Por: Ana Paula Abranoski | 15 Agosto 2020
Com o tema Juventudes e Racismo Estrutural: como resistir e construir uma nova história?, o CEPAT, em parceria com os Colégios Estaduais Santos Dumont e Vitor do Amaral, de Curitiba, Paraná, e com o apoio do Núcleo de Direitos Humanos da PUCPR, Instituto Humanitas Unisinos – IHU e Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida - OLMA, promoveu um momento de debate e reflexão, com expressões artísticas de jovens da periferia, que manifestaram sua visão de mundo, do cotidiano, em um ato de resistência e denúncia. O encontro online faz parte da série de vivências debates Juventudes, Democracia e Direitos Humanos.
Para fortalecer o debate, contamos com a participação de uma das principais vozes do empoderamento da mulher negra do Brasil, Eliane Dias, nascida na periferia de São Paulo, advogada, militante feminista, escritora, produtora cultural e empresária do Racionais MC’s.
Dias iniciou o encontro reforçando que o racismo é um tema ácido, mas necessário. Lamentou o fato de ainda hoje a juventude negra ter que viver seus anos dourados com essa carga de responsabilidade, tendo que enfrentar o genocídio, a violação de direitos, o desrespeito, etc.
Viviane Matos e Eliane Dias no encontro [online]. (Foto: Ana Paula Abranoski)
Como pano de fundo da conversa, esteve presente o considerável aumento de casos de discriminação racial em todo o mundo, como o recente caso da juíza Inês Marchalek Zarpelon, da 1ª Vara Criminal da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, que utilizou em sua sentença o elemento da raça entre as justificativas para a sua decisão acerca da condenação de um homem negro.
A partir de sua própria trajetória de vida, Dias trouxe elementos sobre como enfrentar o racismo no Brasil. Reconhece que a vida não é fácil para quem nasce mulher, negra e pobre, mas em nenhum momento se lamenta por causa disso. Pelo contrário, isso só lhe dá mais força para seguir em frente e se manter na luta.
Considera que não podemos deixar a pauta do racismo passar desapercebida e que direitos sejam violados por causa do mesmo. Temos que continuar na luta e promovermos cada vez mais espaço para discutir esse tema e levar aos jovens a expectativa de esperança, de mostrar que é possível superar as desigualdades sociais, principalmente através da educação e do protagonismo político.
A educação e o protagonismo político devem ser o ponto central dessa mudança. Isso passa pela decisão do Estado em garantir orçamento público, passa pelas políticas sociais que promovam as crianças, os adolescentes e os jovens negros por meio da Educação de qualidade e acessível a todos, combatendo qualquer tipo de desigualdade, preconceito e discriminação. A escola e o professor possuem o papel de incentivadores dos alunos para que eles possam olhar as possibilidades de mudança em sua vida e na sociedade.
Quando perguntada a respeito de qual foi sua maior barreira para conquistar seus objetivos, Eliane Dias falou da sua luta para se formar em direito, das barreiras que precisou enfrentar durante a sua formação, frente às dificuldades que surgem na caminhada da população negra.
Eliane Dias também enalteceu as iniciativas de jovens que agem na realidade de seus territórios, por exemplo, com as manifestações culturais. Nesse sentido, durante o debate, tivemos algumas participações especiais de jovens artistas da periferia de Curitiba.
Em uma atmosfera de esperança, Eliane Dias se despediu com a clara mensagem de que não haverá ambiente para a conquista da justiça social, enquanto o racismo não for definitivamente vencido. É preciso ser resistência a partir de decisões simples do cotidiano, mas que são muito importantes para mudar histórias de vida.
Eis a íntegra da exposição e debate.
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Racismo estrutural e resistência juvenil. Um bate-papo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU