Por: André | 25 Agosto 2012
Apesar da ação dos carabineiros, cerca de cinco mil estudantes mantiveram firmes os protestos contra o governo de Piñera.
A reportagem é de Christian Palma e está publicada no jornal argentino Página/12, 24-08-2012. A tradução é do Cepat.
Por volta das 10 horas da manhã, vários grupos de estudantes secundaristas começaram a se reunir em 14 pontos de Santiago. A ideia era marchar por algumas ruas e manifestar-se nas fachadas das municipalidades locais para expressar a indignação dos “pinguins” em relação às políticas protagonizadas pelo governo e pela falta de diálogo entre a autoridade e os dirigentes. Além disso, reiterar o apelo para que a educação pública volte a ser responsabilidade do Estado e não das prefeituras locais.
O Página/12 marchou junto com cerca de três mil estudantes que fizeram um percurso de 12 quadras desde a Praça da Aviação até a municipalidade da direitista comuna de Providência na zona oriental da capital. Em meio a faixas, cânticos contra o governo e o prefeito Cristián Labbé – um ex-militar amigo de Pinochet, contrário às mobilizações –, a maré humana caminhou tranquila escoltada por numerosos policiais das forças especiais. “E vai cair a educação de Pinochet”, foi o grito mais ouvido que se misturou com duros comentários contra o presidente Sebastián Piñera e seus ministros de Educação, Harald Beyer, e do Interior, Rodrigo Hinzpeter. “Cerca de cinco mil estudantes chegaram a esta comuna [organização política semelhante às subprefeituras]. Esta é a terceira vez que marchamos à municipalidade esta semana e não nos ouviram”, disse Jorge Silva, presidente do Centro de Alunos do emblemático Liceu Lastarria, que carregava uma enorme faixa com os dizeres: “Enquanto existir opressão, a única solução é a revolução”.
Uma vez no destino final e enquanto ainda ressoavam os tambores das batucadas juvenis, os dirigentes tentaram falar com o prefeito, que não os recebeu. Um cordão de carabineiros dissolveu a marcha com jatos d’água e gás lacrimogêneo. Houve ao menos cinco prisões (no final da tarde os carabineiros informariam 139 prisões).
Perto do meio-dia, centenas de alunos dos colégios de Santiago começaram a chegar à Praça das Armas da cidade – outro destino importante das marchas desta quinta-feira –, que estava fortemente cercada. Em uma rápida ação, os pinguins caminharam algumas quadras e protestaram entre a casa central da Universidade do Chile e o Instituto Nacional, as duas instituições públicas mais importantes do país e que estão separadas por apenas alguns metros. A repressão foi dura. Caminhões hidrantes e gás lacrimogêneo de alta concentração química (que este cronista pode constatar in situ) foi a resposta dos policiais à mudança estratégica dos estudantes que atacaram com tudo o que tinham em mãos: pedras, paus e garrafas. Esta semana, ambos os estabelecimentos foram tomados pelos alunos e muitos dos manifestantes se refugiaram nesses locais. O resto enfrentou por horas os carabineiros.
Do Ministério, Harald Beyer garantiu que as marchas não foram massivas. “Significa que os estudantes não estão seguindo seus dirigentes porque se dão conta de que não há vontade de diálogo”, disse.
Esta versão não coincide com a do coronel de Carabineros Víctor Tapia, que assegurou que os protestos aglutinaram muitos estudantes.
Em relação às conversações, o ministro assegurou estar predisposto. “Eles têm seus tempos, estão organizando suas propostas, nós somos os que estamos entorpecendo o diálogo, estamos disponíveis desde o primeiro dia”, disse.
Os secundaristas se reúnem hoje [sábado] em um encontro ampliado onde as duas coordenações mais importantes vão decidir os passos a seguir. Também Piñera entrou no debate depois de vários dias em silêncio. Disse que o Governo está comprometido com a educação, e recalcou que no atual cenário apenas 0,1% dos colégios se encontram ocupados. “Entendo que hoje há nove instituições ocupadas, portanto, menos de 0,1%. E embora estejamos ouvindo com muita atenção esse 0,1%, há também os 99% querem retornar às aulas”, disse.
A porta-voz da Assembleia Coordenadora de Estudantes Secundaristas (ACES), Eloísa González, e novo rosto visível do movimento estudantil, qualificou a jornada de exitosa e fustigou o governo: “Quem governa é minoria e estão nos tachando de ser minoria. Hoje demonstramos que o movimento não está morto. O Executivo aposta no desgaste e na divisão do movimento estudantil”, disse a este jornal.
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Mais marchas estudantis no Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU