Por: Jonas | 22 Março 2012
Uma delegação vaticana do Pontifício Conselho “Justiça e Paz” estará no Vietnã, de 23 de março a 9 de abril, para recolher testemunhos (necessários para a causa de beatificação) sobre a vida e a obra do cardeal Francis Xavier Nguyen Van Thuan, arcebispo vietnamita que passou 13 anos de seu episcopado na prisão, sendo 9 em isolamento. “Os bispos, os fiéis, toda a Igreja no Vietnã – declara à agência Fides, dom Paul Nguyen Thai Hop, bispo de Vinh e presidente da Comissão Justiça e Paz da Conferência Episcopal vietnamita – alimentam muitas esperanças em relação ao êxito no processo de beatificação do nosso amado cardeal Xavier Van Thuan. Ele foi uma pessoa especial, que viveu o Evangelho como único critério de sua vida”.
A reportagem é de Michelangelo Nasça, publicada no sítio Vatican Insider, 20-03-2011. A tradução é do Cepat.
Na ocasião do quinto aniversário da morte de Van Thuan (17 de setembro de 2007), e ao receber a notícia da causa de beatificação, o Papa Bento XVI disse: “O cardeal Van Thuan era um homem de esperança e a difundia entre todos que conheceu. Foi graças a esta energia espiritual que resistiu a todas as dificuldades físicas e morais. A esperança o sustentou como bispo asilado, por 13 anos, de sua comunidade diocesana. A esperança o ajudou a ver, entre o absurdo dos acontecimentos que passou a viver (nunca foi julgado durante sua longa prisão), um plano providencial de Deus [...] O cardeal Van Thuan gostava de repetir que o cristão é o homem de agora, do momento presente, para acolher e viver com o amor de Cristo. Esta capacidade de viver o agora reflete o seu íntimo abandono nas mãos de Deus e a simplicidade evangélica, que todos admiramos nele. Perguntava-se: será possível que quem confia no Pai celeste, logo se negue a deixar-se apertar em seus braços?”.
Foram memoráveis e extraordinariamente emocionantes as 22 meditações sobre a esperança do mundo de hoje, que o cardeal Van Thuan deixou escritas, aceitando o convite de João Paulo II para a pregação dos exercícios espirituais, da Cúria Romana, no ano 2000. “Quando fui preso – conta o bispo vietnamita – tive que ir imediatamente, com as mãos vazias. No dia seguinte, permitiram-me escrever ao meu povo para pedir as coisas mais indispensáveis: roupas, creme dental [...] Escrevi: ‘Por favor, enviem-me um pouco de vinho, como remédio contra problemas de estômago’. Os fiéis entenderam imediatamente. Enviaram-me uma pequena garrafa de vinho para a Missa, com a etiqueta ‘remédio contra problemas de estômago’, e algumas hóstias escondidas [...] Nunca conseguirei expressar minha enorme alegria: cada dia, com três gotas de vinho e uma gota de água na palma da mão, celebrei a missa. Esse era meu altar e essa era minha catedral![...] Tive sempre a oportunidade de estender as mãos e pregar-me na cruz de Jesus, de beber do cálice mais amargo [...] Eram as Missas mais belas de minha vida”.
Francis Xavier Van Thuan, recorda-se que alguns guardas lhe ajudaram a construir uma pequena cruz de madeira e uma corrente, para poder fazer a cruz peitoral, usada pelos bispos. Comovido e agradecido pela disponibilidade oferecida por alguns guardas amigos (e muitos deles converteram-se ao cristianismo), Van Thuan disse ao sair da prisão: “Esta cruz e esta corrente, eu carrego comigo todos os dias, não porque me recordam a prisão, mas porque sinalizam uma convicção própria profunda, uma mensagem incessante para mim: só o amor cristão pode mudar os corações, não as armas, as ameaças e os meios de comunicação. É o amor que prepara o caminho para anunciar o Evangelho. ‘Omnia vincit amor’!”.
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Cardeal Van Thuan. O bispo da esperança poderá ser beatificado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU