19 Junho 2018
O peso que os vários dossiês enviados antes da publicação da Humanae Vitae tiveram sobre Paulo VI ainda cabe ser determinado no âmbito da pesquisa. E inclusive é possível que o trabalho de pesquisa de arquivo ofereça outras surpresas. Quem ressalta isso é Gilfredo Marengo, professor de antropologia teológica no Instituto João Paulo II, que estuda precisamente o período que precede a publicação da encíclica.
A entrevista é de Luciano Moia, publicada por Avvenire, 14-06-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por que após a publicação pela imprensa mundial dos resultados da “Comissão Pontifícia para o estudo dos problemas da população, da família e da taxa de natalidade", grande parte do episcopado estava convencida de que estava se rumando para uma modificação da doutrina sobre controle de natalidade?
Os resultados daquela comissão expressaram uma opinião compartilhada por grande parte do episcopado; não devemos esquecer que foi aprovada por maioria pelo Grupo de cardeais e bispos a quem foi apresentado o documento final daquele organismo e que aquele Grupo era amplamente representativo tanto por sensibilidade como por distribuição geográfica, da Igreja da época. Os resultados daquela comissão expressaram, em consequência, uma orientação generalizada no corpo eclesial daqueles anos.
O que levou à decisão de Paulo VI por uma maior necessidade de levantamentos foi o peso maior dos conteúdos "criticáveis" do chamado "Documento de maioria" ou o que emergiu dos novos estudos que o próprio Papa havia solicitado à Secretaria de Estado e depois à Congregação para a Doutrina de fé?
O próprio Paulo VI respondeu claramente a essa questão em duas ocasiões. Entende-se que as investigações adicionais dependiam de um juízo que o Papa tinha amadurecido desde que tinha começado a lidar com o problema do controle dos nascimentos: ele não considerava plenamente convincentes as razões que a maioria tinha apresentado para apoiar as próprias teses sobre a licitude moral do uso da contracepção química (a pílula). Uma visão difundida de um Paulo VI, hamlético e titubeante nessas escolhas, está objetivamente longe da realidade e pertence à categoria do mito. Ao mesmo tempo - como emerge com clareza no discurso ao Congresso Nacional da Sociedade Italiana de Obstetrícia e Ginecologia (29 de outubro de 1966) - ele estava ciente da "enorme complexidade e a tremenda gravidade do tema relativo ao controle de natalidade, que impõe à nossa responsabilidade a suplemento dos estudos". Em termos semelhantes, ele expressou-se nos parágrafos 5 e 6 da Humanae vitae.
De acordo com o que emergiu em várias entrevistas, entre 1966 e 1968, chegaram à mesa de Paulo VI vários dossiês, alguém chegou a mencionar uma dúzia. Eram conhecidos o "Memorial de Cracóvia" e o dos bispos do Trivêneto. Sabemos algo sobre os outros dossiês?
Tanto quanto sei, a existência de textos tão amplos e articulados parece não estar documentada, mas a análise das fontes de arquivo pode sempre revelar algumas surpresas no futuro. O problema era percebido de maneira bastante palpitante na Igreja da época: o interesse e as expectativas de uma palavra do Papa são confirmados por centenas de cartas, artigos de jornal, apelos, textos científicos encaminhados para Paulo VI naqueles anos, protocolados e armazenados nos arquivos. Outra questão significativa é o peso real que todo esse material teve no percurso que levou à composição da Humanae Vitae.