Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 20 Abril 2018
No domingo, 22-4-2018, os paraguaios voltarão às urnas para a escolha de presidente, senadores e deputados. O atual presidente, eleito em 2013, Horacio Cartes, do Partido Colorado, concorre ao Senado, junto de outro ex-presidente, Fernando Lugo, depois da tumultuada tentativa de ambos de concorrerem à reeleição. Na lista para a presidência os polos são entre o Partido Colorado, representado por Mario Abdo Benítez, e a Alianza GANAR, com Efraín Alegre do Partido Liberal — PLRA em uma coalizão composta por seis partidos.
Passados seis anos da destituição de Fernando Lugo da presidência paraguaia, a América do Sul está organizada com outros contornos políticos. A saída de Lugo representou o início da virada de curso que a política sul-americana tem tomado nesta década. Em 2012, além de Lugo chefiavam os Estados no continente Dilma Rousseff, Cristina Kirchner, Pepe Mujica, Evo Morales, Rafael Correa e Hugo Chávez pelo prato esquerdo da balança. Com a derrubada de Lugo, assumiu Federico Franco, então vice-presidente, do Partido Liberal, sobrepesando a balança à direita, com Juan Manuel Santos e Sebastián Piñera.
As eleições seguintes ao impeachment, em 2013, devolveram a hegemonia do Partido Colorado ao país. Foram 60 anos de hegemonia dos colorados no Paraguai, com destaque aos 35 anos de ditadura de Alfredo Stroessner. Horacio Cartes, empresário e dirigente de futebol – assumiu a presidência do Libertad em 2001, recém saindo da segunda divisão, iniciando a atual era de glórias do clube, deixando o cargo em 2009 para assumir o governo do país –, foi eleito sem coligação com 45% dos votos. O presidente herdeiro de uma linha política conservadora e tradicional do país sai da presidência com aprovação de 60%, em pesquisas divulgadas. A estabilidade e o crescimento econômico, evocados sempre em seus discursos, provocaram na sua base aliada um movimento em 2017 para alteração do artigo 229, que proíbe a reeleição de qualquer presidente, em qualquer circunstância.
Em 31-3-2017 os Manifestantes atearam fogo no Senado contra a proposta de emenda para reeleição presidencial.
A tentativa de alteração da Constituição gerou movimentos contrários, porém com participação da Frente Guasú, frente formada em 2010 por partidos de esquerda. A alteração possibilitaria também a Lugo concorrer nessas eleições de domingo. Manifestações aconteceram em todo país, e também no exterior. Os conflitos ocorridos no mês de março e abril de 2017 levaram uma pessoa à morte, e houve o simbólico episódio do dia 31-3-2017, no qual os manifestantes colocaram fogo no Senado. Na ocasião, 25 senadores, puxados pelo Partido Colorado e pela Frente Guasú, aprovaram a portas fechadas, em 28-3-2017, a alteração no artigo da reeleição. Um mês depois a Câmara de Deputados viria a derrubar a emenda, ainda que Cartes houvesse anunciado que não iria concorrer.
Leo Rubin (esq.), Fernando Lugo e Efraín Alegre (dir.) | Fonte: Frente Guasú
Impedido de reeleição, o atual presidente e Lugo apoiam novos candidatos que estarão nas urnas, pelos partidos tradicionais. A Frente Guasú, única a vencer os colorados nos últimos 70 anos, estará compondo a vice-presidência do liberal Efraín Alegre. O candidato da chapa é Leo Rubin, empresário e jornalista, concorrendo pela primeira vez a um cargo público. Seu destaque está na sua dedicação à cultura de incentivo ao rock e à religião hinduísta. Apesar de não ser o principal nome da esquerda paraguaia, ainda orientada pela figura de Lugo, Rubin terá o papel de superar as históricas debilidades da sua corrente na disputa política. Com frequência, Rubin é associado pelos meios de comunicação e nas redes sociais com o estereótipo de adepto da ditadura venezuelana, ainda que o mesmo já tenha manifestado críticas públicas ao governo de Maduro.
A balança da Alianza GANAR se compõe, do outro lado, com um político tradicional. Efraín Alegre, derrotado por Cartes nas eleições de 2013, foi ex-ministro do governo Lugo, ex-presidente da Câmara dos Deputados, ex-senador e atualmente é presidente do seu partido. Um currículo extenso e uma lista de propostas que se destaca pela redução do imposto sobre energia elétrica e um plano de saúde pública gratuita e universal, contemplando um projeto de acesso gratuito a medicamentos.
Hugo Velázquez (esq.), candidato a vice, Mario Abdo e Horacio Cartes (dir.) | Fonte: MaritoPresidente Flickr
O partido hegemônico ademais de manter seu status, leva às urnas a tradição stroessneriana com Mario Abdo Benítez, aberto defensor do período ditatorial. Ex-presidente do Senado Paraguaio, buscou desvencilhar sua imagem da votação que gerou os protestos de 2017. Carrega como bandeira o reforço da segurança pública contra o crime organizado e o fortalecimento das instituições de justiça.
As eleições de domingo ainda apresentam resultado incerto, apesar de as últimas pesquisas, que apontavam uma virada da Alianza GANAR, terem sido acusadas de fraude pela justiça eleitoral – esta chefiada por um cartista. Tão incerto quanto as eleições é compreender os processos de idas e vindas, sobretudo da esquerda. Destituída em 2013, com o apoio do Partido Liberal, compôs aliança com a direita conservadora no momento mais tenso do governo de Cartes. Agora no domingo, volta à cena coligada aos algozes para frear o avanço conservador dos aliados de um ano atrás. Tática e estratégia peculiares de um movimento que pouco venceu no Paraguai, mesmo quando a conjuntura política da região lhe era favorável.
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Eleições paraguaias: a polarização entre os mesmos com a esquerda subjacente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU