Festa da Santíssima Trindade – Ano C – Deus Trindade, o Amor estendido, transbordado entre nós

Por: MpvM | 10 Junho 2022

 

 

 "A Liturgia da Palavra nesta festa maior culmina com a parte central do longo e muito especial discurso de Jesus registrado no quarto Evangelho (Jo 16, 2-15). Jesus está rodeado por seus discípulos, lava seus pés e, sem retirar o avental que portava, veste o manto de Mestre e, assim, reveste-se da mesma Sabedoria sobre a qual nos fala a primeira leitura de hoje. O discurso é longo. É seu testamento, a transmissão testemunhal de sua missão redentora da humanidade."

 

A reflexão é de Márian Ambrosio, sdp. Ela é irmã religiosa da Congregação Irmãs da Divina Providência. Foi presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil - CRB, trabalhou na assessoria da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB e foi Superiora Geral da sua Congregação. Atualmente se dedica à assessoria de Congregações Religiosas, palestras sobre teologia e espiritualidade e orientação de retiros.

 

 

Leituras do dia

1ª Leitura: Pr 8,22-31
Salmo: Sl 8,4-9 (R/. 2a)
2ª Leitura: Rm 5,1-5
Evangelho: Jo 16,12-15


Com o sinal da Trindade, sinal da fé que professamos várias vezes ao dia, sintamo-nos abraçadas pelo amor infinito expresso no mistério a nós descortinado hoje pela liturgia da Palavra.


1) Não foram sábios e poderosos que redigiram o livro dos Provérbios que “nos toca” na primeira leitura - Provérbios 8, 22-31. Faz-nos bem constatar que este livro é uma coletânea de intuições, ditos, expressões populares reunidas ao longo dos tempos, desde o período pré-exílico. Cuidadosamente, o povo de Deus foi valorizando a experiência, a tradição, a reflexão sobre a vida, transmitindo de geração em geração, de pais a filhos, a netos, a nós, esta proximidade com a Sabedoria de Deus. Sabedoria! É ela mesma, a Sabedoria a proclamadora deste texto. Ela fala no singular, fala na praça, exatamente diante da porta da cidade, lugar preferido para o encontro popular. Desejando ser escutada e vivenciada por todos, a Sabedoria se apresenta de forma intensa, forte: possui muitos dons, com destaque para o conhecimento, o aconselhamento, o senso do direito, a prudente inteligência. E demonstra o desejo de disponibilizar estes mesmos dons a quem a procura e ama. São dons que valem mais que ouro e prata. Ao descrever-se a si mesma no momento em que Deus semeava vida, grandeza e beleza, a Sabedoria nos revela que estava lá, simplesmente, ao lado do Criador. Maravilhada, ela conta como a Sabedoria de Deus organiza os fundamentos da terra, edifica colunas, embeleza o espaço celeste, divide águas, limita praias... Ao concluir seu ato criador, Ele mesmo, Deus, contempla a Sabedoria que brinca para Ele com os seres criados, como em uma celebração santa e reverente.

 

A Sabedoria é também a Beleza de Deus! Aprendamos, queridas irmãs, queridos irmãos, com a Sabedoria. Este é o primeiro convite da festa da expressão maior de nossa fé. Recordemos: No contexto da literatura sapiencial, sabedoria não é qualidade de quem sabe muito, mas sim, qualidade de quem saboreia o saber de Deus!

 

2) É tocante para nós que o salmo 8, que se segue à primeira leitura aclama, com Sabedoria, precisamente a Beleza de Deus, sublinhando seus dedos de artista, que fazem brilhar lua e estrelas. Este salmo pede de nós uma resposta: quem somos nós, seres humanos, para merecermos tanto carinho? Será lindo cantar esta resposta numa noite de lua e estrelas, contemplando os dedos de artista de Deus!

 

 

3 ) As leituras do segundo testamento traduzem as profundas e sábias palavras do primeiro testamento, e nos convidam a conhecer o nome novo da Sabedoria de Deus já descrita em Provérbios e da beleza de Deus já cantada no salmo. Sabemos que a carta aos romanos foi escrita antes dos textos joaninos. O autor indica para nós o caminho do cultivo fiel e corajoso da esperança, a mais preciosa chave de vivência dos tempos hodiernos – esperança. Tribulações e provações são vivenciadas com perseverança, porque é ela que nos direciona para esta virtude que jamais decepciona. A esperança se faz certeza, porque nos toma pela mão ao encontro com Deus, em Jesus, no amor do Espírito! Eis o nome novo – em nome de Deus Pai, em nome do Filho, em nome do Espírito Santo. União, Comunhão, Trindade!

 

 

4) A Liturgia da Palavra nesta festa maior culmina com a parte central do longo e muito especial discurso de Jesus registrado no quarto Evangelho (Jo 16, 2-15). Jesus está rodeado por seus discípulos, lava seus pés e, sem retirar o avental que portava, veste o manto de Mestre e, assim, reveste-se da mesma Sabedoria sobre a qual nos fala a primeira leitura de hoje. O discurso é longo. É seu testamento, a transmissão testemunhal de sua missão redentora da humanidade. Os versos desenham para nós um contexto de proximidade amorosa, no qual Jesus se revela mistagogo por excelência: toma-nos também Ele pela mão e descortina o lugar verdadeiro ao qual pertence. Com ele, penetramos no mistério de fé que festejamos hoje. Suas palavras são muito claras: “Eu tenho tanta coisa para dizer ainda a vocês. Mas não estou preocupado com isto. Porque meu Pai enviará a vocês o Espírito da Verdade, e n'Ele Eu serei glorificado.” Perfeita unidade, perfeita comunhão, na harmoniosa distinção entre cada um – quem é enviado, quem envia, quem ensina e recorda a verdade.

 

Este é o nome de Deus – Trindade, Amor estendido, transbordado entre nós! Amém!

 

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