Por: Jonas | 18 Agosto 2012
A ordem proveniente, na quarta-feira, pela municipalidade de Santiago começou a ser executada ontem cedo. Três dos quatro colégios emblemáticos que foram tomados pelos estudantes, foram evacuados pelas forças especiais de carabineros. Contudo, não foi fácil. Um primeiro balanço apresenta 132 detidos (94 menores e 38 adultos), numerosos feridos e um carro, de um canal de televisão, queimado por jovens com o rosto coberto.
A reportagem é de Christian Palma, publicado no jornal Página/12, 17-08-2012. A tradução é do Cepat.
Longe de acalmar os ânimos, a ação policial teve efeito contrário, estendido para a direitista e acomodada comuna de Providencia, que viu com assombro como as alunas do Liceu 7 ocuparam o estabelecimento, não se importando com as ameaças do prefeito Cristián Labbé, um ex-militar amigo de Pinochet, que desde o ano passado se mostrou crítico do movimento. Mais tarde, somaram-se ao menos mais cinco liceus da região Metropolitana.
Sobrepassadas pela radical medida de pressão dos estudantes, as autoridades lançaram seus ferrões contra Eloísa González, jovem que liderou as manifestações secundárias, com um discurso frontal e combativo. A intendente metropolitana, Cecilia Pérez, e o prefeito de Santiago, Pablo Zalaquett, responsabilizaram a estudante pela ocupação dos liceus: “É uma das lideranças mais negativas que eu vi”, disse Zalaquett. Pérez acrescentou que “não trepida em recorrer a medidas de força e violência”. A jovem representante dos secundaristas respondeu via Twitter: “Somos mais, deixem de personalizar o conflito, porque por trás de minhas palavras existe toda uma assembleia”. Mais tarde reiterou, para o jornal Página/12, que “o governo teve a oportunidade de dialogar e não fez isso, agora o movimento se radicalizou”.
“Ela acredita que o mundo é o contrário. Eu penso que aqui ninguém coloca as condições, estamos na democracia. Eu sou o prefeito, sou responsável em administrar. É preciso explicar para esta garotinha que não estamos na ditadura”, sustentou pela televisão o prefeito Zalaquett, que pertence à UDI, partido de ultradireita, cujo grupo superior foi leal a Pinochet, quando governou o Chile.
Também recordou que, no ano passado, 38% dos alunos repetiram, como produto das mobilizações. “Por isso me vejo na obrigação ética de pedir a desocupação, para que os jovens possam continuar estudando”, disse.
Porém, Eloísa González não está sozinha. O presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECH), Gabriel Boric, fez uma ferrenha defesa frente às críticas e interpretou os questionamentos como uma estratégia do governo de “apontar com o dedo para certos dirigentes, tratando de deslegitimá-los. Apoio irrestritamente Eloísa González. Ela tem sido uma grande dirigente, uma contribuição para o aprofundamento do movimento estudantil”.
A representante da Confederação de Estudantes do Chile (Confech), Camila Vallejo, também entrou no debate e entregou uma carta a Zalaquett: “Esperamos que você assuma sua responsabilidade com os estudantes e que não lave as mãos dizendo que o assunto escapa de seu alcance. Desligar-se da situação o torna cúmplice da falta de vontade do governo em responder as demandas do movimento estudantil”, afirmou Vallejo.
Ela também rejeitou as desocupações, “pois estão apenas conduzindo para mais violência e repressão às justas demandas que os estudantes fazem por uma educação pública de qualidade e gratuita. Um governo que violenta, por meio da força policial, decisões que são tomadas de maneira democrática, é um governo autoritário”.
Para Camila Vallejo, o incêndio de um carro da equipe de televisão “responde à situação crítica em que estamos vivendo. Convidamos para que façam parte da solução e não para o agravamento do problema. O assunto da violência é uma situação que irá se intensificar e o governo tem que respeitar as decisões que são tomadas democraticamente”, insistiu.
Do Palácio de La Moneda, o ministro porta-voz do governo, Andrés Chadwick, respaldou as desocupações, ao mesmo tempo em que rejeitou o ataque incendiário, expressando “toda a solidariedade” com o canal de televisão atingido. Aproveitou “para rejeitar mais uma vez, e de forma muito categórica, os atos de violência. As ocupações são um ato de violência porque não respeita o direito de acesso à educação dos estudantes por um grupo minoritário”.
Ao final do dia, o prefeito de Santiago pediu segurança policial para os colégios que já foram desocupados. Carabineros informaram que há instruções do alto comando para impedir que os estabelecimentos sejam outra vez ocupados pelos alunos. Apontou-se que seriam cerca de 200 efetivos, destinados a essa tarefa, devido à excessiva violência registrada, deixando claro que dobrar os pinguins não é mais uma operação policialesca.
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Desocupação violenta contra os estudantes chilenos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU