07 Janeiro 2015
Dom Johan Bonny, da Diocese de Antuérpia, Bélgica, pede o reconhecimento eclesiástico dos relacionamentos homoafetivos, segundo uma entrevista publicada no jornal belga De Morgen, em 27 de dezembro de 2014.
A reportagem é de John A. Dick, publicada pelo National Catholic Reporter, 30-12-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O ensinamento oficial de que a Igreja Católica somente pode reconhecer as relações afetivas entre homem e mulher precisa mudar, disse o religioso.
“Deveria haver o reconhecimento de uma variedade de formas”, falou Bonny. “Temos que olhar para dentro da Igreja e buscar um reconhecimento formal dos tipos de relacionamento interpessoal dos casais homoafetivos. Assim como há uma variedade de enquadramentos jurídicos para parceiros na sociedade civil, deve-se chegar também a uma variedade de formas na Igreja (...) Os valores intrínsecos são mais importantes para mim do que uma questão institucional. A ética cristã se baseia nos relacionamentos duradouros, onde a exclusividade, a lealdade e o cuidado são centrais”.
Bonny foi tema das manchetes no mês de setembro, quando publicou uma carta ao Vaticano em preparação para o Sínodo dos Bispos sobre a família, ocorrido em outubro. Na época, ele sublinhou que a Igreja necessita, urgentemente, se conectar com a sociedade contemporânea e mostrar um maior respeito pela homossexualidade, pelos divorciados e tipos modernos de relacionamentos.
“Na vida de cada um e cada uma”, disse, “todos têm que lidar com relacionamentos, amizades, família e educação dos filhos. Não devemos negar que a maneira como lidamos com estas questões dentro da Igreja acabou causando feridas e traumas. Por muito tempo, muitíssimas pessoas foram excluídas”.
Bonny disse que o espírito “mente aberta” e o foco pastoral do Papa Francisco deram-lhe a coragem para falar francamente sobre estas questões, que são importantes e urgentes aos fiéis da atualidade.
Será que a Igreja vai, em algum momento, dar a bênção a gays e lésbicas?
“Pessoalmente, na Igreja acho que mais espaço deva ser dado para o reconhecimento da qualidade real das pessoas gays e lésbicas; e uma tal forma de vida partilhada deveria encontrar o mesmo critério encontrado num casamento eclesiástico”, declarou Bonny. “Temos de reconhecer que um tal critério pode ser encontrado numa diversidade de relacionamentos e que se precisa passar, por variados modelos, para dar-se forma a tais relacionamentos”.
Bonny destacou que o relacionamento entre homem e mulher tem um lugar especial na tradição cristã. “Este relacionamento irá continuar a manter o seu caráter sacramental particular e sua forma litúrgica”, acrescentou.
“Esta particularidade, porém, não tem de ser exclusiva nem precisa fechar as portas para uma diversidade de relacionamentos cujas qualidades interiores podem ser reconhecidas pela Igreja”.
“Aliás, precisamos buscar um reconhecimento formal do tipo de relacionamento que existe entre muitas pessoas gays e lésbicas”, disse. Este reconhecimento tem que ser um casamento sacramental? Talvez a Igreja possa muito melhor refletir sobre uma diversidade de formas de relacionamentos. Na Bélgica há o mesmo tipo de debate sobre as uniões civis: o mesmo modelo (para casamentos civis) existe para as relações homem/mulher bem como para as relações homoafetivas”.
Mais adiante, na entrevista, Bonny destacou a abertura e necessidade de se estabelecer uma reflexão mais aprofundada; aludiu também ao perigo de se acabar caindo numa discussão ideológica complexa. Ressaltou também que é um forte defensor de se reconhecer a diversidade dos relacionamentos, postura que resulta de uma reflexão séria sobre a realidades práticas pastorais.
O professor Rik Torfs, especialista em Direito Canônico e reitor da Universidade Católica de Louvain, advertiu que não se deve minimizar o enfoque deste bispo.
“Não subestimem a significação deste momento”, falou. “Bonny defende uma mudança nos princípios há muito mantidos como intocáveis, algo que nenhum bispo poderia ter feito sob os pontificados dogmáticos dos papas João Paulo II e Bento XVI”.
Bonny possui doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma. Em 1997, o Cardeal Godfried Danneels e os bispos belgas nomearam-no reitor da Colégio Belga, em Roma; em 2008, foi nomeado bispo de Antuérpia. A maioria dos analistas o veem como o próximo arcebispo (e cardeal) da Arquidiocese de Malines-Bruxelas, depois que o incumbente, Dom André-Joseph Léonard, oferecer ao papa a sua carta de renúncia em maio, quando completará 75 anos.
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Bispo belga defende o reconhecimento dos relacionamentos homoafetivos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU