Os “pinguins” tomam os colégios no Chile

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Por: André | 17 Agosto 2012

Os secundaristas protestam contra a “Lei Hinzpeter” que criminaliza as marchas. E seguem exigindo uma educação gratuita.

A reportagem é de Christian Palma e está publicada no jornal argentino Página/12, 16-08-2012. A tradução é do Cepat.

“No primeiro semestre houve disponibilidade para o diálogo, mas não tivemos respostas do governo. Por isso, vamos radicalizar o movimento. Agosto é um mês para produzir um ambiente de efervescência e o segundo semestre será mais duro: haverá ocupações, greves e marchas”.

A sentença é da dirigente secundarista Eloísa González, que, com seus 17 anos, se converteu no rosto visível do recrudescimento da crise estudantil chilena. Ao contrário de outras ocasiões, os “pinguins” – que estão se rearticulando pouco a pouco – estão liderando as ações mais complexas, que incluem ocupações de colégios e marchas massivas (na última, de 8 de agosto, três micro-ônibus foram queimados).

“Quando falamos de revolução e ser mais radicais nos referimos a mudanças profundas no sistema educacional mercantil chileno para fomentar a educação pública”, disse Eloísa González ao Página/12. Ela pertence à Assembleia Coordenadora de Estudantes (ACES) que representa as escolas mais periféricas e postergadas e que este ano assumiu um papel protagônico com um discurso mais duro e de confronto que incendiou o movimento secundarista. Esse impulso contagiou inclusive a mais moderada Coordenação de Estudantes Secundaristas (Cones), que representa os colégios “emblemáticos” de Santiago e que desde a semana passada vem ocupando os colégios.

Na terça-feira, uma longa reunião entre o prefeito de Santiago, Pablo Zalaquett, e os dirigentes estudantis terminou sem acordos. A autoridade anunciou que os quatro liceus (Miguel de Cervantes, Confederación Suiza, Darío Salas e Barros Borgoño) que ainda estão ocupados serão desalojados em breve pela força pública, o que ainda não tinha ocorrido até o fechamento desta edição. A proposta oficial consistia em habilitar os liceus para os estudantes que quisessem ter aulas, mesmo com as escolas ocupadas.

Nesta quinta-feira, o Internato Nacional Barros Arana (que atende cerca de 1.700 alunos de regiões), Teresa Prats e o Liceu de Aplicação votaram a proposta do vereador de Santiago, enquanto que o Instituto Nacional (o colégio público mais importante do país) decidirá hoje [ontem] se ocupará o colégio situado a apenas duas quadras do Palácio La Moneda.

O presidente do centro de alunos do Barros Arana disse a este jornal que a proposta de dar aulas enquanto o colégio está ocupado não foi acolhida, mas o tema é complexo “porque nas proximidades do Internato há muita polícia”, disse. Os secundaristas protestam contra a chamada “Lei Hinzpeter” (em referência ao Ministro do Interior) que pretende aumentar as penas para quem participar das marchas com o rosto encoberto e promover ou incitar para atos de violência.

O lucro nas universidades é outro tema reclamado pelos estudantes, assim como a solicitação de que a administração dos colégios seja de responsabilidade do Estado e não dos municípios. Além disso, a reforma tributária em andamento, cujo ponto sobre devolução de impostos às famílias pelos gastos que tiverem com educação é rechaçado pelos estudantes que o consideram insuficiente.

Ao final do dia e enquanto os estudantes esperavam o iminente desalojamento, o presidente da Federação de Estudantes da Universidade Católica (FEUC), Noam Titelman, e o porta-voz da Cones, Cristofer Sarabia, manifestaram sua preocupação em relação às consequências das ocupações em vários liceus nos últimos dias e que substituíram o ministro da Educação, Harald Beyer, para que permita o diálogo. “Todos estamos preocupados com o resultado que estas formas de mobilização podem trazer e todos estão interessados em poder avançar, ninguém está interessado em seguir mobilizado eternamente; queremos espaços onde possamos dialogar, apresentar a nossa visão e especialmente diante da ameaça de matar o pouco de educação pública que nos resta”, disse o dirigente universitário.

Seu par secundarista acrescentou que “a ocupação é uma medida desesperada, precisamente para que sejamos levados em conta e sejamos incluídos em um diálogo fortuito. Deve-se ver este tipo de mobilização não como um fim em si mesmo, mas como uma ferramenta social e como a criação de uma plataforma política dos secundaristas”.