08 Março 2018
Desde a primeira edição do meu livro sobre os católicos LGBT, Building a Bridge, publicado em junho do ano passado, tenho tido o privilégio de falar em muitas paróquias, faculdades, casas de retiro e conferências. Em cada local, as pessoas LGBT, suas famílias e amigos compartilharam comigo suas experiências. Algumas eram tão poderosas que se tornaram quase como parábolas para mim.
Na edição revisada e expandida do livro, publicada este mês, compartilho seis dessas histórias.
O artigo do padre James Martin, S.J., autor do livro Building a Bridge, é publicado por América, 05-03-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Em sua definição, que se tornou célebre, o estudioso bíblico C. H. Dodd afirmou que uma parábola é uma história criada para "estimular a mente a um pensamento ativo”. As histórias têm a capacidade de nos abrir a mente de uma forma que as definições não conseguem. Essa é uma das razões para Jesus ter extensivamente usado parábolas em seu ministério público, como forma de convidar seus ouvintes a ver a vida a partir de uma nova perspectiva.
1. Um dos meus amigos mais antigos é um homem gay chamado Mark, que já foi membro de uma ordem religiosa católica. Há cerca de 20 anos, depois de ter saído da ordem, ele assumiu sua homossexualidade e foi morar com o parceiro, com quem agora é casado no civil. Seu parceiro tem uma doença crônica grave e Mark cuida dele há muitos anos com grande devoção e bondade.
2. Um homem idoso me contou que seu neto recentemente assumiu sua homossexualidade. Eu perguntei o que ele respondeu. Ele disse que suspeitava havia algum tempo que seu neto era gay e, quando ele decidiu contar, antes de o jovem pronunciar qualquer palavra, o avô disse: "Eu te amo, independente do que você vá dizer agora".
3. Depois de uma palestra que dei numa faculdade católica na Filadélfia, um jovem me disse que a primeira pessoa para quem ele se assumiu gay foi um padre católico. Durante um retiro na escola, ele decidiu assumir publicamente a sua homossexualidade, mas estava tão nervoso que "literalmente tremia". A primeira coisa que o padre lhe disse foi: "Jesus te ama. E sua Igreja lhe aceita". O jovem relatou: "Ele salvou a minha vida."
4. Uma mulher de cerca de 80 anos de idade, de cabelos brancos e bochechas redondas, veio à minha sessão de autógrafos após uma palestra minha em Connecticut e disse: "Padre, eu tenho uma coisa para lhe contar". O foco da palestra tinha sido Jesus, e não questões LGBT especificamente. Eu achei que ela iria compartilhar alguma ideia sobre Jesus ou dizer que tinha ido em peregrinação à Terra Santa. Mas ela disse: "Padre, eu tenho uma neta que é transexual, e eu a amo muito. Tudo o que quero é que ela se sinta acolhida na Igreja".
5. Em uma paróquia em Boston, um homem gay e uma mulher lésbica foram convidados a responder à minha palestra sobre católicos LGBT, no intuito de promover um diálogo real. Em sua resposta, a mulher, chamada Maggie, optou por discutir uma reflexão que aparece no final do meu livro: "Quando você pensa sobre sua orientação sexual ou identidade de gênero, que palavra você usa?" Minha intenção era convidar os leitores a refletir sobre as passagens bíblicas que fazem referência a nomes e denominações, incentivando-os a dar "nome" à sua sexualidade.
Então eu esperava palavras como "gay", "lésbica" e "bissexual". Mas naquela noite, na paróquia, Maggie disse que quando leu a pergunta e pensou sobre sua sexualidade, pensou na palavra "alegria". Foi uma surpresa!
6. E talvez a maior surpresa: nessa mesma noite em Boston, um casal ficou esperando para eu autografar o livro. Era uma mulher transgênero — ou seja, uma mulher que começou a vida como homem — e uma mulher cisgênero — ou seja, uma mulher que nasceu e continua mulher. (Tentei usar a terminologia contemporânea, embora reconheça que esses termos ficam ultrapassados rapidamente).
A mulher cisgênero disse que elas eram casadas há muitos anos, o que me deixou confuso, pois o casamento homossexual não é legal há tanto tempo em Massachusetts. Ela percebeu minha confusão, sorriu e disse: "Eu casei com ela quando ainda era homem".
Eu fiquei em silêncio, perplexo. Era uma mulher aparentemente heterossexual que tinha casado com um homem heterossexual que agora era uma mulher. Como ela fez isso? "Amor é amor", ela disse.
É um casamento que provavelmente quase todas as autoridades da Igreja considerariam "irregular", para usar o termo eclesiástico oficial. Contudo, era um modelo de fidelidade. Mesmo depois da “transição” de um parceiro, o casamento ainda estava intacto.
O que podemos aprender sobre fidelidade?
De forma geral, o que essas histórias nos ensinam? Onde somos convidados a ver a vida de uma forma nova? O que Deus quer nos ensinar?
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Padre James Martin: lições para todos os católicos a partir de seis parábolas LGBT - Instituto Humanitas Unisinos - IHU