29 Outubro 2017
O ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé critica alguns católicos por se entusiasmarem demais com Lutero, cuja “revolução” era “contra o Espírito Santo”.
A reportagem é de Edward Pentin, publicada por National Catholic Register, 26-10-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
No primeiro de uma série de artigos para um jornal católico italiano, o Cardeal Gerhard Müller disse que a reforma de Martinho Lutero “sequer era um evento do Espírito Santo”, e sim uma “revolução” – já que alterava totalmente “os fundamentos da fé católica”.
Em artigo escrito para o jornal milanês La Nuova Bussola Quotidiana em 24 de outubro, o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé disse que há uma “grande confusão” nas discussões, hoje, sobre Lutero, quem, segundo ele, “abolia cinco sacramentos e também negava a Eucaristia”.
O movimento começado por Lutero teve um “efeito desastroso” sobre a Igreja, continuou o cardeal, lamentando que alguns católicos fiquem entusiasmados com o líder protestante.
Este artigo do cardeal vem num momento em que as comunidades eclesiais protestantes se preparam para comemorar os 500 anos desde que Lutero, frade agostiniano, postou as suas 95 teses à porta da Igreja do Castelo, em Wittenberg, na Alemanha, em 31-10-1517, antecipando o cisma protestante na Igreja Católica.
O cardeal respondia principalmente às declarações feitas por D. Nunzio Galantino, secretário-geral da Conferência Episcopal Italiana.
Na semana passada, o número dois da citada conferência dos bispos contou, em palestra na Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma, que a Reforma que Lutero começou era um “evento do Espírito Santo”, acrescendo: “A Reforma corresponde à verdade expressa no dizer: ‘Ecclesia semper reformanda’”.
O Cardeal Müller, no entanto, falou que a Reforma Protestante não era uma “reforma”, mas “uma transformação total dos fundamentos da fé católica”, e que os católicos de hoje geralmente debatem Martinho Lutero “demasiadamente entusiasmados”, sobretudo devido a uma ignorância em teologia.
Müller lembra os leitores que Lutero considerava o sacramento das Ordens Sacras “uma invenção do Papa – a quem chamava de Anticristo – e não parte da Igreja de Jesus Cristo”.
“É por isso que não podemos aceitar que a reforma de Lutero seja chamada de uma reforma da Igreja em sentido católico”, disse. “Uma reforma católica é uma renovação da fé vivida na graça, na renovação dos costumes, na ética, uma renovação espiritual e moral dos cristãos; não uma nova fundação, não uma nova Igreja”.
O cardeal disse que era, portanto, “inaceitável” afirmar que a reforma de Lutero “era um evento do Espírito Santo”. Pelo contrário, disse ele, “era contra o Espírito Santo, porque o Espírito Santo ajuda a Igreja a manter a sua continuidade por meio do magistério da Igreja, sobretudo no serviço do ministério petrino”. O Espírito Santo, salientou o cardeal, “não se contradiz”.
Em seguida, ele passou a dizer que a polêmica e a teologia de Lutero tiveram um “efeito desastroso” sobre a Igreja que “destruiu a unidade de milhões”. Falou também que era incorreto dizer que Lutero “inicialmente tinha boas intenções” ou que a Igreja se recusava a dialogar com ele.
Müller escreve que a Igreja não pode errar na transmissão da salvação nos sacramentos, mesmo se pessoas na Igreja pecam e cometem equívocos pessoais. Mas, em meio “à confusão de hoje”, disse que muitos compreendem isso de um modo inverso, não menos errado quando se trata da ideia que possuem do papado.
“Acreditam que o Papa é infalível quando fala em privado”, disse, “mas então, quando os Papas ao longo da história estabelecem a fé católica, dizem que é falível”.
O religioso acrescentou que “uma coisa é querer ter boas relações com os cristãos não católicos atualmente”, mas é “uma coisa bem diferente compreender equivocadamente ou falsificar o que aconteceu 500 anos atrás e o efeito desastroso que teve”.
Foi um efeito, disse Müller, “contrário à vontade de Deus”, que deseja que “todos sejamos um”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cardeal Müller: Lutero teve um efeito desastroso sobre a Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU