18 Abril 2018
Sônia Guajajara, Raoni, o líder Kayapó e Davi Kopenawa falam sobre os desafios da questão indígena no Brasil.
A reportagem é de Marina Amaral e Sofia Amara, publicado por Agência Pública, 17-04-2018.
O mais famoso deles talvez seja Raoni, o líder Kayapó com seu impressionante adorno no lábio inferior – o labret –, sinal de compromisso do guerreiro com a terra em que nasceu. Discursando em sua língua nativa, apesar do português aprendido com os irmãos Villas-Bôas, há 40 anos empreende uma cruzada pelos direitos, não apenas de seu povo, mas de todos os parentes – como os indígenas se referem aos que pertencem a outras etnias. Desde 1989, quando deixou o Brasil pela primeira vez para um tour em 17 países com o apoio de Sting, o vocalista do Police, não parou de correr o mundo em defesa da floresta amazônica, do Xingu, dos indígenas brasileiros.
“Eu quero deixar um recado para todos vocês que são brancos, e eu quero que vocês ouçam minha palavra. Eu não aceito barragem nos rios que moramos e não aceito extração de minérios em nossas terras”, diz o ancião (ele tem por volta de 85 anos) no depoimento gravado para a Pública e traduzido por seu neto e herdeiro, Beptuk, pouco antes de embarcar para última Convenção sobre a Mudança do Clima da ONU, na Alemanha.
Igualmente conhecido internacionalmente é o xamã Davi Kopenawa, o líder dos Yanomâmi, um dos povos indígenas mais numerosos, com uma população de 25 mil pessoas que vivem no Brasil (entre Roraima e Amazonas) e mais 15 mil na Venezuela. Nessa entrevista para a Pública, ele relembra as ameaças sofridas pelo povo, entre elas a invasão de 40 mil garimpeiros em 1986, autorizada pelo então presidente da Funai Romero Jucá ao seu território. Foi também em uma cruzada internacional, em companhia de outras lideranças como o próprio Raoni, que os Yanomâmi conseguiram finalmente demarcar sua terra e deter o genocídio de seu povo. “Agora tá pior, muito pior pra nós, presidente Temer, ele não é honesto”, diz na entrevista gravada em Brasília, depois de uma palestra para estudantes indígenas da UnB.
A esperança está na resistência, concordam os líderes, que veem com entusiasmo o despontar de uma nova líder, pela primeira vez uma mulher, que une contemporaneidade à defesa da cultura tradicional. “Hoje o índio não está só no mato, hoje nós ocupamos todos os espaços da sociedade”, resume em entrevista Sônia Guajajara, pré-candidata à vice-presidência da República pelo PSOL.
Nota da IHU On-Line: Hoje (18-04-2018) à noite, a partir das 19h30min, a Profa. MS Julie Stefane Dorrico Peres – UNIR apresentará a obra A Queda do Céu. Palavras de um Xamã Yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert. A conferência ocorrerá na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU. Saiba mais aqui.
A professore Julie também concedeu a entrevista "O catálogo de tragédias aos Yanomami na voz de Davi Kopenawa", publicada na edição Nº. 519 da Revista IHU On-Line.
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No abril indígena, três líderes falam de resistência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU