Cardeal critica jesuíta James Martin sobre homossexualidade

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04 Setembro 2017

O cardeal Robert Sarah, prefeito da congregação vaticana para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, publicou um artigo no jornal Wall Street Journal, defendendo que a Igreja não pode recuar sobre os seus ensinamentos sobre a castidade, especialmente quando se trata da comunidade LGBT. O padre jesuíta James Martin, autor de um novo livro sobre a Igreja Católica e a comunidade LGBT, diz que Sarah perdeu uma oportunidade de construir uma ponte entre as duas comunidades.

A reportagem é de Christopher White, publicada no sítio Crux, 01-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Aqueles que falam em nome da Igreja devem ser fiéis aos ensinamentos imutáveis de Cristo, porque, somente através da vida em harmonia com o desígnio criativo de Deus, é que as pessoas encontram uma realização profunda e duradoura”, escreveu o purpurado.

Sarah menciona especificamente o padre jesuíta James Martin, autor do novo livro Building a Bridge: How the Catholic Church and the LGBT Community Can Enter into a Relationship of Respect, Compassion, and Sensitivity [Construindo uma ponte: como a Igreja Católica e a comunidade LGBT podem começar uma relação de respeito, compaixão e sensibilidade].

“Ele [Martin] repete a crítica comum de que os católicos têm sido duramente críticos à homossexualidade, embora negligenciem a importância da integridade sexual entre todos os seus seguidores”, disse Sarah.

Sarah observa que ele e Martin estão de acordo de que não deveria haver um padrão duplo em relação aos ensinamentos da Igreja sobre a castidade.

“Para os não casados – independentemente de suas atrações – a castidade fiel requer a abstenção do sexo”, escreveu Sarah.

“Isso pode parecer um padrão muito alto, especialmente hoje. No entanto, seria contrário à sabedoria e à bondade de Cristo exigir algo que não possa ser realizado”, afirmou Sarah.

“Como mãe, a Igreja busca proteger os seus filhos do mal do pecado, como uma expressão da sua caridade pastoral”, continuou.

Em uma entrevista ao Crux, Martin diz que o seu livro “não é um livro de teologia moral, nem é um livro sobre a moral sexual das pessoas LGBT. Ao contrário, é um convite ao diálogo e à oração”.

O livro foi publicado com a aprovação eclesiástica do superior jesuíta provincial de Martin.

“O cardeal Sarah está correto ao afirmar que eu sou um crítico da resposta pastoral geral da Igreja aos católicos LGBT e que eu acho que ela é insuficiente”, disse Martin. “Sobre esse ponto, Sua Eminência está correto, e eu também acho que concordamos com isso”, disse ele ao Crux.

O livro de Martin recebeu elogios do prefeito do escritório vaticano para os Leigos, Família e Vida, o cardeal Kevin Farrell. Farrell disse que o livro é “bem-vindo e muito necessário”, e afirmou que “ajudará os católicos LGBT a se sentirem mais em casa naquela que é, afinal, a Igreja deles”.

No seu artigo, Sarah elogia um livro semelhante que foi publicado no mesmo período, Why I Don’t Call Myself Gay: How I Reclaimed My Sexual Reality and Found Peace [Por que eu não me chamo gay: como eu reivindiquei a minha realidade sexual e encontrei paz], de Daniel Mattson.

O livro relata a experiência de Mattson como católico, tentando viver os ensinamentos da Igreja sobre a castidade e abstendo-se das relações sexuais.

Sobre Mattson e os católicos com ideias semelhantes às dele, Sarah diz: “O seu exemplo merece respeito e atenção, porque eles têm muito a ensinar a todos nós sobre como acolher e acompanhar melhor os nossos irmãos e irmãs em autêntica caridade pastoral”.

Um perfil do cardeal Timothy Dolan, de Nova York, e do cardeal Joseph Tobin, de Newark, Nova Jersey, publicado em julho de 2017 pelo jornal New York Times, ressaltou a divisão sobre como os membros da hierarquia católica responderam aos dois livros.

Dolan endossou o livro de Mattson, descrevendo-o como um “relato honesto das lutas genuínas enfrentadas por aqueles que têm atração pelo mesmo sexo”, sobre como o autor chegou a “entender e aceitar o plano amoroso de Deus para a sua vida”.

Por sua vez, Tobin elogiou o livro de Martin como “inspirador”, dizendo que ele “convida as lideranças da Igreja a ministrar com mais compaixão e lembra os católicos LGBT que eles fazem parte da nossa Igreja tanto quanto qualquer outro católico”.

Martin, que também é consultor da Secretaria para a Comunicação do Vaticano, aplaudiu Sarah pelo seu uso da expressão “LGBT” no seu artigo.

“De um modo importante, o seu artigo é um passo à frente”, disse ele ao Crux. “Ele usa o termo ‘LGBT’, ao qual alguns poucos católicos mais tradicionais resistem.”

Embora Sarah defenda que o padrão de castidade da Igreja é a única resposta para evitar “as tristes consequências da rejeição do plano de Deus para a intimidade e o amor humanos”, Martin vê partes do artigo como uma oportunidade perdida.

“Eu gostaria de ter ouvido algo sobre as tristes consequências daquilo que acontece quando as pessoas LGBT são levadas a se sentir como cidadãos de segunda classe ou pior, por parte do clero e de membros da hierarquia”, disse ele ao Crux.

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