19 Fevereiro 2015
"Hoje, entre os tantos barretes de cor púrpura dos cardeais presentes, aqueles roxos dos bispos, o preto das vestes e complementos da cerimônia, emergia também a cor laranja de dois monges budistas: Pharamaha Thongratana Thavorn, da Tailândia, e outro monge, de Myanmar", escreve Roberto Catalano, jornalista, em artigo publicado por Città Nuova, 16-02-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis o artigo.
Uma página da história da Igreja, de hoje e de amanhã. Um ponto de vista particular sobre o consistório durante o qual o Papa Francisco criou vinte novos cardeais. A relação entre o mons. Francis Xavier, arcebispo de Bangkok, e Pharamaha Thongratana Thavorn (Luz ardente, como o chamou Chiara Lubich), na primeira fila durante a cerimônia.
Recém voltei de uma cerimônia solene, porém sóbria: o Consistório no interior da Basílica de São Pedro. O Papa Francisco criou vinte novos cardeais, quase todos daquela que ele gosta de definir como as periferias do mundo: Cabo Verde, Tonga, Nova Zelândia, Myanmar, Tailândia, Vietnã, mas também Etiópia e, mesmo, Agrigento, naquela Sicilia que há anos acolhe aqueles que chegam das periferias mais trágicas, onde se morre de fome, se luta pela sobrevivência e se arrisca a vida.
Também participei porque particularmente ligado ao Mons. Francis Xavier Kriegsak Kovitghavanij, arcebispo de Bangkok (Tailândia), que conheço há anos e com o qual colaborei em muitos eventos, sobretudo no campo do diálogo inter-religioso e da formação ao diálogo na Tailândia, nas Filipinas e na Itália. O neo-cardeal, há anos, está empenhado em construir pontes de diálogo com monges budistas num País onde os cristãos são quase exatamente em número par aos homens que, seguindo o Buda, se vestem em cor de laranja e se reduzem a zero, caminhando com olhos recatados, inspirando paz e serenidade e vivendo frequentemente das ofertas dos fiéis.
Nas minhas várias viagens à Tailândia tive maneiras de encontrar muitos deles e particularmente, em 2010, em Chiang Mai, no centro-norte do país, vivi momentos inesquecíveis numa convenção entre budistas e cristãos. Entre eles, além do Mons. Francis Xavier, estava presente também Phramaha Thongratana Thavorn, frequentemente conhecido, sobretudo entre os cristãos, como Luz Ardente.
É um monge atualmente pelos setenta que, nos anos noventa, conheceu muitos cristãos abertos a um diálogo entre fiéis de várias religiões e se empenhou em primeira pessoa, tornando-se testemunho entre outros monges e fiéis do budismo no seu país. Ficou particularmente marcado pela figura de Chiara Lubich que ele definiu ‘mãe’ pela sua capacidade de gerar sentimentos positivos de compaixão em todos aqueles que encontrava.
Também com Phramaha Thongratana Thavorn nos conhecíamos há anos. Vivenciamos momentos muito fortes na Tailândia, no Sri Lanka, onde juntos arriscamos a vida – uma bomba suicida explodiu alguns minutos depois que o nosso autobus tinha partido de Moratuwa na periferia de Colombo, a capital -, mas também na Itália, onde construímos e vivemos momentos de partilha profunda, onde a gente se deu conta que a fraternidade universal não é uma quimera, mas pode realmente ser vivida.
Hoje, entre os tantos barretes de cor púrpura dos cardeais presentes, aqueles roxos dos bispos, o preto das vestes e complementos da cerimônia, emergia também a cor laranja de dois monges budistas: Pharamaha Thongratana Thavorn, da Tailândia, e outro monge, de Myanmar. Eles quiseram acompanhar irmãos cristãos que se tornaram cardeais.
Phramaha Thongratana Thavorn, em particular, se encontrava em primeira fila, precisamente ao lado do altar em São Pedro, bem visível, objeto de interesse de fotógrafos, de telecâmeras, de turistas, de cardeais, de embaixadores e de gente comum. Passou entre as pessoas saudando a todos, europeus, fiéis de Tonga, da América Latina, do Vietnã, falando com sua presença e seu sorriso de uma relação de fraternidade com o novo cardeal de seu País.
Sua presença era símbolo de quanto mudou a Igreja. A cinquenta anos do Concílio Vaticano os dois monges budistas acompanharam quase aos pés do altar dois concidadãos e compatriotas que estão agora junto ao Papa Francisco no coração da Igreja, construtores do presente, mas também do futuro nestes anos decisivos para a Igreja católica, para sua relação com fiéis de outras religiões, mas, sobretudo para a humanidade.
Temos caminhado juntos, orado cada um no seu coração e segundo sua fé e convicção religiosa, temos falado entre nós e com dezenas de pessoas, temos compartilhado uma refeição de comemoração num restaurante chinês. E, depois, Luz Ardente acompanhou o seu irmão, o cardeal Francis Xavier Kriengsak Kovithavanij, na aula Paulo VI para aquelas visitas de calor – como são chamadas as visitas que todos podem fazer aos novos cardeais – que levam o povo ao contato com o coração da Igreja.
Reentrei em casa nesta tarde, convencido de ter vivenciado uma página da história da Igreja, de hoje por certo, mas também da dos seus dois milênios e daquela do porvir: uma página que abre horizontes entusiasmantes para aquelas periferias às quais se lança Francisco e onde podemos realmente encontrar homens e mulheres de todas as etnias, culturas, religiões e classes sociais.
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O cardeal e o monge budista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU