17 Novembro 2016
O sonho de uma “reforma da reforma” da liturgia acabou. Isso é o que se deduz da inesperada retirada do cardeal Robert Sarah de uma conferência internacional na Alemanha sobre o motu proprio Summorum Pontificum, o responsável pelo espectro da Missa tridentina retornar ao imaginário da Igreja.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 13-11-2016. A tradução é do Cepat.
Em um comunicado postado na página web da Conferência Litúrgica Internacional de Colônia, o padre Guido Rodheydt, organizador do evento, informou que Sarah – o cada vez mais isolado Prefeito da Congregação para o Culto Divino – “lamentavelmente precisou cancelar” sua participação na 18ª edição do encontro, prevista para março de 2017.
Na nota de imprensa, o sacerdote insinuou que a culpa pela ausência de Sarah foram as críticas que recebeu desde que pediu, em julho, que os padres voltassem a celebrar a missa de costas para os fiéis. Tal “sugestão” lhe valeu o repúdio até do próprio Papa Francisco, e esse gesto o pontífice repetiu, em outubro, quando em um livro Sarah chamou de “profana e superficial” a liturgia vernácula do Vaticano II.
Em uma entrevista publicada nesta segunda-feira, no portal católico austríaco kath.net, o padre Rodheudt aprofundou as razões da inesperada retirada de Sarah do evento, que ficou ainda mais estranha pelo fato que o cardeal havia confirmado sua presença três vezes, desde novembro do ano passado.
“O cardeal Sarah nos informou que tem um número de compromissos no próximo ano, como Prefeito da Congregação para o Culto Divino, que lhe obriga a se retirar”, disse Rodheudt. A respeito da possibilidade de que um destes “compromissos” possa ter sido uma instrução diretamente do Papa para que não participe do congresso, Rodheudt afirmou que “não sabemos nada”, ainda que, sim, considera que a mensagem consistente que Francisco se empenhou em transmitir é que “a reforma da reforma não é necessária”.
O fato de Sarah retroceder, agora, no momento de defender a Missa tridentina – após muito tempo criticando o que ele chama de “excessos” da liturgia do Vaticano II – se deve ao seu isolamento à frente da Congregação para o Culto Divino, após a recente destituição realizada pelo Papa dos membros mais conservadores da mesma.
Nesta ocasião, Francisco nomeou 27 novos membros da Congregação e substituiu, por sua vez, os cardeais mais compreensivos com a causa da Missa latina, como são Raymond Burke, George Pell e Angelo Scola. Designou para a Congregação, além disso, prelados comprometidos com a abertura da Igreja – em sua teologia e liturgia – às realidades do mundo moderno, como são Piero Marini (mestre de cerimônias de João Paulo II), Domenico Sorrentino (arcebispo de Assis) e John Dew (cardeal arcebispo de Wellington, na Nova Zelândia).
Com todos estes movimentos, o Papa está dando claros sinais que a visão da Missa do cardeal Sarah e seus achegados ficou defasada e irremediavelmente oposta à misericórdia pastoral.
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O Papa vence a disputa de braço com o cardeal Sarah, que não comparecerá a uma audiência sobre a Missa latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU