ódio ou intimidação. Há muitas oportunidades para as paróquias se colocarem do lado das pessoas LGBT que estão sendo perseguidas. O Catecismo diz: “Todo sinal de discriminação injusta deve ser evitado” quando se trata de pessoas LGBT. Nós acreditamos nesta parte do Catecismo? A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) escreveu em 1986: “É de se deplorar firmemente que as pessoas homossexuais tenham sido e sejam ainda hoje objeto de expressões malévolas e de ações violentas. Semelhantes comportamentos merecem a condenação dos pastores da Igreja, onde quer que aconteçam”. Acreditamos nesta declaração da CDF?
Isso faz parte do que significa ser cristão: defender os marginalizados, os perseguidos, os abatidos. É chocante quão pouco a Igreja Católica tenha feito sobre isso. Deixe seus paroquianos LGBT saberem que você está com eles. Mencione sua perseguição em uma homilia quando for apropriado, ou nas orações dos fiéis. Seja profético. Seja corajoso. Seja como Jesus.
Porque se não estamos tentando ser como Jesus, qual é o objetivo? E lembre-se de que em seu ministério público Jesus continuamente procurava pessoas que se sentiam à margem. O movimento para Jesus era de fora para dentro. Ele estava trazendo para a comunidade pessoas que se sentiam do lado de fora. Porque para Jesus não há “nós” e “eles”. Há apenas nós.
Por isso, gostaria de encerrar com uma história dos Evangelhos para nos ajudar a meditar sobre o nosso chamado a acolher e respeitar as pessoas LGBT e suas famílias.
O Evangelho de Lucas nos conta a linda história do encontro de Jesus com Zaqueu. Jesus está percorrendo Jericó, uma cidade grande. Ele está a caminho de Jerusalém, e é no final do seu ministério, então ele seria bem conhecido na área. Como resultado, ele provavelmente teve uma grande multidão seguindo-o. Em Jericó, há um homem chamado Zaqueu. Ele era o principal cobrador de impostos da região, e assim também seria visto pelo povo judeu como o "principal pecador". Por quê? Porque ele seria visto como conivente com as autoridades romanas. Então Zaqueu provavelmente era alguém marginalizado por todos.
Agora, aqui eu gostaria de convidá-lo a pensar em Zaqueu como um símbolo do católico LGBT. Não porque as pessoas LGBT são mais pecaminosas do que o resto de nós - pois somos todos pecadores. Mas porque eles se sentem tão marginalizados. Pense na pessoa LGBT como Zaqueu.
O Evangelho de Lucas descreve Zaqueu como "de baixa estatura". Quão pequenas as pessoas LGBT tantas vezes se sentem na Igreja. Lucas também diz que Zaqueu não podia ver Jesus “por causa da multidão”. Provavelmente foi por causa de sua altura, mas quantas vezes a “multidão” atrapalha a pessoa LGBT a encontrar Jesus? Quando estamos nós na parte paroquial da "multidão" que não deixa as pessoas LGBT se aproximarem de Deus?
Então Zaqueu sobe numa árvore, porque, como Lucas nos diz, ele queria ver “quem era Jesus”. E é isso que a pessoa LGBT quer: ver quem é Jesus. Mas a multidão obstrui o caminho.
Agora vem Jesus atravessar Jericó, provavelmente com centenas de pessoas clamando por sua atenção. E a quem ele aponta? Uma das autoridades religiosas? Um de seus discípulos? Não, para Zaqueu! E o que ele diz a Zaqueu? Ele grita: “Pecador”? Ele grita: “Seu coletor de impostos terrível”? Não! Ele diz: "Desça depressa, pois eu devo ficar em sua casa hoje"! É um sinal público de boas-vindas a alguém à margem.
Então vem minha frase favorita na história: “Todos que viram começaram a resmungar”! O que é exatamente o que está acontecendo hoje em relação às pessoas LGBT. Outras pessoas resmungam! Fique on-line e você verá todos os resmungos. Uma oferta de misericórdia a alguém à margem sempre deixa pessoas com raiva.
Mas Zaqueu desce da árvore e, como os Evangelhos dizem, ele “ficou lá”. O grego original é muito mais forte, statheis: ele se manteve firme. Quantas vezes as pessoas LGBT tiveram que se manter firmes diante da oposição e do preconceito na Igreja?
Então Zaqueu disse que ele daria metade de suas posses para os pobres e reembolsaria quatro vezes qualquer pessoa por ele defraudada. Um encontro com Jesus leva a uma conversão, como acontece com todos. E o que quero dizer com conversão? Não "terapia de conversão". Não, a conversão que acontece em Zaqueu é a conversão a que todos nós somos chamamos. Nos Evangelhos, Jesus chama isso de metanoia, uma conversão de mentes e corações. Para Zaqueu, a conversão significava dar aos pobres. Tudo isso vem de um encontro com Jesus. Porque a abordagem de Jesus era, mais frequentemente, primeiro comunidade, segundo conversão. Para João Batista, o modelo era converter-se primeiro e depois ser acolhido na comunidade. Para Jesus, é primeiro comunidade, segundo conversão. Acolhimento e respeito vêm em primeiro lugar.
É assim que Jesus trata as pessoas que se sentem à margem. Ele as procura antes de qualquer outra pessoa; ele as encontra e as trata com respeito, delicadeza e compaixão.
Então, quando se trata de pessoas LGBT e suas famílias em nossas paróquias, parece que há dois lugares para se ficar. Você pode ficar com a multidão, que resmunga, e que se opõe à misericórdia aos que estão à margem. Ou você pode ficar com Zaqueu e, mais importante, com Jesus.
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Uma boa medida: Acolher e respeitar em nossas paróquias as pessoas LGBT e suas famílias. Conferência de James Martin no Encontro Mundial das Famílias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU