Católicos LGBT organizam movimento para reivindicar mais espaço na Igreja

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23 Julho 2018

Grupo comemora pequenos avanços, como um texto em que o vaticano usa pela primeira vez a sigla.

A reportagem é de Anna Virginia Balloussier, publicada por Folha de S. Paulo, 23-07-2018.

Mulher com mulher é pecado? Os padres viviam dizendo a Cristiana Serra que sim. O coração dela indicava que não, mas quem ela era para bater de frente com o que lhe convenciam ser a vontade de Deus? "Só no final da adolescência pude finalmente chamar meu primeiro amor pelo nome certo. Até então, tinha sido um sofrimento inexplicável por causa da minha 'melhor amiga'."

Cristiana é lésbica. Não vê isso como opção. É orientação sexual. Lésbica e ponto. É também católica praticante, do tipo que faz questão de comungar (receber a hóstia). Uma fé que, para ela, nunca esteve aberta a negociações.

Só que a homossexualidade é condenada pelo Vaticano, o que faria dela uma pecadora aos olhos de Deus. Ela já acreditou nesse papo. Não mais.

Hoje Cristiana, 44, não vê nada de errado em frequentar a missa e a Parada Gay. Presidente da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT, liderou em junho o segundo encontro do coletivo, numa casa franciscana em São Paulo.

Da reunião saiu um manifesto para difundir a proposta "com todas as pessoas que são excluídas da Igreja e/ou da sociedade em virtude de sua identidade de gênero e/ou orientação sexual".

O grupo comemora pequenos avanços, como um texto do mês passado em que o Vaticano, pela primeira vez, usa a sigla LGBT (de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros). Trata-se de documento preparatório para um encontro de bispos que discutirá, em outubro, "os jovens, a fé e o discernimento vocacional".

Diz o texto: "Jovens LGBT desejam [...] experimentar uma atenção maior por parte da Igreja, enquanto algumas conferências episcopais perguntam-se sobre o que propor aos jovens que em vez de formar casais heterossexuais decidem constituir casais homossexuais e, acima de tudo, desejam estar perto da Igreja".

Luís Corrêa Lima, padre jesuíta e professor de teologia da PUC-RJ, apontou o ineditismo em artigo. "Francisco é o primeiro pontífice a utilizar publicamente o termo gay, dando-lhe também conotação positiva: 'Se uma pessoa é gay, busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para a julgar'? Anos depois, ampliou a pergunta: 'Quem somos nós para julgar?' Ou seja, também os outros devem se abster de julgamento. Chamar o outro como ele (ou ela) quer ser chamado é sinal de respeito."

Para Cristiana, essa "imagem progressista" do Papa não é precisa. "Questionamos muito a atitude de esperar que o papa mude alguma coisa, como se tivéssemos de aguardar algum tipo de autorização vinda do alto da hierarquia para podermos ser Igreja. Isso nós já somos."

Mas Francisco tem o mérito de defender uma Igreja que "se dirija às periferias existenciais", diz. "Essa atitude tem mudado todo o clima da Igreja. Não à toa, de dois anos pra cá, surgiram oficialmente quatro pastorais da diversidade no país."

Duas ficam em Belo Horizonte. Vigário na capital mineira, o padre Marcus Mareano, 34, afirma que a reação de conservadores foi feroz. "Esse grupos são maldosos." Um deles, Fratres in Unum, publicou um texto intitulado "a agenda gayzista promovida a todo vapor na Arquidiocese".

Inter-religioso, o encontro de junho teve convidados como Lilyth Ester Grove, antropóloga judia e transgênero, que disse que em seu caso "quando era bicha ok", ao menos se comparado à "ousadia" de ser uma judia trans.

O reverendo Cristiano Valério, de fé protestante, rejeitou a imagem de "um Deus homem branco, cisgênero e velho", ainda que pintado como "tão bonzinho que também aceita as bichas e os viados".

Para Cristiana Serra, "não faz sentido" a Igreja excluir e ferir. "Cristo andava com os piores pecadores, os maiores párias da sociedade. Numa sociedade que acreditava que quem andasse com pessoas 'impuras' tornava-se 'impuro' também... Era com esses que Ele andava. Como será a Igreja desse Cristo? Uma que condena ou que acolhe e ama incondicionalmente?".

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