Segundo o pesquisador, “cada vez mais, trabalhadores com ensino superior ocupam posições no mercado de trabalho que não requerem essa credencial”
Há uma máxima de que é preciso estudar para assegurar o futuro. No entanto, uma pesquisa realizada pelo IDados, sob a coordenação de Guilherme Hirata, revela que nem sempre isso acontece. Dados mostram que muitos jovens que buscam formação profissional estão em empregos ou ocupações aquém daquilo para o qual se qualificaram. São os chamados sobre-educados. “No 2º trimestre de 2022, cerca de 8,5 milhões de trabalhadores estavam nessa condição (ou 41%)”, indica Hirata, em entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
O pesquisador ainda explica que “o sobre-educado gostaria de exercer uma função adequada ao seu nível de escolaridade”. E esse jovem não consegue isso pela fragilidade em dois pilares que levam a esse cenário. O primeiro é relacionado ao próprio mercado de trabalho. “Não estamos sendo capazes de gerar postos de trabalho qualificados em número suficiente para absorver a oferta de mão de obra”, aponta. Isso pode ser tanto por fragilidade no planejamento e desenvolvimento do mercado, pela falta de crescimento e políticas econômicas adequadas, quanto por momentos conjunturais recessivos.
Outro ponto diz respeito à formação. Hirata explica que as universidades têm grande papel nisso e por isso devem zelar pela boa formação, uma vez que só o diploma na mão não assegura empregabilidade. Mas isso não é tudo, pois, segundo ele, nossas fragilidades já se encontram na formação mais elementar. “Grande parte dos alunos chega ao fim do 3º ano do ensino fundamental sem saber ler nem escrever. Já os dados do PISA mostram que mesmo nossos melhores alunos (em sua maioria, de escolas privadas) obtêm desempenho parecido com a média dos alunos da OCDE”, exemplifica.
Assim, quando questionados sobre caminhos para reduzir o número de sobre-educados, Hirata é taxativo: “o primeiro passo é melhorar a formação básica”. Depois, é preciso pensar quais caminhos de desenvolvimento seguir. “Cada vez mais a área de formação específica de um trabalhador será menos relevante. O que deve importar é o nível de conhecimento específico das tarefas que terá que executar, que podem ser de diferentes áreas do conhecimento”, indica.
Guilherme Hirata (Foto: Arquivo pessoal)
Guilherme Hirata é pesquisador do IDados, serviço de pesquisas e consultoria. Possui graduação em Economia pela Universidade de São Paulo – USP, mestrado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG e doutorado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio.
IHU – Quem são os sobre-educados? O que o desemprego dessa mão de obra qualificada revela sobre o momento do país?
Guilherme Hirata – Basicamente, o sobre-educado seria aquele trabalhador que possui mais qualificação do que o requerido pela ocupação, função ou cargo que exerce. Em geral, quando se pensa em sobre-educação, faz-se referência ao trabalhador com ensino superior exercendo alguma atividade que requer somente o Ensino Médio. Porém, embora seja menos comum, também pode ser considerado sobre-educado o trabalhador que tem o Ensino Médio completo e está inserido em ocupação que requer somente o Ensino Fundamental para exercê-la.
Sobre-educação é um conceito relativo. Um mesmo indivíduo pode ser sobre-educado para uma ocupação, mas não ser sobre-educado em relação a outra ocupação. Repare ainda que, a rigor, sobre-educação não é tão simples de medir, já que uma credencial (diplomas, por exemplo) não necessariamente atesta a qualidade do trabalhador. Assim, um indivíduo sobre-educado não necessariamente representa uma mão de obra qualificada.
Dito isso, certamente há indivíduos qualificados que estão desempregados, uns há mais tempo, outros há menos tempo. Considerando a mão de obra mais qualificada como sendo aquela que possui ao menos o ensino superior completo, historicamente a taxa de desemprego para esse grupo populacional é menor, relativamente ao grupo de pessoas com menos escolaridade. O nível de desemprego para todos os grupos de escolaridade flutua com a conjuntura econômica, mas, em geral, independentemente da conjuntura econômica, os mais escolarizados tendem a sofrer menos com o desemprego.
IHU – Segundo um levantamento que o senhor produziu junto ao IDados, qual é o número e o perfil dos sobre-educados atuais?
Guilherme Hirata – Esse levantamento calcula, para trabalhadores com 25 anos ou mais de idade e que possuem ensino superior completo, a porcentagem inserida em ocupações que requerem essa qualificação.
Fonte: IDados.
O dado mostra que a porcentagem tem caído continuamente na última década, de pouco mais de 67% no primeiro trimestre de 2012 para 59% no 2º trimestre de 2022. Ou seja, cada vez mais, trabalhadores com ensino superior ocupam posições no mercado de trabalho que não requerem essa credencial. Em termos quantitativos, no 2º trimestre de 2022, cerca de 8,5 milhões de trabalhadores estavam nessa condição (ou 41%).
IHU – Como podemos explicar esse índice?
Guilherme Hirata – São vários os fatores que poderiam influenciar esse cenário. O primeiro seria que a conclusão do ensino superior pode não ser uma boa forma de medir a qualidade da mão de obra, tendo em vista que algumas faculdades não oferecem cursos de boa qualidade. Assim, é possível que parte dos trabalhadores com curso superior inseridos em ocupações de nível médio não sejam sobre-educados em termos de qualidade de mão de obra.
Se for esse o caso, a quantidade de sobre-educados estaria superestimada. Para se ter uma ideia mais concreta, basta olhar os dados do PISA (uma avaliação internacional de estudantes de 15 anos de idade) e verificar que menos de 0,3% dos alunos brasileiros (aí incluídos aqueles que frequentam escola particular) podem ser considerados como sendo alunos de alto desempenho.
Um segundo fator seria nossa incapacidade de gerar postos de trabalho qualificado na mesma velocidade em que se aumenta a oferta de trabalhadores com ensino superior. Isso tem a ver com questões estruturais da nossa economia, como a informalidade, a burocracia que impede a abertura de firmas em tempo razoável ou mesmo o intricado sistema tributário que gera um alto custo para as firmas.
Associado a essa incapacidade de gerar os postos de trabalho está a escolha da área de formação. Algumas áreas podem estar saturadas e/ou ter historicamente baixa demanda, o que dificulta encontrar inserção nelas, levando o trabalhador a buscar alternativas. Se a conclusão do ensino superior coincidir com períodos recessivos, o resultado pode ser ainda pior, pois estudos mostram que ingressar no mercado de trabalho durante uma recessão têm efeitos negativos até no longo prazo.
Além disso, com a expansão do ensino superior nos anos 2000, é comum alunos cursarem a faculdade e se formarem enquanto trabalham, basta ver a quantidade de cursos noturnos oferecidos pelas faculdades. Muitos desses trabalhadores acabam não encontrando uma oportunidade melhor mesmo depois de formados e continuam nas ocupações que exerciam antes de se formar por algum tempo.
Pode haver outros fatores que influenciam em maior ou menor grau a trajetória, mas não parece ser o caso de ser um fator conjuntural, dado que, embora tenha havido períodos de crescimento e recessão desde 2012, a tendência de aumento na porcentagem de sobre-educados não se alterou.
IHU – Esses são os maiores índices de sobre-educados que tivemos?
Guilherme Hirata – Desde 2012, início da série história da Pnad Contínua do IBGE, de acordo com os dados mais recentes que tenho (2º trimestre de 2022), o ano de 2022 foi o ano com a maior porcentagem de trabalhadores com ensino superior inseridos em ocupação de nível médio ou menos. E não há sinais de reversão.
IHU – Há bastante tempo, pesquisas têm apresentado dados e revelado preocupações quanto aos jovens que não trabalham, não estudam e nem procuram emprego, os nem-nem-nem. Que aproximações e dissociações podemos fazer entre esse perfil de jovem e os jovens sobre-educados?
Guilherme Hirata – Não tenho os números exatos, mas parte desses jovens nem-nem-nem possuem ensino superior completo. Nesse sentido, talvez uma característica comum seja a existência de um certo sentimento de frustração. O sobre-educado gostaria de exercer uma função adequada ao seu nível de escolaridade, e o mesmo ocorre com o jovem que já concluiu a faculdade e desistiu de procurar emprego por não encontrar uma vaga que considera compatível com sua qualificação.
Seria interessante ter dados para estudar esse tema – o socioemocional – mais a fundo. Isso ajudaria a entender também as diferenças. O que diferencia aqueles que buscam alternativas no mercado de trabalho daqueles que desistem de procurar emprego? Há diferenças nas características pessoais – sejam cognitivas, sejam socioemocionais – ou seria algo mais associado às condições do mercado de trabalho local, onde os trabalhadores procuram emprego? São perguntas para as quais ainda temos poucas respostas.
IHU – Quais são as profissões com maior número de sobre-educados?
Guilherme Hirata – Infelizmente, não conheço estudos rigorosos que tragam essa informação. Em parte, isso ocorre porque não há informação suficiente e porque o acesso a dados é restrito. O cenário ideal seria aquele em que soubéssemos a área de formação de todos os trabalhadores. Mas essa informação em geral não é coletada nas pesquisas domiciliares.
Restaria ao pesquisador cruzar dados de diferentes fontes, como a RAIS do (antigo) Ministério da Economia e o censo da educação superior, do Inep/MEC. Ocorre que, como o acesso aos dados envolve informações sigilosas (nome e CPF), o acesso é restrito. Algumas instituições e/ou pesquisadores têm permissão para acessar, outros não; há todo um trâmite legal para isso.
Aproveito a oportunidade, se me permitem, de fazer um apelo às autoridades competentes para que encontrem uma forma mais democrática de acesso aos dados coletados pelas instituições públicas, ainda que com todos os cuidados para preservar a confidencialidade da informação. Uma sugestão, por exemplo, seria o governo disponibilizar uma base de dados em que o cruzamento das diversas fontes de dados já tivesse sido feito. Nesse caso, o pesquisador não teria acesso a dados confidenciais, como ocorre hoje em alguns casos.
Isso traria um ganho de eficiência enorme, já que o cruzamento dos dados seria feito somente uma vez, ao invés de cada pesquisador com acesso a dados restritos ter que fazer o seu próprio cruzamento. Com isso, a informação estaria disponível a todos os interessados, como ocorre com os dados das pesquisas domiciliares do IBGE, por exemplo, permitindo que perguntas com esta sejam mais facilmente respondidas.
IHU – Nos governos de Lula e Dilma Rousseff, em tempos do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, ouvia-se que o Brasil precisava de engenheiros. Hoje, um grande contingente de jovens que foram para as engenharias não exerce a profissão ou está desempregado. O que isso revela? Como compreender esse cenário?
Guilherme Hirata – Não estou a par de algum estudo rigoroso sobre a falta de mão de obra, em qualquer área, seja daquela época, seja dos dias atuais, até porque não é uma tarefa simples de fazer. Também não tenho dados sobre em quais áreas de formação há mais desempregados. Mas, tomando isso como verdade, como dito anteriormente, não estamos sendo capazes de gerar postos de trabalho qualificados em número suficiente para absorver a oferta de mão de obra.
Desde 2014, passamos por períodos recessivos intercalados com outros de baixo crescimento. Isso não alterou a trajetória da porcentagem de trabalhadores com ensino superior inseridos em ocupações de ensino médio ou menos. Não podemos descartar, por outro lado, a possibilidade de haver um excesso de oferta em algumas áreas.
Se pensarmos no caso de professores da educação básica, por exemplo, e, mais especificamente, nos anos iniciais, a demanda por esses professores deve diminuir nas próximas décadas devido à redução da taxa de natalidade que mexeu com a nossa pirâmide etária. Ainda assim, há muita demanda por cursos de pedagogia – que formam os futuros professores –, em grande parte devido à expansão dos cursos a distância. Isso vai gerar um excesso de oferta nessa área, se é que já não existe.
Por fim, vale lembrar que, devido às transformações no mercado de trabalho – resultado de inovações, novas tecnologias, automação etc. –, é bem possível que os futuros profissionais tenham que ser mais versáteis e consigam efetuar diferentes tarefas. Nesse sentido, cada vez mais a área de formação específica de um trabalhador será menos relevante, supondo que os cursos se mantenham no mesmo formato como o conhecemos. O que deve importar é o nível de conhecimento específico das tarefas que terá que executar, que podem ser de diferentes áreas do saber.
IHU – Da mesma forma, hoje se fala que as profissões da área da tecnologia da informação são o futuro para quem quer garantir um bom emprego. Não corremos o risco de repetir a mesma história dos engenheiros?
Guilherme Hirata – Entendo que o Brasil ainda precisa de engenheiros, basta olhar nossa infraestrutura. Estamos muito distantes daquilo que existe em países desenvolvidos; há espaço para melhorias. Então, chegará o momento em que a demanda por engenheiros voltará a aumentar. O ponto é que não estamos sendo capazes de gerar as condições mínimas para assegurar o investimento. Por exemplo, a grande questão no início deste ano é o compromisso do novo governo com o equilíbrio fiscal. Mas esta é uma condição sine qua non, nem deveria estar na pauta, pois sem equilíbrio fiscal nenhuma economia deslancha. Enquanto isso não for resolvido, não vejo como o cenário possa ser alterado.
Dito isso, é curioso o caso da área de TI. Considerando a grande área de Ciências, Matemática e Computação, ela foi a única área em que houve redução no número de concluintes entre 2009 e 2019. Isso sugere que o mercado está superaquecido, já que os trabalhadores da área ingressam no mercado de trabalho antes de se formar.
(Foto: IDados)
IHU – Que caminhos um país deve seguir para formar e assegurar a empregabilidade para jovens que fazem ensino superior ou cursos técnicos profissionalizantes, indivíduos com mão de obra qualificada?
Guilherme Hirata – Do lado da formação, e pensando no longo prazo, o primeiro passo é melhorar a formação básica. Por exemplo, grande parte dos alunos chega ao fim do 3º ano do ensino fundamental sem saber ler nem escrever. Já os dados do PISA mostram que mesmo nossos melhores alunos (em sua maioria, de escolas privadas) obtêm desempenho parecido com a média dos alunos da OCDE.
Isso indica que o nível de qualidade da educação brasileira não é adequado. A precariedade na formação básica prejudica a formação do profissional e, consequentemente, sua capacidade de competir no mercado de trabalho. A partir daí, cabe ao Estado e à sociedade prover, quando for o caso, e fiscalizar a qualidade do ensino profissionalizante e superior dentro de suas competências e possibilidades. O objetivo é assegurar que, com mais educação, haja aumento de produtividade dos indivíduos, e isso infelizmente não vem acontecendo há anos.
Por si só, uma boa formação pode não garantir empregos, porque isso depende também de outros fatores, como a conjuntura econômica.
IHU – E como investir na geração de empregos para mão de obra qualificada sem esquecer os menos qualificados?
Guilherme Hirata – Esse é o outro lado da moeda. Assegurar que os jovens sejam bem formados não significa que haverá empregos para eles. Aqui entra a questão do crescimento econômico, das condições mínimas para haver investimento e tudo aquilo que mencionei antes. Sem investimento não há crescimento, sem crescimento não há empregos, sejam eles qualificados ou não. A questão do emprego para os menos qualificados é delicada.
De fato, há uma tendência mundial de redução desses empregos, que geralmente estão associados a tarefas mais repetitivas e manuais que podem ser executadas por robôs. A literatura sobre o tema está avançando, mas ainda não há soluções claras, e podem depender de cada contexto.
Por exemplo, a maior parte da literatura refere-se a países desenvolvidos, mas no Brasil temos uma alta taxa de informalidade que não existe naqueles países, o que deve influenciar as soluções. Em princípio, como muitos postos de trabalho ocupados por trabalhadores menos qualificados correm o risco de desaparecer, um possível caminho é o treinamento da mão de obra visando um reposicionamento desses trabalhadores para outras ocupações e/ou para executar outras tarefas.
IHU – Olhando os números relativos aos sobre-educados, podemos considerar que se investiu demais em ensino superior no Brasil sem a preocupação com o futuro dos jovens no mercado de trabalho?
Guilherme Hirata – Do ponto de vista do indivíduo, o prêmio salarial por ter curso superior ainda é bastante elevado no Brasil, apesar de ter caído um pouco nos últimos anos. A taxa de desemprego para quem concluiu o ensino superior é mais baixa. A chance de estar no mercado de trabalho formal é maior. Portanto, na média, é melhor ter concluído uma faculdade do que não ter concluído. Mas é claro que isso não é uma relação determinística, de modo que há pessoas formadas que não vão bem no mercado de trabalho.
Isso pode ter a ver com a formação, mas pode ser resultado também de outros fatores, como habilidades cognitivas e socioemocionais e a conjuntura econômica. A decisão de investir em ensino superior é compartilhada pelos indivíduos, governo e sociedade. Claramente havia uma demanda reprimida por mais educação, haja vista a rápida expansão das matrículas no ensino superior nos anos 2000. Isso é natural, dado o prêmio salarial. Mas a grande questão é a qualidade. Havia condições para tal expansão do lado da oferta – infraestrutura, professores, gestão? Os alunos estavam preparados para os desafios? Aqui voltamos ao ponto que mencionei anteriormente sobre como medir a sobre-educação.
Parte dos trabalhadores com ensino superior talvez não tenha condições de exercer funções que requerem este nível de qualificação. Por outro lado, para parte dos sobre-educados, isso pode ser um período de transição à espera de uma boa oportunidade. Einstein sempre foi Einstein, mas houve uma época em que trabalhou em um escritório de patentes, realizando tarefas pouco interessantes. Assim, além da qualidade técnica, outras características são importantes para um bom profissional, como resiliência. São características que, ainda que não estejam explícitas em um diploma, são valorizadas no mercado de trabalho.
IHU – Qual o papel das universidades nesse contexto de sobre-educados? Em que medida a formação universitária poderia minimizar essa realidade?
Guilherme Hirata – Na média, um aluno bem formado encontra um lugar compatível com suas habilidades no mercado de trabalho. O sucesso de um indivíduo no mercado de trabalho, contudo, não depende apenas de sua formação.
Nesse sentido, cabe às universidades fazer sua parte, ou seja, zelar pelo cumprimento adequado de todas as fases que envolvem a formação de um profissional, desde o processo seletivo, passando pela formação, garantindo a qualidade da infraestrutura e do corpo docente e prover integração com o mercado de trabalho para permitir alguma experiência. As universidades precisam garantir o aumento da produtividade dos alunos.
IHU – Imaginemos que um jovem, agora em 2023, está ingressando no Ensino Médio e que lhe faz a seguinte pergunta: “como posso construir minha trajetória visando o mercado de trabalho no futuro e que caminho devo trilhar?” O que o senhor diria a ele?
Guilherme Hirata – No início do Ensino Médio, algumas preferências já estão cristalizadas. O aluno sabe se gosta mais de Matemática ou de História, para ficar no exemplo mais comum de antagonismo (aqueles que gostam dos dois têm grande chance de parar no curso de Economia!). Mais complicado é saber em que área cada um tem mais habilidade. Por isso é importante se desafiar, explorar diferentes áreas de estudo, conhecer e testar seus limites, experimentar frustrações e aprender a seguir adiante, tentar descobrir onde se adapta melhor.
É claro que explorar tudo isso pode ser limitado pelas condições socioeconômicas da família. Aqui entra o papel do Estado na provisão dos serviços necessários para que o aluno atinja seu potencial, já que é do interesse da sociedade não desperdiçar talentos.
IHU – Como analisa os primeiros movimentos do novo governo relativos a geração de emprego e investimentos em educação?
Guilherme Hirata – É cedo para analisar, não há nada de concreto ainda, apenas discursos que podem ou não refletir o que será realizado na prática. Apesar disso, é animadora a sinalização de que haverá uma preocupação maior com a educação básica. A população está envelhecendo rapidamente, e haverá disputa de recursos e investimentos entre as gerações. Precisamos com urgência resolver o problema da baixa produtividade do trabalhador brasileiro, e isso não será feito sem melhorar a formação básica.