15 Fevereiro 2017
O Vaticano tem direcionado os seminários católicos a avaliarem padres e irmãos aspirantes em termos de homossexualidade, mas não em termos de atração por crianças. Foi o que ouviu um membro da Comissão Real na Austrália.
A reportagem é de Rebekah Ison, publicada por Australian Associated Press, 14-02-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A Irmã Lydia Allen, que conduz avaliações em um seminário de Sydney, disse que achava que não era necessário haver um direcionamento para testar os que queriam entrar para o sacerdócio (ou para alguma ordem religiosa) por tendências sexuais a crianças, pois era simplesmente “óbvio” que ele deveria ser feito.
“Até onde sei, não há nada que diga: vocês devem avaliar isso”, disse a freira, doutora em psicologia, à Comissão Real para Respostas Institucionais ao Abuso Infantil em Sydney nesta terça-feira.
“Penso que é uma regra não dita. Não acho que precisa ser afirmada explicitamente, porque é tão óbvia”.
Allen falou que o Vaticano levou 13 anos para completar os documentos de 2005 que direcionam os seminários a avaliar os candidatos em termos de homossexualidade.
Segundo ela, na época havia um “grande problema” com gays que entravam nos seminários “para abusar outros e que entravam em relações homoafetivas com outros seminaristas” e menores de idade.
O frade franciscano David Leary disse que os seminaristas estavam “errando o foco” ao “patologizarem” a homossexualidade.
“O fato de alguém ser homossexual não impacta intrinsecamente sobre se a pessoa seria ou não um bom sacerdote ou irmão”, disse.
“Em vez disso, o que precisamos observar é a capacidade de compaixão e se uma pode, ou não, realmente sentir”.
Allen falou que um candidato provavelmente seria negado caso ela identificasse uma orientação homossexual “profundamente assentada” e em que a pessoa não quisesse mudar.
Peter McClellan, presidente da Comissão, perguntou: “E se um candidato revela uma orientação heterossexual profundamente assentada, o que acontece?”
“Ora, nunca ouvi que isso seria um problema”, respondeu a freira.
Leary disse não achar que a homossexualidade fosse uma barreira para se tornar membro da sua ordem religiosa, e que achava que o direcionamento do Vaticano quanto aos gays foi feito, em parte, porque a Igreja pensava que a homossexualidade estava ligada com casos de pedofilia.
A Comissão Real ouviu que a formação que muitos padres e religiosos consagrados receberam historicamente era inadequada para prepará-los para a vocação que aspiravam, e que deveria haver uma formação e supervisão continuada.
A audiência, que está investigando o que levou e permitiu a continuação de abusos sexuais infantis na Igreja Católica, continua.
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Austrália. Não há ordem para testar tendência à pedofilia em seminários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU